ESPECIAL PORTAL 2014: Porto Alegre investe até em barco para melhorar mobilidade

Capital gaúcha também terá BRT e linha especial de aeromóvel

Barco (catamarã) da linha Porto Alegre-Guaíba: passageiros e bikes (crédito: Divulgação SOP/RS)

Marcela Donini, do site Mobilize Brasil* – Porto Alegre

O “Portal 2014” publica uma série de reportagens do site Mobilize Brasil sobre a situação da mobilidade urbana sustentável em 13 capitais. Nesta segunda, destaque para Porto Alegre

Existe um carro para cada 2,7 habitantes da capital gaúcha. Enquanto a população aumentou 3,62% em 10 anos, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a frota de automóveis cresceu 20,38% de 2005 a 2010.

O rápido avanço do índice de motorização de Porto Alegre se reflete em engarrafamentos em horários e pontos inéditos. Por isso, dos oito projetos previstos na Matriz de Responsabilidade para a Copa de 2014, apenas dois beneficiam diretamente o transporte coletivo público: a introdução de um sistema de Bus Rapid Transit (BRT) e o monitoramento dos corredores de ônibus.

Esta é uma das principais críticas do consultor Emílio Merino em relação ao planejamento de mobilidade urbana de Porto Alegre para receber o megaevento. “Em Barcelona, na Olimpíada de 1992, os organizadores reconheceram que deixaram de lado o coletivo e tiveram problemas com engarrafamentos, por exemplo. Para que as modificações para a Copa possam deixar um legado para a cidade no futuro, é preciso potencializar o transporte coletivo mais fortemente”, diz o analista, que acompanhou o início da elaboração desses projetos quando trabalhava para a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).

Hoje afastado da gestão pública, o urbanista preocupa-se com a indefinição sobre como será o sistema de BRTs. No final de agosto, a prefeitura encaminhou para a Caixa Econômica Federal o projeto da primeira etapa, que corresponde à pavimentação dos corredores de ônibus das avenidas Protásio Alves e Osvaldo Aranha. O restante do projeto está suspenso, auaguradando as definições sobre o metrô na cidade, que deverão alterar o sistema de ônibus.

O projeto do metrô está sendo avaliado pelo governo federal, que promete manifestar-se até 30 de setembro sobre sua inclusão no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Caso aprovado, o metrô não ficaria pronto a tempo para a Copa, mas seria uma grande avanço para a cidade, na opinião da professora de urbanismo da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica), Ana Rosa Cé.

Ao comparar a qualidade do sistema de ônibus de Porto Alegre com o de outras capitais brasileiras, a professora considera-o bom. “É, sem dúvida, melhor do que em muitas outras cidades, mas não significa que não deva melhorar”, complementa.

Segundo ela, faltam mais linhas transversais que dispensem ao usuário ter de passar pelo centro para ir de um bairro a outro. A sua expectativa é que os BRTs contribuam para resolver este problema à medida que desafogam a região central da cidade.

Na corrida contra o tempo, a prefeitura de Porto Alegre encaminhou três projetos da Matriz de Responsabilidade para a Copa no final de agosto à Caixa Econômica Federal, órgão financiador dos investimentos. O objetivo, de acordo com o secretário municipal de Gestão, Urbano Schmitt, é iniciar as licitações ainda em 2011 para manter os projetos no PAC da Copa, já que as obras que não iniciarem até dezembro serão rebaixadas para o PAC normal.

Em agosto, o prefeito, José Fortunati, reuniu-se com a União das Associações de Moradores de Porto Alegre (UAMPA) para apresentar as intenções de mobilidade urbana à comunidade. Para o presidente da entidade, Sandro Chimendes, o encontro cumpriu seu papel. “Nosso objetivo de conhecer os projetos de transporte público foi alcançado. O prefeito falou bastante sobre o metrô e os BRTs”, conta.

Segundo Chimendes, os porto-alegrenses costumam dividir-se em dois grupos quando o assunto são os ônibus da cidade. “Quem circula por áreas centrais não costuma se queixar. Agora os moradores dos bairros periféricos conhecem mais problemas, como a demora e a lotação dos ônibus”, comenta. Mas uma reclamação é comum em todas as rodas de conversa da capital gaúcha: o preço da passagem. Reajustado no último verão em R$ 0,25, o bilhete custa hoje R$ 2,70.

Para a professora da PUC/RS, “o usuário só vai mudar de atitude se houver uma oferta qualificada do serviço público, com conforto, conveniência e economia. Depois, podem vir as campanhas para sensibilizar os cidadãos”, diz.

