Governo federal admite que a construção de estrutura paralela não começará antes de 2012
Na manhã de 30 de julho, uma sexta-feira, centenas de gaúchos tiveram seus destinos unidos durante pouco mais de duas horas e meia de angústia devido a um prosaico parafuso quebrado que ajuda a sustentar o desgastado vão móvel da ponte do Guaíba, na Capital.
Símbolo da fragilidade logística na zona mais populosa do Estado, a peça defeituosa fez enguiçar a estrutura de concreto enquanto estava elevada para dar passagem a uma embarcação e manteve igualmente em suspenso as vidas dos usuários da travessia. Vítimas da falta de projetos destinados a oferecer alternativas, as pessoas tiveram suas rotinas alteradas pelo vazio no meio da construção.
Confira, a seguir, o que falta para a principal região do Estado deixar de ser refém da ponte e como personagens do episódio localizados por Zero Hora enfrentaram mais um dos frequentes enguiços que une – e por vezes separa – milhares de gaúchos.
Saudada à época de sua construção como um marco da modernidade porto-alegrense, a ponte do Guaíba se transformou em símbolo do atraso. Engessado pela burocracia, o governo federal admite que os engarrafamentos que atormentam os usuários da travessia deverão continuar até 2015. Se não ocorrerem sobressaltos, e todos os prazos mínimos forem cumpridos, a construção de uma estrutura paralela à atual não começará antes de 2012, e deverá se estender pelos três anos seguintes.
A previsão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) leva em conta os requisitos para licitar e executar todas as etapas. Apesar de a atual estrutura apresentar sinais de esgotamento há mais de uma década, faz apenas quatro meses que o sonho de desatar o nó viário gerado pelas falhas do vão móvel começou a sair dos discursos. O embrionário estudo de viabilidade que deverá ficará pronto em outubro apenas informará ao Ministério dos Transportes o custo da obra e a localização mais adequada para a futura ponte.
– Somente após a finalização deste estudo é que poderemos sentar à mesa para discutir se a obra será tocada pelo governo federal ou pela iniciativa privada – explica o diretor de Infraestrutura Terrestre do Dnit, Hideraldo Caron.
Nos gabinetes de Brasília, a construção de uma alternativa à ponte erguida em 1958 é apontada como prioridade do Planalto. O ministro dos Transportes, Paulo Passos, diz cobrar relatórios periódicos dos órgãos encarregados da iniciativa. Entretanto, no Congresso, o tema é visto com ceticismo.
– O melhor seria firmar uma parceria com a concessionária da freeway – argumenta o deputado Beto Albuquerque (PSB).
O empecilho a esse projeto é que a empresa Concepa já ofereceu à União a possibilidade de construir uma segunda travessia em troca da prorrogação do contrato de concessão, mas a ideia não seguiu adiante. O diretor-presidente da concessionária, Odenir Sanches, acredita que o projeto original já não tem mais chance de virar realidade.
– O governo não concorda com prorrogação de concessões – confirma o superintendente regional do Dnit, Vladimir Casa.
O governo estadual deverá apresentar, nas próximas semanas, o plano próprio de uma nova ligação viária entre a Região Metropolitana e a Metade Sul. A ideia também chega tarde, porém, devido à falta de capacidade econômica que marcou as finanças gaúchas nas últimas décadas.
– Como consequência dos baixos investimentos, nos apequenamos. Perdemos a noção do que significa investir, nossos representantes federais também se apequenaram – analisa o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Daniel Andrade.
A necessidade de uma nova travessia é reforçada pelo fato de que até o modelo da ponte atual, que exige a elevação de um vão central de 57 metros e 400 toneladas, é considerado ultrapassado. A melhor saída é construir travessias altas o suficiente para permitir a passagem das embarcações.
– Hoje, em todo o mundo, evitam-se pontes com sistemas mecânicos porque dão muito problema de manutenção – avalia o engenheiro e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Luiz Carlos Pinto da Silva Filho.
E a fiscalização?
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), órgão responsável por fiscalizar o cumprimento de contratos de vias concedidas à iniciativa privada, não se manifestou sobre os problemas da ponte do Guaíba. Conforme a assessoria de imprensa, o diretor-geral, Bernardo Figueiredo, única autoridade indicada para tratar do assunto, se encontrava em viagem e não poderia se pronunciar sobre o caso até a próxima semana. A assessoria informou não haver queixas de descumprimento de contrato por parte da Concepa.
Os projetos que podem mudar a realidade da travessia
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Confira quais são e em que estágio se encontram as mais recentes iniciativas destinadas a resolver a precária ligação da Região Metropolitana com o sul e o oeste do Estado que fica vulnerável a problemas técnicos a cada içamento:
DO GOVERNO ESTADUAL
O QUE É O PROJETO
– Implantação de um anel viário (chamado rodoanel), unindo vias como a BR-116, a BR-290 e a ERS-118 em uma rota circular. Uma ponte sairia da zona sul da Capital, sobre o Guaíba, até o município de Barra do Ribeiro.
