Porto Alegre tem mais de 1,3 mil adultos morando nas ruas

Problemas mentais e desintegração familiar estão entre os motivos GILMAR LUÍS/JC

O desafio está lançado. Se quiserem passar uma boa imagem aos turistas que virão assistir aos jogos da Copa do Mundo daqui a dois anos e, mais do que isso, trazer mais dignidade à vida de mais de 1,3 mil pessoas adultas que vivem nas ruas de Porto Alegre, os gestores públicos terão de se agilizar. Um estudo divulgado ontem pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) apresentou um panorama da situação na cidade.

A pesquisa detectou 1.347 pessoas em situação de rua em Porto Alegre. O levantamento foi realizado entre os dias 13 e 21 de dezembro do ano passado. De acordo com o trabalho, os nascidos em Porto Alegre constituem metade (49,95%) do total de pessoas que vivem nas ruas da cidade.

A análise também constatou que houve uma mudança na distribuição territorial dos indivíduos, diminuindo a permanência em praças e parques e aumentando, quase na mesma proporção, a quantidade de pessoas que circulam pelas ruas. Conforme a Fasc, a concentração mais forte de pessoas segue sendo no Centro Histórico e arredores.

Em relação ao contexto social em que se encontrava, 48,9% disseram viver com outros adultos em situação de rua e 46,3% se disseram sozinhos, o que pode indicar um cotidiano de convivência com o grupo de pares e/ou situação de isolamento.

A pesquisa foi realizada em parceria entre a Fasc e profissionais e estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Entre 2007 e 2008, um outro estudo apontou 1.203 pessoas adultas em situação de rua na Capital. Os bairros Centro Histórico (27,3%), Floresta (10%) e Menino Deus (7,7%) foram os locais de maior realização de entrevistas, totalizando 45%. A Fasc garante que toda a cidade foi mapeada.

Do total de pessoas pesquisadas, 81,7% são do sexo masculino e 17,1% do sexo feminino. A pesquisa ainda mostrou que, na comparação com o estudo anterior, houve uma diminuição de pessoas na faixa de idade entre os 18 e 24 anos, e aumento significativo (duplicando) na faixa dos idosos (60 anos ou mais).

Para a diretora-técnica da Fasc, Carla Zitto, a maior quantidade de idosos vivendo nas ruas exige ações diferenciadas. “O processo de envelhecimento requer outro tipo de atendimento, como, por exemplo, na questão da saúde e nas oportunidades de atividades geradoras de renda”, afirma. Carla exemplifica a atenção especial que os idosos necessitam com o caso de um homem que tinha uma casa, via programa Minha Casa, Minha Vida, mas que vivia nas ruas porque não queria ficar sozinho.

O censo mostrou também que mais de 60% dos entrevistados não completaram o Ensino Fundamental, incluindo os que se declararam analfabetos. A realização do estudo faz parte das ações previstas no Plano Municipal de Enfrentamento à Situação de Rua, lançado no final do ano passado.

Maioria dos entrevistados trabalha

Diferentemente do que se pode pensar, a pesquisa apontou que mais de 60% dos entrevistados desempenham alguma atividade aceita como inclusiva. As principais funções desempenhadas foram catar material reciclável (19,8%), realizar atividade de reciclagem (15,9%), lavar ou guardar carros na rua (11,6%) e construção civil (6,3%). Segundo Carla, os dados mostram que os imaginários populares sobre quem mora nas ruas não se confirmam na prática. “Há um imaginário de que estão na rua porque não querem trabalhar. Entendemos que muitas dessas pessoas perderam o vínculo com aquilo que entendemos como sociedade, seja por problemas mentais, ou com desentendimentos familiares ou em razão de um processo migratório”, enfatiza. O censo mostra ainda que as atividades de menor reconhecimento social, como “pedir” ou “achacar”, diminuíram significativamente (de 15% em 2007, para 9,5% em 2011).

Problemas de saúde seguem preocupando

A situação da saúde da população adulta que vive nas ruas da Capital segue preocupando. O estudo indicou alta presença de doenças. A dependência química e/ou de álcool e problemas relacionados aos dentes foram informados por quase metade da população pesquisada (49,6%), tendo um acréscimo de cerca de 10% em comparação à pesquisa de 2007. A terceira opção mais citada pelos moradores de rua foram problemas relacionados com doença neurológica, mental, psiquiátrica ou psicológica, com 33,1% de ocorrência. Quanto ao crack, 12,8% disseram usá-lo diariamente, e 15% “de vez em quando”.

