O Centro entrando numa nova era

Restaurante do Centro Histórico de Porto Alegre vai estreitar relações com a clientela, diz Meneghetti

Petisqueira do Centro Histórico, com decoração alusiva à história da cidade

Foto: Fredy Vieira/JC

A Petiskeira vai inverter o fluxo dos negócios de restaurante com refeição rápida. O modelo, que atraiu diversas empresas brasileiras – em especial as paulistas – para o Estado, será agora exportado para São Paulo por uma gaúcha. O sócio-diretor da empresa, Ângelo José Meneghetti, revela que a meta é pisar na maior metrópole brasileira em dois ou três anos. Para isso, começa a buscar ponto, preferencialmente em shopping center. Já há negociação em andamento, mas Meneghetti, administrador de empresas, economista e principal gestor do empreendimento que uniu pais e irmãos há 25 anos, prefere fazer segredo. Para não chamar a atenção de concorrentes. Na capital paulista, o sócio-diretor espera ter sucesso com o mesmo cardápio local, e com preços competitivos. Recentemente, a marca rompeu uma barreira dentro de casa, ao abrir no Centro Histórico de Porto Alegre a sexta filial, o que impõe estratégia para gerar hábito como almoçar aos domingos na região ou fazer happy hour. No final do ano, a Petiskeira chega a Canoas e em 2011 pode subir a Serra, até Caxias do Sul.

  • JC Empresas & Negócios – A operação no Centro atende às expectativas?

Ângelo Meneghetti – Está dentro do esperado, com maior fluxo no almoço, que soma 500 refeições. A casa lota, com fila de espera. Durante a tarde, tem como atração o café. E o happy hour já está ocorrendo. Domingo é o mais fraco, quando cai para 50 almoços.

  • Empresas & Negócios – Isso não assusta?

Meneghetti – Nem um pouquinho e podemos reverter facilmente, mas já prevíamos esta situação. Temos cartas na manga, um plano B para estes períodos de baixa. No sábado ou domingo, ou só neste último, vamos criar um espaço para as crianças, transformando a vinda ao Centro num momento família. Terá recreacionista, videogame etc. Tudo será instalado no deck, possivelmente em maio. Não temos nada igual nas demais filiais.

  • Empresas & Negócios – Que perfil de público vocês querem atrair? O que vai a shopping center?

Meneghetti – Todos, incluindo o do Centro e que vai ao Gasômetro. E quem quer lugar agradável, com áreas amplas e aconchegantes. Por que os pais não trariam os filhos para cá? Já passamos por isso até em shopping center. Os domingos não tinham movimento. Hoje é o segundo melhor dia. As pessoas estão mais despreocupadas e gastam mais. O tíquete médio chega a ser 20% maior.

  • Empresas & Negócios – Há barreira a ser derrubada?

Meneghetti – O Centro é o problema. A palavra remete a lembranças ruins, de decadência, de insegurança, de comércio antiquado, falta de limpeza. Mas isso está mudando, a Praça da Alfândega está em reforma. O Mercado Público e o Chalé da Praça XV seguirão o mesmo caminho. Depois que entramos, outras operações já estabelecidas estão se mexendo para melhorar. Leva tempo, mas o Centro já começou a revigorar.

  • Empresas & Negócios – Por que demorou tanto tempo para vir ao Centro?

Meneghetti – Buscamos um ponto por dois anos. Era o momento, pois estamos em expansão da marca, que hoje é mais conhecida. Se não fazemos, deixamos espaço para outros fazerem.

  • Empresas & Negócios – Negócio com alimentação dá certo em qualquer lugar?

Meneghetti – Tem de criar algo diferenciado. Foi o que fizemos, com uma loja que lança um padrão. Comida se encontra em todo lugar. Nossa proposta de restaurante é que refeição seja momento também de prazer. Por isso, o ambiente, a decoração, cadeiras e sofás, café e televisão.

  • Empresas & Negócios – O público que vocês buscam está nos shoppings?

Meneghetti – Muita gente saía do Centro para comer nos centros comerciais. O público estava ávido por uma operação como a nossa. Cabe mais uma Petiskeira na região. Um modelo um pouco menor.

