Sobre ciclovias, qualidade, calçadas e acabamento

Contrastando como o nosso padrão portoalegrense de acabamento, me deparei com essas fotos de Boston, que me chocaram pelo esmerado cuidado com as calçadas, o acabamento, sinalização, qualidade: tudo demonstra planejamento, cuidado, meticulosidade, parece que fizeram isso para durar décadas. Esperamos um padrão assim para nossas ciclovias. Vamos fazer com mais cuidado e menos afobamento.



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43 respostas

  1. Vou contrariar todo mundo e apesar disto me dar cólicas intestinais vou ter que defender a Prefeitura (anotem isto que não verão tão cedo tal coisa). A defesa começará com um ataque depois vem a própria (morde e assopra).
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    O principal problema na nossa cidade não é obras mal feitas nem obras insuficientes (justifico depois), o principal problema na nossa cidade é falta de inteligência na administração pública. Por que digo isto? Simplesmente porque nas nossas cidades os gestores não tem o direito nem a possibilidade de errar. Qualquer prego que for posto num poste deve ser resultado de um planejamento, não podemos fazer experimentalismos no mobiliário urbano como por exemplo foi feito nas paradas dos corredores, não temos o direito de fazer obras erradas.
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    Agora porque isto é uma defesa, simplesmente porque em cidades como Porto Alegre falta tudo, falta saúde pública para a população, falta saneamento básico, falta transporte público, falta educação de qualidade, em resumo o que sobra mesmo são necessidades.
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    Alguém pode dizer, mas porque falta tudo? Simples, porque diferente de outras cidades do Hemisfério Norte, o crescimento populacional, com todas as suas demandas que ele trás junto, foi praticamente exponencial no último século. Passamos em poucas décadas de uma população de 200.000 a 300.000 habitantes a uma população de um milhão e tantos, e pior este excedente populacional foi de pessoas expulsas do campo por diversos motivos que se precisaria longos parágrafos para enumerar.
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    Todas estas pessoas que migraram para as cidades, migraram exatamente sem nada, muitos chegavam com a roupa do corpo e os mais felizardos ainda com um pouco de dinheiro, porém precisavam de toda uma infra-estrutura que não existia.
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    Coloco como destaque e ponto positivo na cidade por exemplo o abastecimento de água (não podemos dizer o mesmo do esgoto, mas durante estes últimos cem anos a prefeitura tentou levar água a todos os moradores, ação que teve sucesso. Como não haviam sistemas para coleta de esgotos, passamos os últimos anos investindo maciço nisto, e talvez em pouco tempo também poderemos nos orgulhar disto.
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    Entretanto, como disse os nossos gestores não podem errar, e erros feios e catastróficos como a eliminação dos serviços de bondes foram feitos. Também posso citar um erro atual, a opção pelo BRTs (mas isto é assunto para outra intervenção). Mas voltando ao assunto principal, nossos gestores tem verdadeiras “Escolha de Sofia” a fazer cada dia (quem não viu o filme, procure informações na Internet). Ou se preocupam com necessidades básicas da periferia da cidade, ou se preocupam com o estado dos bairros mais nobres, que também fazem parte da cidade. Escolhem entre perder votos nos bairros, ou perderem votos no centro, não há dinheiro para tudo.
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    Por isto insisto, o que falta é inteligência e planejamento, quando temos não temos dinheiro devemos ser extremamente cuidadosos nos investimentos, o pouco que temos em relação as necessidades não devem ser desperdiçados. Obras mal feitas que durarão pouco, devem ser evitadas, que nos servem lançar um plano de ciclovias na cidade, se o dinheiro que se tem é pouco para fazer as centenas de quilômetros previstos em projetos demagógicos se já se sabe a priori que não poderá ser realizado. Para que serve um viaduto estaiado na praia de Belas se já se sabe a priori que se este dinheiro investido em outros pontos daria muito maior retorno. Não podemos errar, e pior, não podemos improvisar.
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    Não somos Boston, Chicago, Paris, Londres ou New York, somos Porto Alegre.

