Remoção para obras da Copa preocupa especialistas em Porto Alegre

Dez mil famílias podem ser transferidas para pontos extremos da cidade ainda este ano

Traçado da duplicação da avenida Tronco, em Porto Alegre (crédito: Reprodução/Google Earth)

Aproximadamente 10 mil famílias de Porto Alegre e Canoas podem ser removidas de suas casas devido às obras previstas para a Copa do Mundo de 2014, entre elas a duplicação da avenida Tronco (ou avenida Moab Caldas) e a construção da Rodovia do Parque. A informação, em matéria no “Jornal do Comércio” (17/3), dá conta ainda que a duplicação da avenida Tronco deve começar em até um ano, segundo o cronograma.

A reportagem ouviu os membros da ONG Cidade, que se mostraram preocupados com o destino que será dado a essas pessoas. Isto porque a maioria das áreas de interesse social mapeadas pela prefeitura de Porto Alegre, para onde deverão ser removidas as famílias, localiza-se em pontos extremos da capital, onde falta a infraestrutura necessária para atender às necessidades dessas populações.

Sérgio Baierle, cientista político da ONG, afirmou que “é ilusão achar que é barato remover para as periferias ao invés de urbanizar as áreas que essas famílias já ocupam”.

Também a indefinição sobre o destino destas famílias preocupa. “No caso da avenida Tronco, por exemplo, as famílias ainda não sabem qual será o traçado da via, nem para onde serão removidas, mas mesmo assim o início da obra é esperado para menos de um ano”, alerta o cientista político.

Baierle lembra que, embora degradadas, as áreas hoje ocupadas pelas famílias são ligadas às redes de eletricidade, esgotos e água da cidade, enquanto que “nesses novos espaços distantes, todas as redes de serviços precisariam ser construídas do nada”.

O cientista político, assim como urbanistas e outros especialistas da área, defende que as famílias deveriam ter oportunidade de serem alojadas em locais próximos das áreas que atualmente ocupam. Para Baierle, isso não ocorre por falta de interesse do poder público ou mesmo por pressão de moradores vizinhos.

“No caso da Vila Nazaré, removida para a extensão do aeroporto, não era necessário levar a população para a região nordeste da cidade. O que houve foi um movimento de discriminação da população do bairro Lindóia que impediu que fossem destinadas para uma área mais próxima”, afirmou.

Para o professor João Rovatti, da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, esses problemas refletem a falta de planejamento urbano adequado na capital gaúcha. “Seria importante que a Copa do Mundo gerasse um fortalecimento da preocupação com essa área”, declarou. Segundo Rovatti, existe um consenso das autoridades em torno do legado positivo da Copa, mas poucos lembram que as obras para o evento podem gerar uma herança negativa para diversos setores da população. “Temos que nos preocupar em adaptar a Copa à cidade, e não o contrário”, destacou.

Audiência e projetos

Para debater o tema das remoções das famílias para as obras da Copa, será realizada no dia 25 de março, às 14h, uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. A reunião foi reivindicada pelo Ministério Público Federal, e contará com a presença de representantes do Ministério Público Estadual, da prefeitura de Porto Alegre, do governo do estado, e dos habitantes das áreas atingidas.

O projeto da avenida Tronco, da prefeitura de Porto Alegre, terá 3,4 km de sua extensão duplicados, com duas pistas de rolamento, em cada sentido –da av. Dr. Carlos Barbosa até a av. Icaraí. A obra prevê também a construção de ciclovia e corredor de ônibus. A proposta é que a avenida sirva como alternativa de deslocamento à zona sul da capital gaúcha. No período da Copa, ela absorverá o tráfego de veículos que normalmente utilizam duas outras avenidas (Edvaldo Pereira Paiva e Padre Cacique), que serão interrompidas ao tráfego durante os jogos.

Já a rodovia do Parque, a cargo do DNIT, terá 22,3 km, e ligará a Freeway, na capital, à BR-116 e à ERS-118 no trecho entre Esteio e Sapucaia do Sul. Poderá ser uma alternativa ao trecho mais congestionado, entre Canoas e Porto Alegre.

