O exemplo de Barcelona, Espanha

Barcelona deixou de estar de costas para o oceano e girou-se em sentido ao mar Foto: Liber Filló/Divulgação

TATIANE SEOANE

Direto de Barcelona

Em 1995, o Comitê Olímpico Internacional (COI) reconheceu a importância do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável e incluiu um parágrafo do tema no artigo 2 da Carta Olímpica. Na opinião de Julio Pernas, diretor da Fundação Barcelona Olímpica e presidente da comissão de meio ambiente do Comitê Olímpico Espanhol, esta decisão foi tomada depois do exemplo dos Jogos Olímpicos de Inverno 1994, em Lillehammer, na Noruega. Ainda assim, dois anos antes, na Olimpíada de Barcelona, a cidade já havia tomado medidas que mudaram os hábitos e a qualidade de vida dos moradores.

Naquela época, as cidades que recebiam o maior evento mundial do esporte não tinham advertências sobre a proteção ao meio ambiente e a importância na redução de C02, ou pedidos de desenvolvimento verde.

Depois da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), também em 1992, no Rio de Janeiro, o discurso começou a mudar. A reunião, conhecida como Cúpula da Terra, foi um momento decisivo nas negociações sobre as questões econômicas, sociais e ambientais.

Assim, em Barcelona, todas as medidas que beneficiavam também a melhoria na vida das pessoas, com os preparativos da Olimpíada, se tornaram soluções sustentáveis. A decisão de mais impacto ao meio ambiente foi a retirada da linha inativa de trem, que estava no limite da cidade em relação ao mar, e a recuperação 4,5 km de praia inutilizados.

Desta maneira, Barcelona deixou de estar de costas para o oceano e girou-se em sentido ao mar. Hoje, além da população local, cerca de cinco milhões de turistas pisam nas areias a cada ano. Logo, plantaram-se árvores por toda a cidade e, com o consumo alto de papel que foi gerado durante os 16 dias de Jogos Olímpicos, começou o sistema de reciclagem deste material.

Longe de acusações como a que sofreu recentemente as autoridades do Rio responsáveis pelos Jogos Olímpicos de 2016, de praticar desalojamentos e deslocamentos forçados, Barcelona reutilizou espaços. O Porto Olímpico – principal atração da cidade no evento – reaproveitou o lugar do estádio que existia desde 1929.

Para Rosa Maria Martínez, delegada do Greenpeace Barcelona, esta não foi uma boa solução. “O rompimento da costa do mar provoca desnaturalização das praias. Além disto, esta não é uma atitude positiva para o meio ambiente”.

Porém, o Rio, que cuida bem das praias, tem no tráfico uma das principais preocupações. Barcelona não precisou de novas linhas de metrô para ajudar a desafogar o trânsito, contudo, construiu vias que contornam a cidade.

Assim, os caminhões e muitos carros deixaram de circular pelo centro. Além disso, investiu-se em ônibus com rotas e velocidades mais rápidas, e também em cinco linhas ônibus-expresso que circulam por toda a cidade.

Vale lembrar que o cuidado com o meio ambiente não acaba junto a festa de encerramento dos Jogos. A Barcelona Regional, por exemplo, é uma instituição pública especialmente criada para a administração e continuidade do progresso obtido em função do evento.

Uma das funções dela é cuidar da manutenção das praias de Barcelona. De acordo com Marc Montlleó, diretor de projetos ambientais da entidade, as praias são as que mais demandam prestações de serviços com as duchas de banho, vigilância policial, limpeza diária, lava-pés, banheiros e lixeiras de reciclagem.

Inevitavelmente, estas praias mudaram o estilo de vida dos moradores de Barcelona, que adotou costumes que continuam contribuindo com o meio ambiente. “Hoje, as pessoas utilizam muito as bicicletas como meio de transporte, além de caminharem mais também”, comentou Montlleó.

