Aeromóvel: Coester quer realizar um sonho

O idealizador do aeromóvel na Capital e inventor do protótipo, destaca as dificuldades naturais de se implantar novas ideias

Novo sistema de transporte deverá ser inaugurado ainda neste ano Crédito: PAULO NUNES

Uma vez ou outra, Oskar Coester imagina a inauguração do aeromóvel. Em um dia de sol e céu azul, o presidente da República e outras autoridades mostram-se admirados com a invenção. Balões que saem de dentro do veículo dão as boas-vindas aos primeiros passageiros. Não é um sonho, mas sim a lembrança de um momento que Coester espera reviver em breve. É desta forma que ele descreve a inauguração do aeromóvel de Jacarta, na Indonésia, no dia 20 de abril de 1989. “Foi um dia inesquecível para mim”, recorda.

A emoção foi grande, mas não se compara à abertura do aeromóvel do Aeroporto Salgado Filho, marcada para ocorrer ainda este ano. Pela primeira vez, o sistema de transporte inventado no Rio Grande do Sul vai operar comercialmente no seu estado de origem. “Estou com 73 anos, pode ser que eu nem viva mais. Mas parece que esse do aeroporto eu vou ver andar”, comenta o empresário responsável pelo sistema de transporte.

A linha experimental, instalada na avenida Loureiro da Silva em 1982, ficou inacabada depois que o governo federal cortou o apoio ao projeto, em setembro do mesmo ano. Após três décadas, Coester acredita que o fato de o aeromóvel não estar presente em outros locais do Brasil e do mundo não é sinal de fracasso. “O que acontece em uma cidade não é atribuição nossa. Não temos ingerência”, observa. Parte do resultado ele atribui a uma dificuldade natural em implantar novas ideias. E dá um exemplo: “Quando eu estava na escola, havia o pensamento de que o ultrassom gerado pelas turbinas iria inibir as galinhas de botar ovo e as vacas de dar leite”.

Gaúcho de Pelotas, Coester trabalhou como funcionário da Varig na década de 1960. Nesta época, começou a pensar no desafio cada vez maior de se locomover nas grandes cidades. “Você vai daqui ao Aeroporto Salgado Filho e leva mais tempo (no deslocamento) do que do aeroporto a Guarulhos”, explica. Nasceu assim o conceito de um transporte em via elevada que ignorasse os obstáculos de ruas e avenidas. Para movimentar o veículo, Coester utilizou o princípio de um barco a vela ao contrário. A pressão, a direção e a velocidade são controladas por meio de ventiladores estacionários. O inventor, que nunca concluiu um curso superior, aliou a eficiência do transporte ferroviário ao conceito de aviação de leveza.

O peso do protótipo instalado na linha experimental, com dez toneladas, é pelo menos cinco vezes menor do que um veículo ferroviário convencional.

O aeromóvel destinado à linha do aeroporto está sendo construído por uma empresa do Rio de Janeiro e pesa sete toneladas. Na década de 1980, testes do Ministério dos Transportes apontaram um consumo de 32 watts por passageiro a cada quilômetro percorrido, enquanto o ônibus gastou o dobro de energia. “Você paga pelo peso que movimenta”, diz Coester. Para construir uma linha de aeromóvel, são necessários 20 milhões de dólares por quilômetro – pelo menos três vezes menos do que o transporte ferroviário convencional, diz Coester. Já o custo de manutenção é calculado em 1 milhão de dólares por ano.

Cloraldino Severo critica projeto

Linha para a zona Sul não se justifica, diz ex-ministro Crédito: MAURO SCHAEFER

Um gaúcho foi o responsável por desenvolver o aeromóvel, e outro, pelo seu declínio. Quando assumiu o Ministério dos Transportes, em 1982, Cloraldino Severo, nascido em Uruguaiana, interrompeu o apoio do governo federal à iniciativa. Inicialmente, o projeto havia contado com o apoio da antiga Empresa Brasileira de Transporte Urbano (EBTU), que investiu cerca de 4 milhões de dólares. Enquanto permaneceu no ministério, até 1985, Severo inaugurou obras importantes no Rio Grande do Sul, mas, após 27 anos, ele ainda sofre críticas pela obra que deixou de fazer. E não se arrepende.