DE ONDE VIRIA O RECURSO
– Do Piratini, com possibilidade de contratação de financiamento.
POR QUE DEMOROU
– O Estado não tinha capacidade financeira para obras de grande porte.
ESTÁGIO ATUAL
– Os detalhes do plano elaborado pelo Piratini para resolver o problema estão em fase final de elaboração por parte do governo estadual, que deverá divulgá-los nas próximas semanas. O custo estimado é de até US$ 350 milhões. Assim como a iniciativa federal, por ser uma obra de grande porte, não representa uma solução de curto prazo.
PARA COBRAR
– O projeto executivo para a construção da nova alternativa de travessia deverá ficar pronto ainda no segundo semestre, segundo expectativa do governo. A intenção anunciada pela Secretaria Estadual de Infraestrutura é de que as obras possam se iniciar em 2011.
DA CONCEPA
O QUE É O PROJETO
– Construção de uma segunda ponte, paralela e localizada próximo da atual, com pista somando oito metros de largura e sem acostamento, a fim de garantir uma alternativa viária à atual ponte.
DE ONDE VIRIA O RECURSO
– Da iniciativa privada.
POR QUE DEMOROU
– O governo federal não concorda com a prorrogação do prazo de concessão, que seria a contrapartida para a obra.
ESTÁGIO ATUAL
– Apresentado em 2007, a própria Concepa considera que o projeto hoje está defasado em relação ao que o Estado precisa – como pista mais larga devido ao crescimento da frota nos últimos anos. Por isso, a direção da concessionária considera a proposta engavetada em definitivo. O Dnit, por sua vez, informa que o governo não concorda com a condição de prorrogação da concessão da Concepa por mais 20 anos.
PARA COBRAR
– O projeto está descartado. A Concepa promete substituir nos próximos meses, porém, o atual sistema de içamento por outro, automático e menos sujeito a falhas.
DO GOVERNO FEDERAL
O QUE É O PROJETO
– Construção de uma segunda ponte, em local e com estrutura a serem definidos, a fim de oferecer mais uma alternativa de fluxo.
DE ONDE VIRIA O RECURSO
– Do orçamento da União, mas com possibilidade de aporte de dinheiro da iniciativa privada.
POR QUE DEMOROU
– A prioridade política era o trecho metropolitano da BR-116, e não foi disponibilizado recurso para a ponte a fim de prevenir seu esgotamento.
ESTÁGIO ATUAL
– Está em andamento um estudo, no valor de R$ 650 mil, para apontar qual seria a melhor região e o tipo de travessia mais indicado. Depois disso, há R$ 10 milhões no orçamento para a elaboração do projeto da nova ponte, ainda sem valor e prazo de execução definidos. Como uma obra dessas costuma se estender por anos, não é solução de curto prazo.
PARA COBRAR – O Dnit promete a entrega do estudo sobre a ponte para outubro ou novembro. Há uma expectativa de que a obra possa começar em 2012.
Categorias:Nova ponte Guaíba
se fosse no nordeste ja estaria pronto
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Nem um nem outro…O problema é: Nós somos pobres, de dinheiro e de espírito, fomos colonizados por portugueses e desde então fracassamos financeiramente e politicamente. Vivemos num mundo de fantasias em colapso, queremos andar numa mercedes quando nem esta sabemos fabricar, a metade sul ou a norte/noroeste etc que me desculpe, mas depender das pessoas, empresas ou governos só dita a regra de portugues. Se não tem ponte, inventa outra coisa, quem sabe nos aliamos aos uruguaios e começamos a frequentar + punta del este.
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A Concepa , em troca de maior prazo da concessão, se prontificou a construir. Na minha opinião, nada mais justo. Mas, a época, forças politicas, lideradas por Raul Pont, fizeram voto contra e até hoje continuamos com o mesmo problema e pelo jeito sem previsão de encontrarmos uma solução……Novamente, interesses politicos são colocados a frente de interesses da população.
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Acho que não é questão de burocracia, mas de falta de dinheiro mesmo. O governo federal não tem quase nenhuma capacidade de investimento (menos de 2% do PIB), apesa do seu imenso orçamento; por isso, quando faz alguma obra, não conseque concluí-la sem extrapolar o prazo ou levar até o dobro do tempo, como a duplicação da BR-101, pagando mais caro por isso.
Juntando isso a questão ideológica, que não permite que essa ponte seja feita pela iniciativa privada, resulta nisso: ATRASO!!!
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É incrível a burocracia e a politicagem envolvida para fazer uma mera ponte. O problema é que esta ponte que estão postergando não é para uma cidade de meio porte e sim para ligar toda a metade sul com a CAPITAL do estado… Sinceramente, do jeito que as coisas vão… ponte em 2050 e orla decente em 2100
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LAMENTAVEL.
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