Segundo Juan Carlos Montiel, diretor da Barcelona Regional, a Olimpíada no Rio de Janeiro tem tudo para triunfar. “Este é um importante momento do Brasil como potência emergente e a cidade tem todas as condições para ser um dos principais exemplos de Olimpíada verde”, disse. “Além disso, pelo caráter da população, acredito que poderá contar com o voluntariado”.

Para os especialistas, o Rio não pode deixar passar esta oportunidade e deve conscientizar a população a respeitar o meio ambiente. Tóquio, que disputou os direitos de organizar a Olimpíada de 2016 com o Rio, tentou convencer a Comissão de Avaliação do COI com a promessa de realizar os Jogos mais ecológicos da história. Agora, fica com a cidade carioca esta responsabilidade.

Portal Terra

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Categorias:ORLA

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21 respostas

  1. Hoje de manhã fazendo um passeio no programa Viva o Centro a Pé vi na praça da Matriz, algo que nunca tinha me chamado a atenção, mas que lembra em pequena escala, esse hotel mencionado antes.
    É o Hotel da Praça da Matriz, que fica num prédio antigo, com o seu charme:

    Não sei se ele vai bem, mas é uma utilização correta desses prédios na área central, talvez precise de mais divulgação, eu não tinha reparado.

  2. Para quem se interessa por Barcelona, criei um grupo no Fcebook chamado Porto Alegre & Barcelona.
    http://www.facebook.com/home.php?sk=group_137599446294661

    A idéia é aproximar as duas cidades. Morei lá 2 anos recentemente e é a cidade onde nasceu meu pai.

    Acima se deu destaque à Torre Agbar, com todo o merecimento. Foi um projeto polêmico por causa do formato fálico, mas hoje em dia é sem dúvida um dos ícones da cidade.

    Agora, uma curiosidade… de quem é o projeto arquitetônico da Torre Agbar?
    Do arquiteto espanhol Fermín Vazquez (escritório de arquitetura b720) juntamente com um arquiteto francês famoso também. E como se sabe Fermín Vazquez é o responsável pelo projeto arquitetônico da revitalização do Cais Mauá.

    Mais detalhes e videos em Cais Mauá e Fermín Vázquez:
    http://jorgepique.wordpress.com/2011/02/05/cais-maua-e-fermin-vasquez/

  3. “RicardoUK permalink
    27/05/2011 20:06”

    “Claro, POA e’ tao rica quanto Barcelona, realmente nao da’ pra entender porque nao temos obras de mesma qualidade.”

    Bah, é por causa desse tradicional e atrasado pensamento típico porto-alegrense (QUE NÃO MUDA E NUNCA MUDARÁ) que a nossa capital não muda (e IGUALMENTE TAMBÉM NUNCA MUDARÁ enquanto esse pensamento não mudar).

    Se nossos antepassados também pensassem assim, hoje não teríamos o aterro, a orla, o Parque Marinha, a Redenção, pois são obras dispendiosas. NÃO TERÍAMOS ABSOLUTAMENTE NADA.

    Será que os nossos antepassados responsáveis por todas essas grandiosas obras migraram junto com a leva de gaúchos que hoje mora nas mais diversas partes do país?

    Na boa, é por esse motivo que estou desistindo de Porto Alegre.

    Até mesmo gente do outro lado do oceano consegue entravar o pensamento e as obras da cidade. Incrível isso. Fenômeno que só ocorre em POA. Caso a ser estudado pelas universidades. Os porto-alegrenses acham maravilhoso ir para o exterior, mas acham que não temos capacidade para ter algo parecido em POA. Enquanto acreditarmos nisso, isso será verdade. E os políticos agradecem, pois não precisam deixar o corpo mole de lado.

    Nos conformemos com a cidade que temos. E curtamos os nossos 30 dias de férias anuais da melhor forma possível longe dela. Não teremos nada melhor do que isso.

    E a copa? Não esperem nada mais do que uma capinada, uma tintinha nos meios-fios e um show popular gratuito no pseudo-afiteatro-pôr-do-sol.

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