Grupo de estudantes estrangeiros avalia condições de Porto Alegre para sediar Copa de 2014

Olhar estrangeiro na Capital

Ao circular pela área central de Porto Alegre, 21 estudantes de pós-graduação de universidades americanas fizeram, a três anos e um mês da Copa de 2014, um ensaio do que vão viver os turistas esperados para assistir às partidas

Maryana, Matthew, Stephanie, David e Asela – uma das equipes – fotografam na Usina

Ao fim de quatro horas zanzando pela Capital dos gaúchos, Zero Hora fez aos americanos Matthew Olsen e Stephanie Alvaredo uma pergunta simples: Porto Alegre, que será sede da Copa de 2014, está pronta para receber bem seus visitantes?

Em vez de uma resposta direta, o que se seguiu foi um debate acalorado sobre o que a cidade tem de bom e o que precisa melhorar.

– Senti falta de informações básicas, como mapas dos arredores nas paradas de ônibus – disse Matthew.

– Não vi grandes problemas. As pessoas são muito tranquilas, você só precisa chegar lá e perguntar – respondeu Stephanie.

– Mas você fala um pouco de português. Eu não entendo quase nada. Gostaria de ver mais informações óbvias, como em que ponto do mapa estou, onde encontro um ônibus. Consigo me virar a partir daí – rebateu Matthew.

– Acho horrível quando as cidades criam roteiros e jogam as pessoas, em manadas, de um ponto turístico para outro – opinou Stephanie.

– A resposta está no meio-termo – meteu-se a russa Maryana. – Hoje as pessoas compensaram com boa vontade o fato de não conhecermos nada. Mas seria bom que houvesse uma melhor estrutura para andar por aí.

Na nublada tarde de sábado, 21 estrangeiros, na faixa dos 20 anos e de origens tão diversas quanto Sri Lanka, El Salvador e Índia, participaram de uma gincana curiosa: viver Porto Alegre sem ajuda de nenhum nativo. Os estudantes vieram à Capital para prestar consultoria a quatro empresas em um projeto acadêmico coordenado pela Unisinos (veja quadro na página ao lado).

Eles almoçaram em um restaurante, conheceram o Mercado Público e usaram o transporte coletivo, tendo à disposição R$ 40 por pessoa e conhecimentos básicos de português. Entre as impressões, foram duas as que mais se repetiram:

1) Porto-alegrenses sabem receber bem – foram disponíveis para ajudar os estrangeiros, mesmo quando a barreira de língua parecia intransponível.

2) Falta informação para andar pela cidade. As placas são pequenas, os itinerários de ônibus, desconhecidos, e os pontos turísticos, pouco sinalizados.

A experiência serviu para integrar os estudantes, de escolas de negócios americanas, à realidade de uma grande cidade brasileira. Mas também é útil para aferir quão abertos estão os braços de Porto Alegre, que receberá jogos internacionais já em 2013, na Copa das Confederações.

“Bem receber”, um conceito valioso para a Fifa, é básico para turbinar os lucros para o comércio. Entre os bons exemplos, estava a descontração de Juliana Hense, promotora de vendas, que aproveitou o contato com o grupo para sugerir programas para o domingo, em especial o clássico Gre-Nal.

– O contato com o pessoal de fora é muito importante para nós – disse, depois de uma divertida conversa em português, espanhol e inglês.

Algumas dificuldades enfrentadas pelos visitantes, porém, mostram a necessidade de mudanças para o benefício dos gaúchos. Atravessar a rua, por mais simples que pareça, foi um desafio mais sério do que se esperava. Ao final da tarde, momento de conferir notas a diversos aspectos, o olhar estrangeiro sobre Porto Alegre concluiu que ainda há chão a percorrer, mas também há disposição para trilhá-lo.

A atividade
Entenda o que foi feito no sábado, em Porto Alegre:
Os 21 estudantes, de diversas nacionalidades diferentes, cursam Mestrado em Administração em universidades norte-americanas e estão participando de um programa pelo qual vieram ao Brasil para realizar consultoria em quatro grandes empresas, como parte de sua formação acadêmica.
O grupo chegou a Porto Alegre na semana passada para um seminário de imersão coordenado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Como forma de integrar o grupo à cidade, o programa criou uma espécie de gincana: em grupos de cinco, os estudantes foram deixados no bairro Bom Fim, na Capital, com cinco tarefas:
1) Achar um local para almoçar2) Pedir a algum brasileiro que acompanhasse o grupo ao Parque da Redenção e mostrasse, lá, seu local favorito3) No parque, descobrir, falando com pessoas, quem são os três maiores ídolos da dupla Gre-Nal4) Ir ao Mercado Público comprar apetrechos para fazer chimarrão e aprender a preparar o mate5) De lá, descobrir onde fica a Usina do Gasômetro e conhecer o local

Transporte público

Para ir da Redenção ao Mercado Público, o grupo usou o corredor da Osvaldo Aranha. O ônibus da linha São Manoel não deixou dúvidas. No letreiro, o destino estampado: “Mercado”. Pagar a tarifa se resolveu com gestos, mas a desinformações sobre paradas e itinerário confundiu. No Terminal Parobé, a ausência de mapas levou o grupo ir ao Gasômetro a pé.


nota 6,8

“O transporte público precisa ter informações claras. É difícil saber qual linha de ônibus tomar.”

Maria Jose Rivera Alvarenga, El Salvador


Gastronomia

O funcionamento do bufê a quilo foi uma curiosidade para os estudantes, mas a qualidade da comida em um restaurante do bairro Bom Fim obteve aprovação. As sobremesas foram o ponto alto: a russa Maryana Madorskaya serviu-se de doce mesmo antes do feijão com arroz, e a americana Jennifer Lynch (foto) provou – e gostou – do sagu.


nota 8,8

“A comida é muito boa, mas também muito cara!”

