Aeromóvel do Aeroporto deve entrar em operação em junho de 2012

Dois veículos, um com capacidade para 300 passageiros e outro com 150 lugares, farão a ligação entre a estação do Trensurb e o aeroporto Salgado Filho

Sistema de transporte coletivo ficou restrito a uma linha experimental no Centro de Porto Alegre Foto: Diego Abs - TRENSURB/DIVULGAÇÃO/JC

Demorou alguns anos, mas depois da tentativa de concretizar um transporte revolucionário no Centro de Porto Alegre, o aeromóvel será utilizado na Capital gaúcha para transportar passageiros entre o aeroporto Salgado Filho e a estação da Trensurb mais próxima. De acordo com o diretor-presidente da Trensurb, Humberto Kasper, a operação do veículo movido a vento deverá iniciar até junho de 2012.

O dirigente explica que são várias etapas distintas da obra que estão acontecendo simultaneamente, através de quatro contratos firmados. O principal, com a empresa Aeromóvel Brasil, tem como objeto desenvolver o pacote tecnológico e gerenciar a implantação da totalidade do projeto. A construção do elevado por onde se movimentará o veículo ficou a cargo da construtora Premold, o que inclui a execução das fundações e dos pilares.

Para acelerar o processo, a licitação da obra civil das duas estações de conexão do aeromóvel foi feita separadamente. A companhia vencedora foi a Arcol Engenharia. Os veículos também foram alvo de um acordo próprio e a T’Trans os está fabricando no município de Três Rios, no estado do Rio de Janeiro. A previsão de conclusão desses equipamentos é para abril do próximo ano.

Serão adquiridos dois veículos, possibilitando que um fique de reserva caso ocorra algum problema de operação. Um deles terá capacidade para 300 passageiros, com utilização prevista para os horários de maior movimento, e outro de 150 lugares, que poderá ser aproveitado em momentos de menor demanda. Quando concluído, o aeromóvel deverá percorrer os 952 metros que separam o Salgado Filho e a estação da Trensurb em cerca de 90 segundos.

Sobre o uso dessa solução para fazer a conexão com o Salgado Filho, Kasper argumenta que os aeroportos brasileiros apresentam atualmente uma grande deficiência quanto aos acessos por meios de transporte públicos. “Esse problema foi apontado durante a CPI da crise aérea brasileira e uma das recomendações foi que o governo tratasse desse tema”, lembra o executivo. Ele destaca que já naquela ocasião a alternativa do aeromóvel foi mencionada.

O diretor-presidente da Trensurb ressalta ainda que, com a redução dos preços das passagens aéreas, todas as classes econômicas estão utilizando esse modal atualmente. Com isso, aumenta a perspectiva do número de usuários que poderão optar pela Trensurb para chegar ao aeroporto gaúcho. Kasper salienta que, além de o trem permitir uma ligação com o Centro de Porto Alegre, a expansão vai levar passageiros até Novo Hamburgo. Essa iniciativa prevê, no total, mais 9,3 quilômetros da Linha 1, atingindo o total de 43 quilômetros de extensão. A estimativa é de que com esse empreendimento cerca de 30 mil novos passageiros ao dia sejam agregados à movimentação da Trensurb.

“As pessoas poderão deixar seus automóveis em casa e irem de trem para o aeroporto, até porque o estacionamento do complexo encontra-se com pouco espaço”, projeta Kasper. O executivo acrescenta que o aeromóvel será considerado uma continuação da Trensurb, que será responsável pela sua operação. Ou seja, não será cobrada uma nova tarifa, além da usual do transporte de trem, para quem utilizar o serviço.

Investimento será superior à previsão inicial do projeto

Inicialmente, o investimento estimado para concretizar o sistema de transporte utilizando o aeromóvel até o aeroporto Salgado Filho era de aproximadamente R$ 29 milhões. Contudo, esse valor sofrerá algumas alterações. O diretor-presidente da Trensurb, Humberto Kasper, calcula que o montante deverá chegar, no final da obra, a algo em torno de R$ 33 milhões.

Entre os motivos desse incremento, o executivo revela que, quando a Premold começou a realizar as fundações da estrutura, foi constatado que havia uma adutora enterrada que precisaria ser removida. Esse obstáculo não aparecia nas plantas da prefeitura. Os saldos dos contratos precisam ser reajustados também. Kasper revela ainda que, no ano passado, não houve a liberação de recursos suficientes para alcançar a velocidade esperada da obra. A ideia era gastar R$ 9 milhões, mas só foram liberados R$ 3 milhões.