“Não se tratava de capricho pessoal ou teimosia. Eu estava respaldado por profundas análises de institutos técnicos, consultores e organizações do ministério, professores respeitáveis e pela minha análise de profissional reconhecido na área de transportes urbanos do país”, justifica Severo, hoje com 73 anos. Seu principal argumento é que, desde que o projeto original foi arquivado, não houve quem investisse no novo modelo de transporte. “Passaram-se mais de 20 anos e ninguém implantou o aeromóvel. Nem mesmo no exterior, para onde tantas vezes nos disseram que iriam vendê-lo, o projeto foi comprado. Por certo não foi porque o ministro Cloraldino foi contra”, diz. Para ele, o investimento em uma linha Centro/Zona Sul não se justifica em razão de o transporte público já apresentar opções neste trecho. “Essa demanda é atendida muito bem por táxis e transporte públicos”, observa. Severo diz que a zona Sul da Capital requer uma intervenção na mobilidade urbana, mas voltada ao estímulo de outro veículo: a bicicleta.

Na Indonésia, funciona em parque

Defensores destacam que aeromóvel não trepida e é mais regular Crédito: MAURO SCHAEFER

O único aeromóvel em funcionamento está localizado do outro lado do mundo. Fica em Jacarta, na Indonésia, e é utilizado apenas por visitantes de um parque temático. Para especialistas em trânsito, a ausência de testes eficazes com o transporte de massa gera dúvidas sobre a viabilidade do investimento.

Higiênico, confiável, sem trepidações e com frequência mais regular. Segundo o engenheiro Mauri Panitz, ex-diretor técnico da Secretaria de Infraestrutura e Logística, estas são algumas das vantagens que o aeromóvel poderá propiciar aos usuários. “Todo transporte sobre trilhos é mais confortável do que o rodoviário”, avalia. Entre os pontos positivos, ele cita, ainda, a energia limpa e o desenvolvimento de uma tecnologia própria. O engenheiro aconselha, contudo, que, antes da implantação de uma linha extensa, o veículo passe por um período de observação.

Correio do Povo



Categorias:Aeromóvel

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21 respostas

  1. O engenheiro Oscar Coester, além de inventor é também um sábio. Ele disse que as novas ideias sempre custam a ser implantadas. Naturalmente elas entram em choque com interesses estabelecidos. Porém com o tempo e a insistência, tudo pode acontecer. Lembram, quando surgiu o motor a jato? O mesmo teve o antagonismo dos fabricantes de hélices e naturalmente de motores a pistão. Porém, a situação até que foi contornada com a invenção do turbo-hélice. Ou seja, novos inventos surgiram desse antagonismo. Hoje convivem muito bem na aviação, todos os tres tipos de propulsão, a seguir: motor a pistão, turbo-jato e turbo-hélice. Quanto a Cloraldino Severo, lembro muito bem da frase que ele pronunciou quando indagado sobre a invenção do aeromóvel: ” Sonho de gaúcho” Lamentável, homem sem sonhos, cego e digno de pena! Arsenio.

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  2. “Para ele, o investimento em uma linha Centro/Zona Sul não se justifica em razão de o transporte público já apresentar opções neste trecho. “Essa demanda é atendida muito bem por táxis e transporte públicos”, observa.”

    Será que esse ser tão inteligente já pegou um ônibus lotadérrimo do centro pra ir até a zona sul, sem ar condicionado nem nada? Ora, se está lotado vai de táxi, porque todo mundo tem dinheiro pra isso, não é mesmo? Patético…

    Achei estranho ele falar do nada em bicicleta. Me pareceu mais uma desculpa pra ser contra o aeromóvel, mas não se fazer parecer anti-ecológico. Claro que a zona sul tem que ter ciclovias e ciclofaixas, mas outras opções de transporte como trem/aeromóvel/VLT são vitais.