Jornal do Comércio



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16 respostas

  1. O grande problema sempre foi convencer essas pessoas a sair da rua e adotar outro tipo de vida. Parece que o costume está arraigado nelas que não querem abrir mão da sua total “liberdade”. Por pior que possa parecer.

    • Infelizmente isso é verdade. Teve até um mulambo que me disse que preferia ficar na rua até de madrugada do que ter que entrar cedo num albergue, cortar o cabelo e tomar banho. Eu até inicialmente cheguei a ter pena do sujeito por ele aparentar ter algum retardo mental moderado, mas vendo que era só mais um vagabundo não tinha mais como ter pena…

  2. Para complementar a discussão, há uma notícia no clickRSB http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2012/04/total-de-moradores-de-rua-aumenta-12-em-tres-anos-na-capital-aponta-pesquisa-3721792.html

    O que me ocorreu é que a aumento da renda e de sua distribuição…

  3. Concordo que a maior parte destas pessoas estão nesta situação por dependência química e/ou problemas mentais.

    Agora, mudando de assunto, uma reflexão para a maioria da população que, ao contrário de mim, defende a política do Salário Mínimo:

    – Será que elas ganham mais de 1 salário mínimo trabalhando como catadoras, ou será que foram expulsas do mercado formal com carteira assinada pq não conseguem produzir o suficiente para ganhar o mínimo que o governo exige?

  4. A tendência é que essa população aumentr mais ainda, porque a droga está liberada e, o que é pior, resolveram que eles tem o “direito” de morar (dormir, cozinhar, promover brigas e algazarras, espalhar lixo, usar drogas, fazer as necessidade…) nas ruas e praças, e ninguém pode fazer nada a respeito disso.

  5. Está aí algo importante… Não há decoração, reforma que apague a situação dessas pessoas!
    O que me chamou a atenção é que a maioria trabalha. A ideia de que são ‘vagabundos’ não se confirma.

    • Ou seja, a existência desses “trabalhos” (flanelagem + catação de lixo) é que os mantém na rua e que impede a sua regeneração, bem ao contrário do que as pessoas pensam.

      • Você está afirmando que se houvesse fiscalização para eliminar os flanelinhas e se a coleta seletiva com reciclagem funcionasse melhor essas pessoas não estariam na rua? Acho que não é tão simples, fiscalização e reciclagem são fundamentais, mas acho que há uma infinidade de fatores.

        • O problema é que as leis vem sendo cada vez mais abrandadas para favorecer os flanelinhas e outros achacadores, e se a Brigada relar um dedo para cima desses meliantes vem a turma de “direitos humanos” atazanar…

      • Deixa eu ver se entendi, estás chamando flanelinha de fiscal? Já cansei de ver carro sendo roubado onde há flanelinha, a gente paga eles para que eles não risquem nossos carros ou roubem calotas, o que acabam fazendo igual muitas vezes.

        E acho lamentável que nossa coleta seletiva dependa da miséria alheia para funcionar.

        • Isso é bem verdade… quando vemos as estatísticas internacionais sobre reciclagem, o Brasil está ótimo, algo como 98% do alumínio, mas o motivo é a miséria da população.

          Se a pergunta sobre o flanelinha e fiscal for para mim, acho que me espessei errado, eu falei no aumento da fiscalização como forma de evitar o aparecimento dos flanelinhas, que cá entre nós, flanelinhas enchem o saco um barbaridade!

  6. “As principais funções desempenhadas foram catar material reciclável (19,8%), realizar atividade de reciclagem (15,9%), lavar ou guardar carros na rua (11,6%) e construção civil (6,3%).”

    Não vou nem falar sobre cuidar carros na rua por que para mim aquilo é coagir os outros a pagar por um serviço que não existe, mas o que será que é realizar atividade de reciclagem?

    O que não entendo mesmo é por que não invadem um terreno e fazem uma casinha, é o que muitos fazem.

    • Teoricamente seria até um caminho mais rápido para uma solução, pois uma hora ou outra a prefeitura teria que desapropriar os terrenos invadidos e dar casas novas.

      Não é o certo, mas é só isso que acontece por aqui.

    • Geralmente quem invade terreno e tem sua casinha tem um trabalho, ganha pouco mas trabalha…
      Quem ta na rua ta no fim da picada, acabado com a droga ou com problemas mentais serios….

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