    • Rogerio,não sei dizer se positivo ou negativo teu comentário 😉
      Não acho que tivemos crescimento bombástico de população e que daí deriva certos problemas. Mas depois dizes: “Obras mal feitas que durarão pouco”. Perfeito! O post é sobre isso mesmo! Construir com QUALIDADE para durar muito, e não afobadamente à moda miguelão: as lajes da esplanada do Chalé estão se soltando e o cimento grosseiro das fontes (secas) do estacionamento largo Glênio está esfarelando, por exemplo. Ou se constroi com qualidade, ou não se constroi. Mas não creio que seja por falta de dinheiro, mas por falta de profissionais capacitados, ignorância do que seja alta qualidade e falta de visão comosmopolita. Não somos Boston, mas mesmo Curitiba e várias cidades da América Latina e do Brasil estão fazendo coisas com qualidade. Afinal, somos a capital do quarto estado mais rico da sétima potência do planeta, não?

      • Marcelo.
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        Podemos resumir os nossos comentários como sendo Porto Alegre a cidade da Fartura.
        “Farta” capacidade, “farta” criatividade, “farta” planejamento e “farta”dinheiro. 🙂

    • Rogério,

      Eu entendi errado ou você acha que o plano cicloviário municipal é “demagógico” e não é uma boa executá-lo por inteiro?

  2. Pelas fotos dá pra ver que ciclovia só serve para virar calçada mesmo. O negócio sempre foi ciclofaixa.

  3. A questão central é que no Brasil não existe ENGENHARIA DE TRÂNSITO. Essa função, mesmo sendo um dos três elementos centrais do Trânsito no país, conforme o CTB, na prática não existe, pois é municipalizado. Quantas pessoas trabalham no setor de engenharia de trânsito na EPTC, por exemplo? Qual sua qualificação? Não existe essa carreira no Brasil, é tudo “emjambrado”. Tem muito mais coisa além da estética nessas fotos. Quem já viajou pelos Estados Unidos sabe como o trânsito é planejado e integrado. A fórmula é essa: Sem engenharia de trânsito + muitos carros + estradas ruins e mau planejadas + péssimos motoristas = Medalha de ouro em mortes no trânsito. 40.000 por ano. Mais mortes que a guerra do Iraque. Todo ano.

    • Bagual, estás completamente errado, no setor público do Brasil não há engenharia! Os quadros de engenheiros são minguados, mal equipados, mal treinados e sem a possibilidade de influenciar nas obras e na escolha dos acabamentos das mesmas.
      O último concurso para engenheiros na prefeitura de Porto Alegre foi realizado em 2010, e para engenheiros cartográficos. Se olharmos os concursos em validade (feitos a partir de 2008), não temos um concurso para arquitetos ou para engenheiros neste período, quatro anos. Se contarmos mais um para abrir um novo concurso já devem ter se aposentado no mínimo 1/6 de todos os arquitetos e engenheiros da prefeitura.
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      Com este cuidado todo com o pessoal, pergunto como vamos ter engenheiros e arquitetos para planejar, projetar e fiscalizar as obras?

  4. Se em Porto Alegre o pavimento das ruas ja é porco, imagina a qualidade que iria ter uma ciclovia?
    sasushhussahushuas

    Alias, existem ruas na cidade que sequer tem paralelepipedo..
    sahuashushasuhsuuas

    É complicado, essa falta de opções politicas realmente complicam…

  5. O problema não é nem a afobação, é fazer de qualquer jeito, não importando quanto tempo leve. Em NY, da janela do hotel, vi operários recapando um espaço de 3x5m da rua em menos de uma hora. Só dava para notar que era diferente do resto da rua pela cor, pois a altura estava perfeitamente nivelada com o resto da rua.
    Já aqui em Porto Alegre, reasfaltaram minha rua em agosto (só jogaram mais asfalto por cima), deixando pouca altura entre a calçada e a rua. Praticamente eliminaram o cordão em alguns pontos. E pior, três meses depois, ainda não repintaram uma mísera faixa de segurança sequer, mesmo depois de já ter ligado diversas vezes solicitando a pintura. Nos falta competência.