Essas questões fizeram com que a perspectiva de início de operação do aeromóvel, antes estimado para o começo do próximo ano, passasse para meados de 2012. Os recursos para a concretização do empreendimento serão provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

Apesar dessas dificuldades, Kasper afirma que em breve as obras da estrutura elevada do aeromóvel começarão a se destacar na paisagem próxima ao aeroporto. Ele relata que os 70 pilares que comporão o complexo já foram fabricados e a parte das fundações, onde as estruturas serão encaixadas, também se encontra em fase avançada. Kasper comenta que, conforme um estudo realizado pela Ufrgs, a expectativa é de que cerca de 7 mil passageiros utilizem o sistema do aeromóvel diariamente. No entanto, o dirigente acredita que esse número pode ser ainda maior.

Metrô de Porto Alegre aumentará as possibilidades de utilização do veículo

A construção da linha 1 do metrô de Porto Alegre contribuirá para potencializar a Linha 1 da Trensurb, aumentando a movimentação dos dois sistemas, projeta Humberto Kasper. Essa perspectiva, segundo ele, amplia as oportunidades de aproveitamento do aeromóvel para promover a conexão dos dois meios de transporte.

Uma ação fundamental quando o metrô for finalizado, segundo o dirigente, será a conexão da linha 1 com o terminal intermodal (ônibus e metrô) Cairu. Ele adianta que uma alternativa seria fazer uma derivação da própria linha da Trensurb até o local. “Outra fórmula seria a ligação entre a estação da Trensurb e a Cairu com o aeromóvel”, informa Kasper.

O executivo relata que a Trensurb convidou empresas para desenvolverem projetos que aproveitem a tecnologia do aeromóvel, assim como a de outros sistemas leves sobre trilhos. “Eventualmente, podemos discutir com a prefeitura de Porto Alegre outras utilizações para o aeromóvel”, adianta. Kasper acrescenta que há ideias, uma delas o uso do sistema sobre o arroio Dilúvio, consolidando uma linha ao longo da avenida Ipiranga, que também poderão ser avaliadas.

Outra oportunidade será aberta com a construção da Arena do Grêmio, no bairro Humaitá. Kasper faz a ressalva de que a Fifa recomenda certa distância entre um estádio de futebol e o modo público de transporte. “Isso para que haja o arrefecimento dos ânimos depois da saída do jogo”, explica. Nesse sentido, a estação Anchieta da Trensurb está a uma distância satisfatória em relação ao estádio gremista, a cerca de 1,5 quilômetro.

“Mas haverá vários empreendimentos comerciais associados ao complexo e, para esse público que circulará na região no dia a dia, seria interessante uma ligação entre a estação e o local”, argumenta. Uma possibilidade levantada é que essa conexão possa ser feita pelo aeromóvel durante os dias normais, com o serviço sendo interrompido durante os dias de jogos. Kasper salienta ainda que a Pucrs iniciou estudos para a eventual implantação do sistema aeromóvel dentro do seu campus.

O professor da Faculdade de Engenharia da universidade Edgar Bortolini explica que está prevista a construção de uma linha-laboratório na Pucrs. Ainda não está definido o cronograma do empreendimento, mas o complexo servirá para aprimorar a tecnologia empregada no aeromóvel e envolverá Pucrs, Ufrgs, Finep e Aeromóvel Brasil. Bortolini adianta que um dos focos dos estudos será o aumento da eficiência energética do sistema. Essa meta pode ser alcançada diminuindo o peso do veículo. “Quanto mais leve for o veículo, maior a eficiência energética”, diz.

Coester desenvolve conceito do trem movido por ventilação forçada desde a década de 1960

Coester antevê novos destinos para a sua invenção depois da linha na Capital.CLAUDIO FACHEL/ARQUIVO/JC

Na década de 1960, o idealizador do aeromóvel, Oskar Coester, já pensava que quando se trata do tema mobilidade há três fatores importantes: o tempo de espera, o acesso e a velocidade. Nessa época, ele formatava a concepção de um veículo extremamente leve, como que constituído da fuselagem de um avião, apoiado sobre trilhos.

Sua experiência na Varig, onde trabalhou por 13 anos, assim como cursos de especialização na Boeing, contribuiu para o aprimoramento desse conceito. “A gente não inventa nada, apenas enxergamos as coisas quando estão a nossa vista, tudo isso não teria acontecido se eu não trabalhasse na aviação”, afirma Coester.

Depois de um período em que esteve mais focado nas atividades habituais da sua empresa, durante uma viagem para Porto Alegre, preso em um engarrafamento, Coester retomou seu projeto, focando-se em qual seria a forma de movimentar o veículo. “E, não sei por que cargas d’água, pensei em por que não usar o princípio do barco a vela”, relata Coester. Ele acrescenta que lembrou das vagonetas dos molhes do município de Rio Grande.

