O Rio Grande do Sul é um Estado muquirana.
O que não significa que todos os gaúchos sejam muquiranas, claro.
Muitos não são.
Mas há uma névoa de muquiranagem pairando entre a fronteira oeste histórica e as franjas procelosas do Oceano Atlântico, infiltrando- se, sobretudo, nos palácios do poder.
As pessoas olham e não acham a muquiranagem um defeito grave, mas é justamente essa característica que faz do Estado o que menos investe em educação, o que tem a masmorra mais desumana do país, o que oferece um dos 10 piores sistemas de tratamento da água do Brasil, o que apresenta um índice de 97% de reprovação num teste para professores, o que elege governantes que só conseguem administrar escorchando o contribuinte.
A muquiranagem é um problema sério porque dá à pessoa a justificativa para não fazer o melhor que pode.
O muquirana é isso: é aquele que bota material de segunda, que pretere a beleza pela economia, que confunde o popular com o barato, que considera luxo o que é sofisticado.
O muquirana nunca ousa, ele alega que existem outras prioridades.
O prefeito muquirana diz assim: Eu não posso transformar essa orla em um local aprazível para as pessoas se divertirem, enquanto outras pessoas passam fome na vila.
Aí ele não transforma a orla em um local aprazível para as pessoas se divertirem, e as outras pessoas continuam passando fome na vila.
Não faço a ilustração por acaso.
É que está justamente ali, espalhado na orla do Guaíba, o maior exemplo de muquiranagem da cidade.
Nos anos 80, o então prefeito Collares rasgou num naco dessa orla a última obra pública não muquirana da Capital: aAvenida Beira- Rio.
Havia algumas propostas questionáveis no projeto, como a permissão de construção de arranha- céus, mas, no geral, era uma ótima ideia, muito mais abrangente do que se tornou.
Mesmo assim, Collares por pouco não foi derrubado da prefeitura.
Um dia, milhares de muquiranas foram para o local, um ermo repleto de touceiras, lixo e mendigos que se drogavam em meio às ratazanas.
Os muquiranas deram- se as mãos e, simbolicamente, abraçaram a orla, na tentativa de protegê- la do asfalto do capitalismo.
Gritavam que, por consciência ecológica, impediriam a derrubada da vegetação nativa ( a propósito: aquilo é um aterro).
Hoje, se você fizer um passeio pela Beira- Rio, constatará que ali está a mais bela avenida da cidade.
Abstenha- se de olhar para os quiosques bagaceiras do Gasômetro e para as peças de arte contemporânea plantadas nas imediações.
Veja as pessoas caminhando, correndo, passeando de bicicleta e até de patins, veja- as tomando chimarrão, admirando o espelho d¿água do rio- lago, fazendo exercícios, rindo e conversando.
Elas estão felizes.
Entre elas, os muquiranas.
Que não fizeram nada.
Muquiranas não fazem.
Nem deixam fazer.
Blog do David Coimbra, 08 de junho de 2012
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Bravo ! Assino embaixo, David. Gilberto Simon.
Falou e disse Davi! O Rio Grande do Sul é uma Muquiranagem só! Eu so acho que tu esqueceu de citar essa merda de “tradicionalismo”!
Moro aqui, Pablo: não queira saber… No JA, tiraram o único que canhoneava prá todo o lado e não chamava viés de filhinho do papai…
O texto é bom. Percebo que a RBS deve ter alguma coisa muito contra o atual governo, pelas notícias todos os dias na capa do ZH, no BOm dia RS…
Sabe que eu andei pensando sobre isso… Parece que a RBS mudou de lado nesses últimos meses e eu estava tentando entender como o que e porque.
Isso me lembra o caso do Olívio… Ninguém achou que o Olívio iria ganhar, nem mesmo o PT e a RBS tomou partido. Com a vitória do Olívio, a RBS se abala e teve que fazer algo… e fez demitindo o Políbio.
Talvez com o emparelhamento do Fortunati e Manuela, a RBS está atirando para os dois lado… Assim não fica mal com ninguém e o que ganhar garante as campanhas publicitárias
Não foi o Barrionuevo o demitido pela RBS?? No tempo do Olívio, a RBS estava em guerra com o PT….Depois houve uma mudança, mas pela quantidade de notícias negativas informadas ultimamente, dá para ver que o Tarso deve ter tomado as dores do Olívio naquela época e, consequentemente, a RBS hoje só traz manchetes negativas do Estado. Percebam a diferença editorial em relação aos veículos da RBS em SC. Totalmente diversa daqui…
É isso mesmo! não é o Políbio…
Não conheço a RBS em SC, mas me parece que a RBS está mais no besteirol do que na política. Dos males o pior, pelo menos não desinforma, somente esconde.
Bem mais pra Cuba.
Queria eu viver com a qualidade de vida que os Argentinos tem, mesmo em crise.
ou a cuba do brasil
somos a argentina do brasil