Portal 2014
 



Categorias:COPA 2014

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24 respostas

  1. Como tem limpeza pra fazer nessa cidade, pelo amor de Deus…

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  2. Se quiserem criar uma CDD, que já criem junto uma UPP.

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  3. a remoção de 10mil familias para um mesmo ponto, aqui nao diz onde todas serão assentadas, mas corre o risco de criar uma cidade de deus em porto alegre. Não acredito que esses novos bairros contarão com estrutura urbana, o mais provavel é que isso crie uma onda de violencia muito grande em 5~10 anos.

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  4. Concordo contigo Julião, nada pior que dar uma coisa pra alguém. Se em vez de dar tu cobras 1 real por mês a pessoa dá mais valor. Mas a cultura por aqui é que o estado deve ser uma mãezona.

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  5. Sou completamente a favor da construção de habitações populares, ainda nesses casos de desapropriação ou remoção (de invasões consolidadas) para a execução de obras públicas. E, se possível, essas famílias deveriam ser reassentadas perto de onde moram. Repito: se possível, mas não é uma condição “sine qua non”.

    Também acho que os governos investem pouco nesse setor que poderia proporcionar empregos e dignidade, diminuindo a dependência e a necessidade das políticas assistenciais que conhecemos. Tenho certeza que, se investissem o orçamento do bolsa família (12 bilhões de reais/ano) nesse tipo de política social, em pouco mais de uma década a questão da miséria brasileira seria mitigada.

    Ela não acabaria completamente, porque enquanto não tivermos um sistema de educação pública qualificado, a miséria continuará se reproduzindo e se reproduzindo, de geração em geração, mas isso é outro assunto.

    … Entretanto, no meu ponto de vista, NADA DEVERIA SER DADO DE GRAÇA; pois, todos sabem, que o que vem fácil não é valorizado. Inclusive chego a pensar se não seria o caso de todos (pobres, remediados e ricos) pagarem (centavos, nem que seja) pelos serviços de educação e saúde pública que recebem do governo e não valorizam. Na China “socialista”, só para constar, é assim.

    No caso das habitações populares, tenho certeza disso: todas as famílias que recebessem uma casa do governo deveria pagar 200, 100 ou 50 reais por mês durante 10, 20 ou 30 anos, num financiamento social a juro zero, descontado desse empréstimo o valor do bem ou direito, a que foram expropriados. Se na família ninguém tivesse renda, deveria ser oferecido um emprego (nas próprias obras de construção das casas, por exemplo); se não soubessem fazer nada, deveriam receber um curso de formação e assim por diante, mas todos deveriam trabalhar para pagar o bem mais importante para uma família: a sua casa.

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  6. Cientista é uma coisa, político é outra. Quanto aos moradores de áreas ocupadas ilegalmente, não tem que ficar querendo escolher onde vão morar, já deveriam ser gratos por ganhar alguma coisa de graça.

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  7. A residência destas pessoas q serão removidas nem legalizadas são, estão em propriedade invadida e a prefeitura ainda dará uma casa nova e nos padrões da lei, sem q tenham feito qulaquer esforço. Não bastasse isto ainda querem escolher onde morarão.

    Cientistas políticos e sociólogos devem ficar à parte da questão de urbanismo de uma cidade. Nunca vi falarem tanta asneira, assim como foi dito em “nesses novos espaços distantes, todas as redes de serviços precisariam ser construídas do nada”. Graças a Deus existem arquitetos e engenheiros civil e eletricista q podem dar um jeito nesta situação.

    Aliás, o Brasil está do jeito q está porque há muitos advogados e poucos engenheiros, ou seja, pouco se cria, muito se reclama.

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  8. Boa Felipe! haueaheuaheuhaeua..Rir pra não chorar!

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  9. Agora que tu destacou este trecho do texto fiquei pensando que eles nem sabe para onde vão mas já estão reclamando que fica longe 😛

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