PORTO ALEGRE – Trânsito padece com o aumento da frota

É considerado ”desenfreado” por especialista na matéria e a tendência é de agravamento. Porto Alegre está congestionada
 

Fotos: Camila Rodrigues - CP

Os congestionamentos, antes restritos aos horários de pico, viraram rotina em Porto Alegre. Alguns motoristas não mais se referem à distância em quilômetros para quantificar o deslocamento entre a casa e o trabalho. “O que marca o trecho percorrido é o relógio, e não o marcador de quilometragem do veículo”, sintetiza o coordenador do curso de Tecnólogo de Segurança de Trânsito e Segurança Privada da Ulbra, delegado Leonel Carivali.

Para ele, os conflitos que afunilam as vias são decorrentes do aumento desenfreado da frota. A tendência é de agravamento. “Basta percorrer ruas e avenidas para constatar os problemas de circulação”, observa. Devido aos transtornos do tráfego, são comuns as trocas de insultos entre condutores por espaço.

Os principais afunilamentos estão nas entradas da cidade, com ênfase para a avenida Castelo Branco, no trecho entre o vão móvel do Guaíba e os acessos à avenida Mauá e ao Túnel da Conceição. Outro ponto conturbado é enfrentado por quem chega à Capital via BR 116. “O caos está instalado em vias do Centro, como as avenidas Mauá, Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Salgado Filho, Farrapos, João Pessoa e Independência”, relata.

O Túnel da Conceição e o conhecido “xis” da Rodoviária também são motivadores de transtornos. “É preciso trabalhar com inteligência estrutural para atenuar os engarrafamentos. Do contrário, em curto espaço de tempo haverá necessidade de rodízios”, assinala Carivali, acrescentando que, em horários de grande movimento, existem poucas alternativas de acesso a Porto Alegre e de saída do Centro.

O delegado Carivali lembra que saídas e entradas da cidade são as mesmas há décadas, acrescentando que o trânsito ficou estagnado na área central, com chances de piorar até a Copa de 2014. Para a presidente da Fundação Thiago Gonzaga, Diza Gonzaga, Porto Alegre precisa de intervenções efetivas, com prazo de validade mínimo de 20 anos. “Não podemos continuar convivendo com obras imediatistas e de poucos resultados”, frisa.

Diza defende que sejam definidas medidas que levem em consideração o volume de novos emplacamentos de veículos, que aumenta ano a ano. A Capital encerrou 2009 com uma frota de 659 mil veículos. No mesmo período, 11,7 mil veículos foram baixados e 8,6 mil transferidos para outros estados. Já a frota estadual atual soma 4,4 milhões – 6,74% superior a de 2008.

A estimativa é de que 94 veículos entrem em circulação por dia em Porto Alegre. Se mantido o ritmo atual de crescimento, até dezembro serão 700 mil veículos. No final do primeiro trimestre, a frota totalizava 667.536. Há um veículo para cada dois habitantes da Capital – alcançando a média de São Paulo.

EPTC promete que irá intervir nas principais radiais

A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) promete intervir nas principais radiais da cidade. Uma das alternativas encontrada para resolver os afunilamentos da avenida Cavalhada foi o bloqueio temporário e rotativo de áreas de estacionamento. “Das 6h às 9h é proibido estacionar no sentido bairro-Centro, entre a João Salomoni e a Campos Velho. Já das 16h às 20h, o bloqueio é no sentido inverso”, diz o diretor de Operações, Vanderlei Cappellari.

A equipe técnica da EPTC também realiza estudos para a adoção de medidas visando atenuar as retenções verificadas na avenida Assis Brasil nos horários de pico. “Também avaliamos a adoção de medidas emergenciais na Bento Gonçalves, entre a Antônio de Carvalho e a divisa com Viamão”, ressalta. Também estão previstas intervenções para as avenidas Sertório e Ceará, que registram frequentes congestionamentos em razão de o fluxo de veículo exceder a capacidade das vias.

Cappellari projeta o fim dos conflitos no entorno da Rodoviária com os investimentos previstos nos preparativos para a Copa. Ele se mostra preocupado em encontrar uma alternativa que possibilite a extinção da “trincheira” que se forma na avenida Cristóvão Colombo. “É preciso duplicar avenidas, construir viadutos e implantar um metrô na cidade”, ressalta o professor João Fortini Albano, do Laboratório de Sistemas de Transportes do Departamento de Engenharia de Produção e Transportes da Ufrgs.

