Artigo: Urbanidade e complacência, por Sérgio da Costa Franco

É raro que se possa elogiar programas publicitários ou educativos da iniciativa dos poderes públicos, tantas são hoje as campanhas meramente eleitoreiras, feitas sem o sentido de educar ou de orientar em rumo correto, mas apenas com o fito de seduzir os incautos e de atrair votantes. Não parece ser este o caso dessa campanha, agora iniciada pela prefeitura de Porto Alegre, para difundir o princípio de respeito às faixas de segurança para pedestres. É das iniciativas mais simpáticas que um governo municipal poderia tomar. Precisávamos disso.

A prepotência, quase generalizada, dos condutores de automóveis (já nem falo dos motociclistas que se consideram acima do bem e do mal) gera para o miserável pedestre porto-alegrense uma situação de insegurança, de opressão e de angústia. Ainda uma semana atrás, quando atravessávamos a Avenida Edvaldo Pereira Paiva sobre a faixa zebrada, o impaciente condutor de um Corolla prateado fincou a mão na buzina para apressar-nos o passo. Relembramos, então, o que nos contam os frequentadores de cidades civilizadas: que mal colocam o pé sobre a faixa de segurança e os condutores detêm a marcha de seus carros, respeitando a preferência do transeunte. Nunca fizemos turismo fora do Brasil, de modo que, nessa matéria, falamos e escrevemos por ouvir dizer. Entretanto, testemunhamos essa conduta dos motoristas em nossa aprazível Gramado, onde se gerou uma cultura de respeito aos direitos do pedestre, que não se vê noutros lugares. Mas não se trata de nenhum refinamento afidalgado. Trata-se apenas de uma coisa simples e elementar: mais do que respeito a regras legais, o princípio da urbanidade.

O viver em cidades, em grandes aglomerados de gente, exigiu a adoção de comportamentos novos, em matéria de respeito recíproco. Daí o que se chama de qualidade do urbano, de urbanidade. Os dicionários também falam de afabilidade e de cortesia como sinônimos de urbanidade. Não chegamos a tanto. O ser afável e cortês com nossos vizinhos e com o próximo é virtude das melhores para o viver em cidades. Mas não chega a ser uma obrigação. E a aspereza da vida nas metrópoles quase dinamitou a cortesia, talvez mais praticada hoje nas áreas rurais do que no meio urbano.

A campanha educativa da prefeitura de Porto Alegre, se tiver apoio popular e continuidade, há de concorrer, não só para aumentar a segurança das vidas, como para difundir salutares princípios de urbanidade. E disso estamos muito precisados, não só nas ruas, como também nas escolas, nas repartições públicas, nas assembleias populares, nas salas de espetáculos.

Alguém poderia falar em urbanidade para esses jovens que invadiram nossa Assembleia Legislativa a título de protesto, causando danos, sujando assoalhos e corredores e até procurando intimidar parlamentares. É verdade, como dizia o caboclo Riobaldo, de Guimarães Rosa, que “mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir”. Mas algumas lições de comportamento urbano não fariam mal a esses moços que confundem inconformismo político e protesto com agressividade, desrespeito ao antagonista e vandalismo. Tudo isso, lamentavelmente, é alimentado pela complacência dos demagogos, muitos deles com passado de desordeiros e até de terroristas, hoje ocupando postos de responsabilidade na administração pública. Daí a equívoca atitude de tolerar e permitir as invasões, as depredações e os saques em que se notabilizou o MST, sem mínimas providências de repressão. A título de respeitar liberdades democráticas, desmoralizam e comprometem o Estado de direito.

ZH



Categorias:Meios de Transporte / Trânsito, Opinião

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