Natasha Fong-Cohen, Estados Unidos

Comunicação

Chamou a atenção a disponibilidade dos porto-alegrenses, mesmo com a barreira da língua. Stephanie Alvarado descobriu em um minuto de papo com uma adolescente, no Terminal Parobé, que a Usina do Gasômetro ficava a 10 quadras dali. Para Maria Jose Rivera Alvarenga, de El Salvador, o espanhol facilitou ainda mais as coisas:

– O difícil é entender o português quando vocês desandam a falar.


nota 6,8

“A língua foi um problema. Tive dificuldades no aeroporto, no banco, em restaurantes e cafés. Lugares como esses deveriam ter pessoas que falem inglês.”

Ayan Chatterjee, Índia

Trânsito e sinalização

 Acostumados a usar a faixa de segurança sem sustos, a caminhada pelas avenidas centrais de Porto Alegre trouxe momentos de tensão. Na Osvaldo Aranha, em frente ao Hospital de Pronto Socorro, confundiram-se com a lógica das sinaleiras. Na Mauá, um ônibus que entrava na Travessa Francisco Leonardo Truda em alta velocidade assustou o americano Matthew Olsen:

– Ei, que tal parar na faixa?

nota 6,5

“Monumentos, parques, ruas e paradas de ônibus precisam de mais placas e sinalização mais clara. Não há mapas das redondezas para mostrar como chegar aos lugares que se quer.”

Maryana Madorskaya, Rússia

Comércio e hospitalidade

A tarefa parecia guasca demais para xirus de outros pagos: comprar os apetrechos e aprender, no Mercado Público, a fazer chimarrão. David acompanhou a aula e tirou dúvidas com o dono da banca. A experiência mostrou que, no comércio, a barreira do idioma é superável. Mas foi ela que afastou Asela Gunasekera, de Sri Lanka, de lojas para ele curiosas, como as de artigos de umbanda.


nota 9,2

“Todos foram muito atenciosos conosco, sempre nos dando dicas e conselhos.”

Rui “Jerry” Xu, China


Programas interessantes

nota 7,4

“Porto Alegre não parece ter ‘atrações’ como as que encontramos no Rio, mas fiquei com a impressão de que a cidade tem muito a oferecer aos visitantes quando o assunto é restaurantes, bares e lugares para socializar.”

Stephanie Alvarado, Estados Unidos


Segurança

nota 8,26

“Em geral, me senti seguro andando pela cidade. Havia bastante policiamento, o que é positivo.”

Pavan Chilukuri, Índia


Encomendas dos visitantes para a Copa
– Ter mais bares e restaurantes na área do Cais do Porto
– Implantar o metrô, para reduzir os engarrafamentos
– Promover mais o futebol da cidade, aproveitando a presença de dois grandes clubes
– Ter placas e sinalização em inglês
– Colocar em todos os pontos de ônibus o itinerário das linhas
– Manter um site em inglês focado exclusivamente nos turistas
– Investir em propaganda e placas nas ruas informando que a Capital é uma cidade-sede
Em zerohora.com, confira vídeo com a maratona dos estrangeiros em Porto Alegre.

Zero Hora – Rodrigo Müzell 



Categorias:COPA 2014, Copa das Confederações 2013

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22 respostas

  1. portanto, a comida está sim cara no Brasil. É dificil ir num restaurante a kilo e comer e beber algo por menos de R$10. Nos EUA, China, Russia, India (países citados acima), é MUITO FÁCIL fazer uma refeição simples por menos de U$6,25.

  2. a comida está muito mais cara no Brasil. Tudo está subindo de preço no país, parece q vcs não percebem.

    fica a pergunta pro nosso amigo que disse q trabalhou na Dell. Quando foi isso? A taxa do dólar era a mesma que atualmente? E o preço por quilo? Alguns anos atrás, quase todos restaurantes por kilo em NH tinham valores abaixo dos R$20 por kilo… hoje, a maioria está acima de R$30 por kg.

  3. Espero q o Sr. Tarso Genro e sua tribo (sim, tribo, pois adoram viver no meio do mato) tenham lido:

    – Ter mais bares e restaurantes na área do Cais do Porto.

    Qto aos ônibus, é difícil até para os próprios porto-alegrenses, oq dirá para os gringos.

    Mapas, Linhas e Itinerários nas paradas (como fazer pra q não haja depredação eu não sei) e nos coletivos

  4. Eles deviam ter ido ao Museu da PUC-RS, o MCT.

  5. também me espantei a comida, disseram que deram a eles 40 reais para tudo, mas nao informaram se poderiam gastar além dos 40 ou fazer tudo com 40 reais. Ela ao menos, gastou 15 reais no almoço, para fazer o resto, 25 fica apertado.

  6. Também acho que maneiraram um pouco nas críticas, Marcelo. Foram políticos, ponderados.

    E o metrô é bem-vindo, mas são poucas as cidades até mesmo americanas que os têm. Os vlt’s, metromovers e monorails são bem mais comuns que lá, por serem infinitamente mais baratos.

    As pessoas parecem que não se dão conta de quão caro é escavar túneis pelas profundezas das cidades. Por isso defendo o uso do aeromóvel como meio de transporte de massa, pois só rquer uma mera via elevada singela, infinitamente mais barato e rápido de se implantar, bem como não depende de eletricidade nem de gasolina como combustível de locomoção, pois é movido a ar, sendo ecologicamente correto. Mas como ainda não tem aeromóvel em NYC as pessoas no Brasil não dão bola.

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