  • Empresas & Negócios – O perfil da refeição nos shoppings não está mudando?

Meneghetti – Cada vez se fortalece mais as opções de lazer e entretenimento, o que inclui gastronomia. Só levar as pessoas para consumir não é mais suficiente. Deve incluir outros atrativos, do cinema aos serviços e alimentação. Os empreendimentos de Porto Alegre têm esta face bem desenvolvida, mais do que em outros estados. O público busca segurança e conforto, o que pretendemos aliar no Centro.

  • Empresas & Negócios – É seguro à noite?

Meneghetti – Até hoje não tivemos nenhum problema. Zero. Temos um sistema de monitoramento com câmeras bem sofisticado. Para reforçar o fluxo noturno, teremos promoções com descontos. O café também está dando muito certo.

  • Empresas & Negócios – Como reage a concorrência do entorno?

Meneghetti – Já tem burburinho de melhorias em outros restaurantes. Muitos estão acomodados. A concorrência faz as pessoas se mexerem. A concorrência é saudável. Há comentários de que alguns lojistas vão “mexer” na estrutura.

  • Empresas & Negócios – O que determina o êxito de uma operação em gastronomia?

Meneghetti – Só cresce quem sabe fazer direito. É mito dizer que gastronomia sempre está bem. Está em alta quando a economia vai bem, e em baixa quando há crise. Mas hoje é imperativo ser profissional, o que inclui ter boa gestão, boa equipe de recursos humanos e pessoal multidisciplinar. Nossa operação hoje é mais sofisticada tecnicamente na cozinha, no treinamento dos funcionários e com muita informatização.

  • Empresas & Negócios – Como o cliente percebe essas inovações?

Meneghetti – Não transfiro para ele as minhas incompetências, como muitos fazem. Ante margens em baixa, a saída é aumentar preço. Buscamos o preço justo. Temos cozinha central para processamento de carnes e molhos, onde atuam 40 pessoas. Todas as lojas recebem os produtos com mesmo padrão. A carne tem o mesmo peso, o molho tem mesmo sabor e consistência. Isso ajuda a controlar custos. O cliente também está mais satisfeito, pois pode comer em uma loja hoje e em outra amanhã e não tem diferença.

  • Empresas & Negócios – Como será a expansão daqui para frente?

Meneghetti – Inauguramos a primeira filial fora da Capital em novembro, no Canoas Shopping. Na Capital, há espaço para mais operações. Estamos negociando com o Bourbon Wallig (o shopping do grupo Zaffari deve abrir no segundo semestre de 2011). Temos proposta para ir a Caxias do Sul, mas devemos deixar para o próximo ano. Temos propostas e sondagens em São Paulo, um mercado que é a cara da Petiskeira. O paulista tem o hábito de comer fora, tem pressa e gosta de comer refeição e não lanche. O segmento de restaurantes da capital paulista pratica preço maior que o do gaúcho. Com a nossa eficiência na gestão, acreditamos que conseguimos ter preço competitivo. Mais baixo que o deles… Tem todos os custos, desde locação, mercadorias, mão de obra.

  • Empresas & Negócios – Já está decidido que a rede vai se instalar em São Paulo?

Meneghetti – É o futuro. Já estou preparando sucessores. Meu filho de 18 anos. Não acredito que a operação seguirá modelo de franquia, pois é muito complexa para este sistema. A ideia é implantar, com recursos próprios, e depois talvez franquear. O investimento deve ser de US$ 2 milhões.

  • Empresas & Negócios – E já tem lugar em vista?

Meneghetti – Não posso revelar onde, mas já temos locais. Só não vamos se não encontrarmos ponto. Não é muito fácil. Temos de buscar um shopping novo. Esperamos que o ritmo de crescimento de lá seja muito maior do que aqui. Os valores lá são 50% acima dos daqui. Um prato que aqui sai por R$ 18,00 lá não sai por menos de R$ 30,00. Lá concorreremos com redes como América, Viena etc.