A partir dali o que era uma idealização começou a se tornar realidade. Em 1979, assinou convênio com a então Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU), Fundação Universidade-Empresa de Tecnologia e Ciências da Ufrgs e Coester para a construção de um trecho experimental do aeromóvel, com 500 metros de extensão. Os testes, efetuados no bairro Serraria, em Porto Alegre, indicaram viabilidade técnica e econômica da utilização da tecnologia em sistemas de transporte urbano de média capacidade.

Essa primeira experiência utilizou um veículo de 12 lugares. Um ano depois, o mesmo equipamento foi apresentado em uma feira realizada em Hannover, na Alemanha, e em nove dias foram transportadas cerca de 18 mil pessoas. “Foi a grande atração”, recorda Coester.

Logo depois, em 1981, começou a ação envolvendo o aeromóvel que, até o projeto ao lado do aeroporto Salgado Filho, era a mais conhecida dos gaúchos. Naquele ano, o Ministério dos Transportes e o governo do Estado assinaram contrato para implantação da Linha-Piloto de Porto Alegre, ao lado da avenida Loureiro da Silva, com 1.025 metros de via elevada, conectando duas estações com um veículo articulado com capacidade para 300 passageiros. A inauguração ocorreu em 1983.

Com as mudanças dos governos, não houve expansão da malha, o que inviabilizou a operação comercial do sistema. Originalmente, o objetivo era instalar um anel viário na área central da Capital gaúcha para o aproveitamento do aeromóvel. No final da década de 1980, a tecnologia atravessa o oceano e é aproveitada em uma linha concretizada em Jacarta, na Indonésia.

Agora, Coester imagina novos destinos para o aeromóvel. Para ele, a via elevada soluciona a limitação dos espaços nas cidades. “E o mérito dessa tecnologia é o de movimentar as pessoas gastando menos energia e dinheiro”, enfatiza. As universidades estão entre os possíveis clientes desse meio de transporte. O sistema poderá ser empregado, no futuro, na universidade da Geórgia, em Atlanta, nos Estados Unidos.

Empresa pretende propagar o uso da tecnologia

A expectativa dos empreendedores com o projeto que está sendo implantado no Estado é que a iniciativa sirva de vitrine para a ampliação do uso da tecnologia no País e para exportação. O coordenador de engenharia da Aeromóvel Brasil (empresa vinculada ao grupo Coester), Diego Abs, enfatiza o baixo custo de implantação e operacional.

Ele salienta que os componentes dos veículos podem ser adquiridos no mercado nacional, dispensando a importação. “Essa característica contribui para desenvolver uma cadeia produtiva local”, aponta Abs. Ele revela que estão sendo debatidas dentro da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) formas de certificação para o transporte. Com isso, ele prevê que aumentará o interesse de outros órgãos públicos.

Abs sustenta que o equipamento pode ser adaptado dentro da malha urbana sem maiores dificuldades. Além disso, representa um pequeno impacto ambiental, com baixa emissão de ruídos e pouco consumo de energia. Os princípios básicos do projeto que está sendo implementado próximo ao Salgado Filho são semelhantes aos empregados na iniciativa desenvolvida ao lado da usina do Gasômetro, em Porto Alegre. Mas os materiais, os componentes e o design do aeromóvel atual são diferentes.

O veículo contará com ar condicionado e televisores, entre outros confortos. A operação será realizada automaticamente, sem condutor. “É como se fosse um elevador horizontal”, explica Abs. A movimentação do veículo será viabilizada por um ventilador que envia ar para dentro de uma tubulação, sob os trilhos. Depois disso, o vento impele uma placa de propulsão. “É um barco a vela virado ao contrário”, compara Abs.

Jefferson Klein – Jornal do Comércio



Categorias:Aeromóvel, Meios de Transporte / Trânsito

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16 respostas

  1. Foto linda???? haaaammm??
    Um amontoado de galpoes/depositos, uma vegetacao disforme e mal planejada no entorno e as famosas barraquinhas da Gatorade no barranco da orla…

    Vcs devem estar brincando.
    A visao do inferno…credo!!

