SERVIÇO DESPREZADO – Gaúchos resistem a tratar esgoto

Todas as estações de tratamento da Corsan trabalham abaixo da capacidade, porque população não faz as ligações à rede

Enquanto pesquisadores do mundo inteiro buscam soluções para estancar os índices de poluição ambiental que afetam a saúde do planeta, o Rio Grande do Sul tornou-se protagonista de um fenômeno controverso. Fruto de investimentos públicos robustos, todas as 73 Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) administradas pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) estão operando abaixo da capacidade devido à resistência de gaúchos que se negam a pagar para não poluir.

Entre os 40 municípios atendidos pela Corsan que têm ETEs, apenas três – Torres, Capão da Canoa e Santa Maria – tratam mais de 50% do esgoto. Em pelo menos 15, a taxa fica abaixo de 10%, com o agravante de que em Bom Jesus, Tapes e Três Passos o número cai para menos de 1%.
– Em todos esses casos, as estações estão ociosas. O potencial das unidades é muito maior do que o interesse da população – diz a advogada e chefe de gabinete da presidência da Corsan, Alessandra Fagundes dos Santos.

A origem do problema é conhecida: em todos esses locais, cada morador é responsável por conectar seu imóvel à rede, e a Corsan não pode obrigá-lo. Além de arcar com os custos da obra, ele precisa pagar uma taxa de ligação e uma tarifa mensal, que, em média, eleva a conta de água em 46%. O preço assusta, e o resultado é a poluição do solo e dos rios devido ao uso de fossas sépticas mal dimensionadas ou de ligações clandestinas à rede pluvial.

É o caso de Tapes, onde o problema tem 13 anos. Desde 1997, segundo a Corsan, o município conta com uma estação para atender a 460 imóveis – o projeto inicial envolvia todo o município, mas só o primeiro módulo foi finalizado. Até 2004, apenas oito moradores haviam providenciado ligações. Hoje, não passam de 12, sendo que a obra custou R$ 3 milhões.

Situações como essa levaram o Ministério Público (MP) a intervir junto à Corsan e às prefeituras. Em Gravataí, onde corre um dos rios mais poluídos do Estado, o resultado foi a criação de um programa de incentivo que está sendo ampliado para outras regiões.

O progresso é tímido: neste ano, apenas 20 novas ligações foram registradas na cidade, que soma cerca de 17 mil moradias com tratamento, embora o potencial de atendimento ultrapasse 25 mil. Preocupada com a situação, a promotora do Meio Ambiente Ana Maria Marchesan, do MP na Capital, pretende levar a briga longe:

– Poderemos processar criminalmente quem tiver condições mas se negar a ter o esgoto tratado.

O fato de que uma parcela significativa dos gaúchos pareça não se incomodar com o destino de seus dejetos não surpreende o presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. Segundo ele, uma pesquisa feita em 79 cidades brasileiras revelou que 41% dos entrevistados não estavam dispostos a pagar pelo tratamento.

ZERO HORA

 

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Categorias:Meio Ambiente

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8 respostas

  1. Para mim, essas taxas de tratamento do esgoto deveriam ser transformadas em altas MULTAS, caso um morador gere esgoto e não trate antes de despejá-los em vias e águas públicas.

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  2. Olavo, somos um país de terceiro mundo, e nossa mentalidade é de acordo. Não penses que na Holanda ou na Dinamarca o povo sempre entendeu a importância de tratar o esgoto, isso foi uma coisa construída lentamente com acesso a melhor educação e a escalada social de modo geral.

    O que quero dizer é que não vamos resolver nada misturando discussões, temos que buscar soluções pontuais, caso a caso mesmo, que nos levem a algo melhor do que temos hoje, nem que seja em “passos de formiguinha”.

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  3. FelipeX, os assuntos estão totalmente misturados, a questão são valores sociais, morais e ambientais. O que queremos para a humanidade e o resto do planeta.
    O mundo não é segmentado, todas as nossas ações são de acordo com a cultura geral da humanidade.
    Não se importar em fazer xixi e coco na água que se vai beber, demonstra a falta de respeito com a própria vida e a vida dos outros seres da mesma espécie, a humana no caso, e se não respeitamos nossa própria espécie, o que esperar em relação as outras, como as girafas, por exemplo.

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  4. Na minha opinião a solução é antiga: cobrar imposto e fazer “de graça”, o pessoal não se revolta com isso aqui no Brasil.

    Agora misturar com a questão de zoológicos já é criar atrito por nada, Olavo. A não ser que queres me dizer que os dejetos da girafa vão poluir os nossos rios 😀

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  5. Essa ai é a mesma “maioria silenciosa” que adora animais em zoológicos.

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  6. esse é o povo mais politizado
    ashuuhsahuauh

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  7. Não tenho muito conhecimento a respeito, mas acho que o governo federal deveria fazer um projeto de lei que obrigasse os domicílios a tratarem seus dejetos. E deveria ser cobrado uma taxa junto com o IPTU, assim como existe a taxa de iluminação pública.

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  8. Po***, e porque o poder público não trabalha para baixar esse custo? Aposto que se o valor não fosse salgado ia ter adesão recorde.

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