  • Empresas & Negócios – O América veio para cá e não emplacou…

Meneghetti – Mas a recíproca não será verdadeira. Nós vamos emplacar. A marca veio para cá com preço de São Paulo. Além disso, ele também não se adaptou ao gosto dos gaúchos.

Jornal do Comércio

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Já vejo uma inovação, que vai impôr mudanças na região: a Petiskeira está abrindo aos domingos, e planeja não desistir.   Isso é uma verdadeira mudança e novidade no USO do Centro. Falo isso porque aos domingos é extremamente difícil almoçar no centro, porque fecham 99% dos restaurantes.  Em dias úteis, o panorama é outro: o Centro Histórico tem grande oferta de restaurantes, e restarantes muito bons.  Porém, no domingo, tudo morre no Centro, portanto ter lazer no bairro nesse dia é praticamente impossível.  Fato muito sentido por turistas, por exemplo, que estão fazendo um passeio por ali. Na hora de almoçar, tem que bater pé para achar um restaurante aberto.

Sempre bato na tecla de que não basta restaurar e pintar: temos que mudar o uso do bairro. Trazer lazer qualificado. Trazer gente a pé, gente de carro, trazer  vida ao Centro. Em vez de ser um lugar que as pessoas querem evitar, façam o bairro ser desejado como programa.

Abram ruas aos carros, ponham transporte qualificado, abram bares e rstaurantes bonitos, tragam faculdades, façam haver qualificadas opções de lazer e de gastronomia em fins de semana, para que as pessoas tenham uma infraestura de apoio ao seu passeio, façam o bairro ter lugares que sejam da moda. E, claro, revitalizem, pintem e embelezem o Centro.  Pronto, isso é revitalização.

RicardoH



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7 respostas

  1. Acompanhado de turistas, tentei almoçar no Mercado Público no feriado de Tiradentes. Estava fechado. Segui pela Júlio de Castilhosm entrei à direita na Rua Marechal Floriano (quase invisível, espremida pelas bancas de frutas da ex-Praça Pereira Parobé), e estacionei diante do “Esqueleto XV de Novembro”, o que já me rendeu algumas explicações… mas a idéia era surpreender com o bucólico Chalé da Praça XV, que estava aberto. Infelizmente, um festival de umbanda ocorria no democrático Largo Glênio Peres. Com todo o respeito, eu me recusei a almoçar ouvindo gritos e batuques. Olhei decepcionado para os amigos e corri pro BarraShopping. A gente tenta ajudar o Centro, mas é difícil. Como é que um lugar assim vai ser “point”? É duro.

  2. Não esquecendo que melhorando as vias de acesso para veículos no centro, mudaria e muito o público e a forma a qual o mesmo é frequentado. Está mais do que na hora de voltar a ser um bairro e não uma grande estação rodoviária. Se servir para isso, que venham os paliativos Portais da Cidade.

  3. Ricardo, concordo 100% contigo. Perfeito comentário !

  4. O Mercado Público de Poa não fica entregue ás moscas no domingo: ele FECHA no domingo.

    • Acho um absurdo isso! O Mercado Público deveria ser a grande âncora do coração do centro, e dar o exemplo, abrindo aos domingos. São 110 bancas e lojas, que estão sempre cheias durante a semana e que no domingo fecham. A mentalidade dos mercadeiros ainda precisa evoluir o suficiente. Mas para isso, o município tem que fazer a sua parte. A revitalização do centro passa necessariamente pela abertura do Mercado aos domingos.

  5. Eu idem. E não precisa reinventar a roda: basta dar um pulinho alí em Montevideo pra ver o Mercado del Puerto, bombando sábados e domingos – uma festa de encher os olhos. Ainda não entendi porque nosso Mercado fica entregue às baratas aos domingos. Deve ser porque nestas plagas sabemos melhor como fazer as coisas. E ainda enchem a boca com “obras da copa” – faltando 3 anos e meio pra começar a dita cuja e não se fez ansolutamente nada, só conversa fiada. Escrevam: ainda vamos ser descredenciados pela FIFA, tudo em consequüencia de nosso “dinamismo” – êta provinciazinha atrasada seu…

  6. Compartilho da mesma opinião do RicardoH. Perfeito.

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