  2. Pra que gastar com essa ligação inútil do trem com o Aero? Se fosse longe pelo menos, mas não é. Basta usar a passarela e tu já ta dentro no Aero…

    Com essa grana poderia tocar o projeto desse ‘trenzinho’ aí da foto ligando o centrão a zona sul. Muito mais útil para a população…

  3. Marcelo, quem mora de Canoas a Novo Hamburgo pode pegar um táxi, ir até a estação e estar a seguir na porta do Salgado Filho. Nem conto quem vai usar o trem dentro de Porto Alegre. E o passageiro que vai ficar no Sheraton? Esse pagaria táxi até se o Salgado Filho fosse em Nova Santa Rita! Eu não estou discutindo se o aeromóvel vai disputar com o táxi, é claro que não. Não seria ignorante de dizer que o público que vai de táxi vai se deslocar para o trem via aeromóvel pra ir parar no meio de POA…

    Onde eu quero chegar: é impossível esquecer que 1,5 milhão de pessoas moram nas cidades atendidas pelo Trensurb, tirando POA fora dessa conta.

    E cara, se formos um pouco mais otimistas, o Trensurb vai ligar-se com a Linha 2 em algum momento. Mas OK, isso nem deveria entrar na discussão, pois essa linha mal está saindo do mapa.

  4. Olha, eu tenho uma opinião totalmente contra esse aeromóvel ONDE ESTÁ SENDO CONSTRUIDO. Ninguém vai ao aeroporto de ônibos ou tremsurb. As pessoas vão de carro ou de taxi. Ao desembarcar idem. Ele vai virar atração turística, mas não servirá para muita coisa ali. Ele deveria estar sendo construido ligando o Mercado Público ao Gazômetro ou do Gazômetro ao Beira Rio. Eu acho um gasto absolutamente errado de dinheiro.

    • Discordo, acho que muita gente vai optar pelo aeromóvel (e claro, continuará indo gente de carro/taxi)

      • Principalmente quem é da Região Metropolitana… aliás, acho que esse foi um dos principais motivos pro Aeromóvel do aeroporto.

        Se fosse só porque as pessoas não querem caminhar o trecho de passarela porque acham muito grande, eu já ia achar frescura.

        Ah, e eu quado viajo, se a mala não é mto grande lógico, não vou de carro pro aeroporto: o T11 passa na frente de casa (moro umas paradas antes do final da linha) e me larga praticamente no embarque… pra que eu vou atravessar a cidade de carro?

        • Concordo. Deveria ligar o centro ao Campus do vale da Ufrgs, passando pela PUC. Seria mais útil. Mas numa cidade em que o povo recebe migalhas, tudo é lucro. Fico feliz até com recolhimento de lixo. Porto Alegre acorda, ainda que lentamente para a importância de transportes alternativos.

    • Marcelo, como você afirma isso com tanta certeza? Tem algum estudo falando sobre esses dados?

      • Marcos, algumas coisas são óbvias: quando você for a São Paulo ou Lisboa, tomará um ônibos para o centro com suas malas, câmeras e dinheiro, depois pegará o ternsurb? Ou vai de taxi ou vai pedir para um familiar te levar até o aeroporto?
        Ao chegar um turista ou empresário aqui, ele vai pegar o aeromóvel, o trensurb pro centro, depois um onibos pro Sheraton, ou vai pegar direto um táxi do aeroporto?

        • Concordo contigo Marcelo, também acho que este trem será apenas uma atração turística para Poa, ninguém pega trensurb para ir ao aeroporto, carregando malas. Por falar em trensurb, aquelas composições ja estão precisando sofrer uma reforma, para modernizar o design das mesmas, o equipamento já está bem defasado.

        • Concordo com o Marcos. Na melhor das hipóteses os responsáveis devem ter feito algum estudo de demanda para o uso….

          Na pior das hipóteses foi tudo uma jogatina para desviar dinheiro…

      • Nao era para junho de 2012? Ja foi para 2013 e com mais aditivos ainda? Nao demora o km vai estar custando 50 mlhoes!

    • Se saísse do papel aquele projeto do metro-shopping junto da estação da Trensurb do aroporto não teria qualquer dúvida que esta linha de aeromóvel seria muito bem utilizada com alto potencial de lucro. Mas, tenho dúvidas se, sem o tal projeto, este aeromóvel não vai se tornar um elefante, muito em conta da experiência do Gazômetro, embora aquele seja bem diferente, pois não conecta nada com nada. Torço muito para que dê tudo certo e, comprovado o sucesso do aeromóvel, gostaria muito que outras linhas se multiplicassem pela cidade.

  5. Alguem sabe me informar,oque ira ser feito no pontal do estaleiro e quando?Ah e se o shopping belveder vai sair do papel?

  6. Que foto bonita, demorei pra ver que era Poa.

    • Guilherme pensei a mesma coisa, é uma bonita foto,também demorei para ver que era Poa, parecia até um lugar no Caribe, com aquelas palmeiras e as copas das árvores e o lago ao fundo hehehe.

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