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  3. Qdo o cara falou q a área era atendida por TÁXI, deu vontade de rir. É patético publicarem uma declaração dessas no jornal. Botem uma criança para opinar então… ela talvez diga menos despautérios do que esse cidadão.

    Andam dizendo que o aeromóvel não seria transporte de massas. Como assim? Até onde eu saiba, mencionaram trilho de ida e volta, e vários carros, com capacidade pra 300 pessoas cada. Lógico que não serve pra nada se não tiver dois trilhos, a não ser que a linha complete um anel completo, mas não acreditaria em tamanho amadorismo (mesmo com vários exemplos históricos de inaptidão do poder público).

    Concordo no ponto em que a zona sul não é a área que mais precisa disso. O eixo da Bento, da Ipiranga, da Sertório e da Protásio realmente são mais problemáticos. Mas como “pontapé inicial”, acho extremamente válida essa ideia da linha pra zona sul. Já vai servir pra bastante coisa. Passaria pelo Praia de Belas, Beira-Rio (serviria em dia de jogo), ao Barra Shopping, ao hipódromo… e ainda com uma bela vista do Guaíba, ar-condicionado e boa freqüência, coisa que não existe nos ônibus. Se estenderem mais pro sul, com certeza seria uma alternativa muito mais rápida para ir ao centro.

    Em dando certo essa linha, por que não pensar em fazer uma malha de aeromóveis pela cidade, ao invés de metrô? Tecnologia local, muito mais barata e mais rápida de construir que o metrô. Cidades da Ásia usam outros tipos de monotrilho como meio de transporte. Cito o exemplo de Chongqing, na China. O monotrilho de lá possui 3 linhas, mais de 70km, e 58 estações. http://en.wikipedia.org/wiki/Chongqing_Rail_Transit

    Porto Alegre tem que parar de pensar pequeno e defender essa corja que comanda o nosso caro e ruim transporte coletivo.

    Era isso.

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    • Correção: a menor dessas 3 linhas da cidade chinesa é metrô, mas ainda assim a parte que é monotrilho é grande.

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    • “Em dando certo essa linha, por que não pensar em fazer uma malha de aeromóveis pela cidade, ao invés de metrô? Tecnologia local, muito mais barata e mais rápida de construir que o metrô.”

      Se tu descobrir por que eles sao contra, nos avisa. Ta todo mundo querendo saber desde os anos 80.

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  4. Pior que ver o aeromóvel mal aproveitado por décadas é ver um boçal do nível desse Cloraldino Cretino tentar combater a sua implantação para justificar sua falta de visão e incompetência quando era ministro. Cala a boca, entulho!

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  5. HAHAHA a soluçao dele pra transporte na zona sul é o TAXI! QUE GENIAL! Claro que aliado ao nosso maravilhoso sistema (caro e ruim) de onibus.

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  6. Em Florianópolis há ônibus com espaços para pranchar de surf. Poderia ter espaço para bicicletas no Aeromóvel.

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  7. Acho que ninguém tem idéia da força que tem o lobby dos empresários que exploram o transporte público, em qualquer iniciativa que afetem os seus lucros, digo, interesses.

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    • E nunca vão admitir isso. Eles devem estar “p… da vida” com a aprovação do metrô e com a concorrencia publica prevista pra 2013. Se eles puderem bloquear isso tudo, eles vão.