Outra sugestão é revisar os tempos dos semáforos, impulsionar a carona solidária e incentivar o uso de outras modalidades de transporte. “O trânsito de Porto Alegre necessita de intervenções simultâneas. Medidas isoladas não resolvem mais”, adverte Albano. O professor sugere que os planejamentos contemplem medidas de médio e longo prazos para o trânsito.

Perda de tempo motiva reclamação dos motoristas

Os problemas no trânsito se agravam quando os agentes de fiscalização da EPTC não estão nas ruas e, nesse caso, muitos porto-alegrenses adotam por conta própria medidas estratégicas para driblar o caos e o desperdício de tempo, principalmente nos finais de tarde. “Se tiver que ir ao Centro às 17h, deixo o carro em casa e volto de lotação”, revela a microempresária Clélia Vieira Munari, 37, moradora do bairro Mont”Serrat. A precaução, conforme ela, é uma forma de evitar perda de tempo e de dinheiro.

O representante comercial Orlando Motta, 54, encontrou uma alternativa criativa para escapar dos congestionamentos. Nunca chega ao trabalho antes das 9h e tampouco retorna para casa depois das 17h. Morador do Passo D”Areia, ele decidiu deixar o carro na garagem e somente utilizá-lo nos finais de semana, com a condição de não se aproximar dos estádios do Inter e do Grêmio em dias de partidas de futebol.

Os taxistas também sofrem com o trânsito. “Os congestionamentos dão a dimensão de escassez de táxis”, afirma o presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre, Luiz Nozari. Segundo ele, a sensação de que a frota de 3.925 veículos fica reduzida à metade nos horários de pico ocorre em função da demora nos deslocamentos. “Chegam a levar o dobro do tempo para fazer uma corrida”, assinala Nozari.

De acordo com levantamento do Sintáxi, o tempo médio de duração de uma corrida entre o Centro e a avenida Manoel Elias, no bairro Mario Quintana, às 18h, é de 90 minutos. “Se o motorista optar por uma rota alternativa, corre o risco de ser tachado de desonesto”, comenta. Nozari argumenta que Porto Alegre não tem mais caminho alternativo. “O negócio é optar pelo menos pior”, sugere.

Quando a Farrapos foi inaugurada, em 1940, o então prefeito, José Loureiro da Silva, foi criticado em razão da “exagerada” largura da via. “Passados 70 anos, está estreita e é um dos piores gargalos da cidade.”

O representante dos taxistas não hesita em apontar os principais gargalos do trânsito em Porto Alegre: Assis Brasil, Farrapos, Independência, Azenha, Bento Gonçalves, Sertório, João Pessoa, Cavalhada, Protásio Alves, Osvaldo Aranha, Castelo Branco e III Perimetral. “Faltam quatro anos para a próxima Copa do Mundo. É preciso investir em infraestrutura e planejamento”, aconselha.

Segundo Nozari, a III Perimetral foi inaugurada para desafogar o tráfego no eixo Norte-Sul, mas, devido ao elevado número de semáforos e de cruzamentos, apresenta pontos cruciais de congestionamento. Para ele, outro nó que precisa ser desfeito é o conhecido “xis” da Rodoviária. “Acredito que a duplicação da Voluntários da Pátria acabará com este gargalo de acesso à avenida Castelo Branco”, projeta o taxista.

Frota cresceu 35% em nove anos

A frota de Porto Alegre cresceu 35% em nove anos. Em 2001, a Capital tinha 481.914 veículos. No final de 2009 eram 653.329. O incremento de 171.415 colabora para que os congestionamentos sejam frequentes. O quadro complica mais em dias de chuva. O trânsito da Capital registra o ingresso médio de 19 mil veículos novos anualmente. Considerando os que chegam diariamente da região Metropolitana, o quadro tende a se agravar.

Copa do Mundo serve de pressão

O prefeito José Fortunati conhece bem e quer acabar com os gargalos do trânsito a partir dos investimentos para a Copa do Mundo de 2014. A prefeitura deverá destinar R$ 524,9 milhões para a execução de obras de qualificação da mobilidade urbana. Entre os projetos estão a ampliação da avenida Tronco, orçada em R$ 133 milhões, e a duplicação das avenidas Edvaldo Pereira Paiva e Padre Cacique, com custo estimado em R$ 78,2 milhões.