Estacionamento x pedestres

Ana lembra que um dos principais problemas para quem dirige nas áreas centrais de Porto Alegre é a busca por uma vaga, que se tornou praticamente uma caça ao tesouro. “Por isso, os estacionamentos se tornaram grandes negócios, com risco praticamente zero, lucro imediato, manutenção baixa. A cidade está cheia de terrenos vazios, nos quais os proprietários não querem investir. Simplesmente derrubam as construções e abrem espaço para carros”, observa. Para ela, trata-se de mais um obstáculo no caminho do pedestre. “Mesmo com sinalização adequada, essas garagens incomodam quem transita pela calçada”, conclui.

Para resolver outra dor de cabeça dos motoristas –o congestionamento–, a Matriz de Responsabilidade contempla dois viadutos na Terceira Perimetral, via concebida para ser expressa, mas, que se tornou um dos grandes gargalos da cidade. “A Terceira Perimetral tem problemas em quase todos os cruzamentos. A articulação com suas radiais ainda devem ser melhoradas”, opina a especialista. Os projetos dos viadutos e de mais três passagens de nível também foram entregues à Caixa no final de agosto.

Aeromóvel e catamarã

Se a Matriz de Responsabilidade da Copa privilegia obras viárias, outras iniciativas fora do pacote, como o metrô, beneficiam o transporte de uso coletivo e alternativas ecologicamente sustentáveis. Dois projetos que devem sair do papel ainda neste ano são o Aeromóvel e o catamarã.

As obras do Aeromóvel, que vai ligar a Estação Aeroporto da Trensurb ao terminal 1 do Aeroporto Internacional Salgado Filho, estão cerca de 50% concluídas. Comemorado pela prefeitura, o novo transporte é ambientalmente sustentável e deve fazer o trajeto de um quilômetro em 90 segundos. Os dois veículos, com 150 e 300 lugares, serão dotados de ar-condicionado, acessibilidade universal, espaço para bagagens e portas automatizadas. A previsão é de que no início de 2012 já sejam feitos os primeiros testes de operação. O sistema de transporte foi desenvolvido nos anos 1970 pelo gaúcho Oskar Coester e se baseia na propulsão automatizada por meios pneumáticos. Uma linha experimental chegou a ser construída em Porto Alegre, mas a operação comercial somente foi consolidada em 1986, em Jakarta, na Indonésia.

A outra novidade da capital gaúcha corre sobre as águas do lago Guaíba. Lançado em 20 de outubro, o catamarã tem capacidade para 120 passageiros e faz até 28 viagens diárias entre Porto Alegre e Guaíba. O veículo da empresa Catsul está fazendo o trajeto de 15 km em cerca de 20 minutos e é uma aposta ecologicamente sustentável para ajudar a desafogar o vaivém de moradores entre a capital e parte da Região Metropolitana.

Ilustração sobre a futura linha de aeromóvel: ligação com o aeroporto (crédito: Divulgação Trensurb/RS)

Calçadas e acessibilidade

A prefeitura de Porto Alegre deve lançar em breve uma campanha para a preservação das calçadas. Segundo o secretário municipal de Acessibilidade e Inclusão Social, Paulo Brum, 90% delas são de responsabilidade do proprietário do terreno. Com o novo projeto Calçada Segura, o objetivo é sensibilizar o comércio e os moradores para que cuidem de suas calçadas e padronizem os pisos. O secretário afirma que, se o descumprimento da lei persistir, a prefeitura irá aplicar multas e poderá até cassar alvarás de funcionamento de estabelecimentos comerciais. “Não queremos chegar a extremos, por isso, apostaremos na mobilização da comunidade”, diz Brum.

A Secretaria Especial de Acessibilidade e Inclusão Social (Seacis) comemora o recente lançamento do Plano Diretor de Acessibilidade, pioneiro no país. Com 43% dos ônibus da cidade adaptados para cadeirantes e a exigência de que todo novo veículo atenda a esta demanda, Porto Alegre quer se tornar referência. “Em 2014, a cidade terá acessibilidade total”, promete o secretário.

Ciclovias

Para estimular o uso de bicicletas na cidade, a prefeitura promete quadruplicar nos próximos anos a extensão de ciclovias. Parece muito, mas Porto Alegre tem apenas 3,2 km de vias para bicicletas e são dois trechos que não se comunicam e acabam sendo utilizados basicamente para o lazer. Outros 4,6 km estão sendo concluídos no bairro periférico da Restinga.

“Felizmente o tema está na pauta da prefeitura. Mas é preciso avançar e mudar a mentalidade das autoridades e da população de que a bicicleta é uma alternativa de transporte para o dia-a-dia, não só lazer”, ressalta Ana Rosa Cé, da PUC-RS.

Quatro projetos do PAC da Copa contemplarão ciclovias em suas obras, totalizando 13,5 km. Com recursos próprios e contrapartida da iniciativa privada, a prefeitura pretende entregar à população mais 17,4 km até o final de 2013. Segundo o diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, a primeira obra a sair do papel deve ser a da avenida Ipiranga, prevista para iniciar ainda em setembro.