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    • A cidade tem sido cada vez mais invadida pelos transportadores de pessoas clandestinos, por culpa do poder público ( que não fiscaliza e não atende as demandas da população) e do lobby da ATP ( que insiste em não atender linhas deficitárias e horários que não lhe encham o bolso).
      O site pode sim, fazer uma campanha de mobilização, fazendo uma enquete quais linhas que podem ser criadas, quais horários que faltam ( na minha zona, a única linha de ônibus não funciona aos domingos, como se os cidadãos não saíssem de casa neste dia). Também a desregulamentação das tarifas, pode trazer concorrência e melhoria nos transportes. Hoje um dono de taxi-lotação não pode cobrar uma tarifa inferior à definida, mesmo que saiba que um valor menor, vai lhe trazer mais passageiros e eventualmente lhe dar muito mais lucro.
      Isto sim, trará uma melhoria para a cidade – ficar apostando numa idéia que custa 40 milhões por km, e ninguém sabe se funciona, e ninguém no mundo quis apostar nela como transporte de massa é algo de resultado muito improvável.

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  8. Faltou CULTURA, em qualquer outro lugar da europa ou USA ja teria um lobby de investidores interesados em colocar este sistema no lugar. E’ obvio que o ministro este tem culpa sim do projeto nao ter andado, mas mesmo assim se tivese CULTURA, e com isso me refiro a “confianca em si proprio” e “atidtude”, iriam em frente com ou sem o ministro este. Mas infelizmente isto numca aconteceu e nem ira acontecer, cada dia que passa se espera mais e mais do GOVERNO, que na verdade se parece mais com uma religiao do que qualquer outra coisa.

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    • geralmente eu não concordo contigo mas agora eu vou ter que concordar. Tem faltando MUITA ATITUDE em qualquer esfera governamental nesse país.. thumbs up!

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  9. Chega a ser incrível para não dizer outra coisa com relação a esse cidadão chamado Cloraldino Severo, em que o mesmo se acha dono da verdade. Ora ao propor ciclovias para a Zona Sul o mesmo parece desconhecer a referida área com suas características.

    Fico a imaginar o cidadão vindo de bicicleta da zona sul até o centro da cidade.

    Na verdade do meu ponto de vista, entendo que faltou empenho das autoridades responsáveis em propor a implantação do sistema Coester, sim, os interesses eram outros.

    Seria interessante que o mesmo realizasse uma crítica para o modelo da Coester a ser implantado no aeroporto Salgado Filho.

    Enfim, interesses maiores sobrepõem a uma decisão política e o devido aporte para este modelo de transporte.

    Ao que parece os interesses são maiores para a implantação do metrô a um custo altíssimo.

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    • Até hoje dizem que o não avanço do projeto foi manipulação das empresas de onibus de porto alegre para que não fosse adiante, será??? Até faz sentido pois iria por toda a Ipiranga, com isso, a carris teria uma queda consideravel na arrecadaçao, ja que seria mais economico ir de aeromovel por lá. Enfim, nunca saberemos a verdade real disso.

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    • Alex, até onde sei não ia na Ipiranga toda não, ia circular o centro todo. Mas era uma boa ter algum típo de veículo sobre trilhos na Ipiranga sim.

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  10. Aviso a quem interessar possa: a equipe do Blog está de olho em trollers, falsos e-mails, falsos nomes, spams diversos e em quem só quer avacalhar com tudo. Se você é um deles, não perca tempo comentando aqui, pois será moderado.

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    • Notícia quente, Gilberto – O Diretor-Superintendente da SPH, Vanderlan Vasconcelos (PSB), foi exonerado do cargo hoje (7/2, Diário Oficial, página 5), junto com o Diretor de Portos, Silvio David (“PT”). Os dois eram muito “amigos” meus (assédio moral), por isso não sinto nenhuma tristeza com o ocorrido …

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  11. Gente, a “solução de transporte” do tal do ex-Ministro para a Zona Sul é A BICICLETA? Será que esse indivíduo tem noção da distância e do relevo envolvido? Que parvoice.

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    • Tô dizendo, esse pessoal continua achando que a Zona Sul é uma área rural. Bem, de certo ele conheceu a zona sul na época que estava no ministério, ou seja, quando o Cristal era uma várzea e a tristeza era totalmente horizontal.

      E será que ele sabe que já há ciclovias sendo feitas ou próximas de começar?

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