Outros R$ 30 milhões serão aplicados na ampliação da rua Voluntários da Pátria, para facilitar o ingresso na Padre Leopoldo Brentano e na A. J. Renner – vias de acesso ao futuro estádio do Grêmio. Para o sistema viário da III Perimetral estão previstas cinco intervenções estruturais, de modo a garantir maior fluidez ao trânsito, com gastos estimados em R$ 98,6 milhões. Fortunati também projeta destinar R$ 2 milhões para a ampliação em 2 quilômetros da avenida Severo Dullius – via de acesso ao Aeroporto Salgado Filho. Na implantação dos Portais da Cidade, serão investidos R$ 430 milhões. Serão ainda destinados R$ 21 milhões para a execução de obras que possibilitem o fim dos conflitos de tráfego no entorno da Estação Rodoviária.

Outros R$ 104 milhões serão aplicados na qualificação do transporte público, com intervenções previstas nos corredores das avenidas Protásio Alves, Assis Brasil e Bento Gonçalves, permitindo a implantação do Bus Rapid Transit. Ainda está prevista a construção de estacionamento subterrâneo no Centro Histórico, obra que deve ser viabilizada via Parceria Público-Privada.
 

Correio do Povo – domingo



Categorias:Meios de Transporte / Trânsito

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8 respostas

  1. *Mais metros e ciclovias;
    *Ligar a zona sul ao centro por hidrovias;
    *Um transporte coletivo mais qualificado.

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  2. Colei sem querer um outro comentário meu em cima desse, por isso tá confuso. Enfim, assistam aquele vídeo para entender melhor!

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  3. A Prefeitura de Porto Alegre perde tempo (construtoras e montadoras ganham $$$) com alargamento de estradas, construção de viadutos, novas pistas, etc. Quanto mais estradas houver, mais as pessoas vão querer utilizar carros particulares, e tudo vai continuar do mesmo jeito, entupido. Sem contar o ar de Porto Alegre que vai ganhar mais poluição.

    Solução? Ciclovias e ciclofaixas, campanhas de estímulo ao uso da bicicleta no dia-a-dia, investimento pesado em transporte público. Dar prioridade ao uso de carros particulares em massa é o caminho mais curto para degradar uma cidade, e é o que a EPTC está fazendo com a capital gaúcha.

    Tá mais do que na hora dos portoalegrenses tomarem vergonha na cara e pararem de fingir que obras que estimulam o uso do carro é a solução.

    Ramiro, esqueceste de citar a falta de estrutura de Porto Alegre para ciclistas e o descaso com transporte público.

    Sim, o trânsito de Porto Alegre está cada vez pior, mas as pessoas erram muito ao achar que alargamento e construção de novas estradas vai melhorar o trânsito. Não vai.

    Se aumentarem o número de pistas, isso vai estimular as pessoas a comprarem mais carros e utilizarem mais eles. O resultado é que isso só vai estimular o aumento de veículos e tudo vai ficar do mesmo jeito, entupido. E vai chegar a um ponto que não vai mais ter espaço.

    Pesquise sobre o caso de Bogotá (Enrique Peñalosa salvou o trânsito da capital), como funciona o trânsito em Copenhagen ou Amsterdan. Você verá que estimular o uso abusivo de carros particulares, deixando o transporte público e bicicletas em último lugar é o caminho mais curto para degradar uma cidade.

    Pra quem acha que isso é só coisa de país de primeiro mundo, vejam esse vídeo do caso de Bogotá:

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  4. Gostaria de saber como será solucionada a rotula da Praca da Encol. Haverá colocação de sinaleiras? Existe a possibilidade de construção de viaduto no local? Se houver, será da Carlos Trein para Carazinho?

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  5. É verdade, se no Brasil a indústria automobilística e petrolífera gera dezena de BILHÕES de reais em impostos, porque parte desses impostos não são utilizados para qualificar o sistema alternativo ao tranporte individual/familiar (automóveis) nas cidades e entre as cidades (principalmente metrôs e trens)?

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  6. O Brasil é um país emergente, as pessoas tem o sonho de conquistar seu primeiro automovel, a industria automobilistica gera bilhoes de impostos pra esse país, mais de 40% de carga tributária na fabricação de um carro, e os impostos sobre a gasolina passam de 50%. Nada mais justo que se invista em novas avenidas, tuneis e estradas. Um transporte coletivo mais qualificado seria uma alternativa pra desafogar o trânsito, mas imaginar que as pessoas vão deixar seus carros novos na garagem e ir trabalhar de bicicleta por enquanto é sonho.

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  7. Solução = Melhorar transporte coletivo e investir em CICLOVIAS!!!!

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  8. Gilberto, esses dias estava falando com um taxista, e ele mencionou que se continuar assim, a prefeitura vai ter que adotar a formula de placas de São Paulo, inicialmente entre pares e ímpares. Infelizmente…

    Abraço!

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