*Texto originalmente produzido para o portal Mobilize Brasil

Risco sobre duas rodas

Quem se aventura a andar sobre duas rodas diariamente precisa redobrar a atenção. Renata Signoretti adotou a bicicleta para ir ao trabalho e à universidade há quatro anos. Nunca sofreu um acidente, mas foi testemunha de um caso emblemático que recentemente colocou Porto Alegre no noticiário nacional e internacional.

No dia 25 de fevereiro deste ano, o motorista Ricardo José Neif, com seu Golf preto, atropelou dezenas de ciclistas do movimento Massa Crítica que pedalavam no bairro Cidade Baixa (veja vídeo) em um de seus passeios mensais pela defesa do transporte alternativo. Renata estava lá e viu seu namorado ser levado para o hospital inconsciente, apesar de ter sofrido apenas escoriações.

O susto deixou a estudante de 25 anos receosa em pedalar nas pistas e trocou-as pelas calçadas. “Parecia que a qualquer momento poderia acontecer de novo, foi inacreditável”, relembra. Aos poucos, voltou a dividir as faixas com os automóveis. Para ela, o mais difícil é fazer com que os motoristas compreendam que lugar de bicicleta também é na rua.

Há três meses sem poder pedalar devido a uma cirurgia em um dos joelhos, Renata voltou a utilizar o ônibus como meio de locomoção. “Eu não tenho do que reclamar. As linhas costumam respeitar os horários”, diz. Com os pés agora no chão, a universitária diz ter percebido mais respeito ao pedestre e até mesmo aos ciclistas. “Na hora de atravessar, há mais carros parando para o pedestre. Ainda não é todo mundo que respeita a faixa, mas minha impressão é de que estamos evoluindo”, conclui.

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15 respostas

  1. Há quem diga que o Guaíba é rio até a Ponta da Cadeia, e a partir dali um lago.

  2. Concordo plenamente com os pontos do Rogério, mas ao menos vai ser BRT de verdade? Até onde sei iam ser feitos pela metade, sem pagamento antecipado por exemplo.

    • BRT só se for a Burocracia Reinando Totalmente…

      A propósito: eu DUVIDO que as empresas vão ser favoráveis às estações-tubo permitindo uma total integração, vão preferir que o usuário pague uma tarifa por cada ônibus, não importa quanto tempo o veículo fique parado gastando combustível até todos os passageiros conseguirem passar pela catraca…

  3. É Isso aí Rogério RIO GUAÍBA.

  4. Engraçado todo o alarde quanto ao transporte pelo Rio. Quando o filho é bonito, tudo mundo é o pai… quem fez isso foi o governo do Estado anterior, mas até o inFortunatti quer ser pai tbm…

  5. É óbvio que os ônibus, incluindo as lotações, devem ser considerados e o serviço ter alguma qualificação, pois é um modal que é bastante flexível com relação às rotas que podem ser percorridas, mas o transporte ferroviário não deveria ser tratado com tanto descaso. Tanto o metrô subterrâneo quanto algumas linhas de Aeromóvel (ou mesmo o desativado bonde) são opções que já deveriam estar em operação, com a possibilidade de integração com o ônibus.

  6. Simon

    Veja o sucesso que está sendo o transporte pelo rio, se o empresário souber manejar bem a imprensa e mostrar a realidade (tem que manejar se não a ATP vai boicotar), teremos em breve mais linhas (Porto Alegre – Pelotas, por exemplo). O que acontecia antes é que os editais para o transporte fluvial pediam até o santinho de primeira comunhão da equipe de projeto, isto era feito para impedir o início do transporte fluvial de passageiros. Coisa semelhante a isto está sendo feita contra os VTLs.

  7. Simon

    Uma coisa é clara, os BRTs não vão resolver o problema dos corredores, por favor, guarde esta resposta para falarmos daqui a quatro anos. Os BRTs foi a maneira que a prefeitura fez para manter os lucros da ATP. A solução para eses corredores são VTL, mas como sempre vamos fazer duas vezes um mesmo investimento, daqui a quatro anos o prefeito que estiver no governo, vai chegar com cara de B… e dizer para todos.

    – Os BRTs não resolveram o problema de Porto Alegre, vamos ter que implantar VTLs!

    E os palhaços todos (nós) pagaremos duas vezes.

    Se escutares algum “ténico” de transportes ele dirá que o BRT é mais barato, e no que os TAPIRUS TERRESTRIS (Antas, para os íntimos) se baseiam. O custo da implantação e manutenção da via (a rua) no caso dos BRT são suportados pelo Estado, logo não entra no custo do transporte, já no caso do VLT o custo dos trilhos e sua manutenção entra no custo, eles comparam alhos com bugalhos pensando que somos todos idiotas (e até certo ponto eles tem razão).

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