    • E’ incompetencia, falta de zelo, falta de recursos, cultura do “foda-se”, tudo junto… As vezes eu vejo em Londres os caras se preocupam em manter um padrao das calcadas… se tem um buraco no calcamento, vao la’ e colocam as mesma lajotas, no mesmo formato. Quando vao fazer uma obra no asfalto, eles fazem, recobrem o asfalto e pintam as faixas nos locais onde a obra foi feita. Tu ve nas ruas em POA, eles nao pintam as linhas depois que abrem o asfalto. Tambem nao recuperam a calcada depois que fazem alguma obra. E’ um interessante ciclo vicioso, porque essa falta de zelo da prefeitura acarreta tambem a falta de zelo do cidadao, que por sua vez, acarreta ainda mais a deterioracao dos espacos publicos, que continuam deteriorados.

  6. Hoje passei pela ciclovia da Ipiranga. Que coisa tosca e horrorosa aquela grade de protecao!

    E pra que grade tambem entre a ciclovia e os carros? Ja ha um epaco (canteiro) separando dos carros. Nao eh so tachoes, artarugas ou olhos de gato. Em todas ciclovias no mundo onde ja ha um canteiro de separacao, nao ha mais uma cerca.
    Mas que ponham cerca: o probelam nao eh sua existencia em si, mas sim sua feiura GRITANTE.

    Normal, na cidade com os corredores de onibus gradeados com aquelas grades e muros horriveis que so essa cidade tem.

    Aquelas cercas da ciclovia da Ipiranga sao feias demais, sao TOSCAS, sao constrangedoras.

    Que cidade, essa, com vocacao pra ser cada vez mais feia e ridicula. Outras capitais devem rir da gente.

    • Do jeito que está, é realmente feio. Mas no projeto consta que a cerca será revestida por trepadeiras, uma cerca verde, portanto. Nesse caso, ficará muito bonita, na minha opinião.

  7. Mas assim tu queres acabar com os lucros estratosféricos dos empreiteiros brasileiros! É graças a obras porcas que a economia anda e os partidos se financiam.

  8. Nao eh preciso ir a outro pais. Aqui mesmo no Brasil temos otimoas exemplos de grandes cidades competentes em cuidados com sua urbe. E, para nao provocar ataques de urgulho aos que nao podem ouvir a palavra Curitiba, vou citar o Rio de Janeiro e suas ciclovias.

    As centenas de quilometros de ciclovias cariocas, que nem sao so na orla, sao otimas. Sao muito bem feitas, cuidadas, bonitas… sao um exemplo de se tirar o chapeu.

    Envergonhem-se, portoalegrenses.

    • Em Florianópolis há dezenas de quilômetros ininterruptos de ciclovias.

    • Isso não é verdade. Se tu quiser te mostro várias fotos das ciclovias do centro/zona norte do Rio piores que a da Restinga.

    • Amigo, com certeza você só veio aqui como turismo. As ciclovias daqui são uma bagunça, as únicas ciclovias que prestam são as que ficam na orla ou próximas. Em obras recentem em que foram gasto milhões de reais, existem ciclovias com postes a cada 50 metros, não existe uma iniciativa da prefeitura de cuidar das calçadas ou fiscalizar, o Rio de Janeiro é a segunda capital com as piores calçadas. Conheço as ciclovias da orlas, e dos seus entornos, e essas sim são bem feitas o restante não serve nem para caminhar.

  9. Marcelo
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    Me desculpe, elogio sempre as tuas intervenções pelo esmero e o cuidado das mesmas, entretanto chamo atenção de um pequeno detalhe. Não é o cuidado que conserva estas ciclovias e ruas, é simplesmente a falta de uso.

    • Rogério, é difícil acreditar nesse argumento, porque pelas fotos, não é somente as ciclovias que estão impecáveis, mas também as ruas, calçadas, cerca, árvores… Buenas, pode ser que nesse lugar as pessoas usem pouco as ciclovias, mas quanto à tudo o resto?

    • Tu já presenciou uma cidade assim? Elas existem!

      • Boston em 1910 tinha 670 585 habitantes, em 2010 617 594, o que quero dizer com estes números, uma cidade rica que tem crescimento populacional negativo nos últimos 100 anos, pode se dar ao luxo de ter vias de transporte exclusivas até para mosquitos.
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        Eu acho que a prefeitura de Porto Alegre é extremamente ineficiente no planejamento de suas obras, porém comparar Boston com Porto Alegre é covardia.
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        O Marcelo deveria georreferenciar estas imagens, eu fui dar uma passeada virtual com o Google Maps sobre Boston e vi avenidas largas cheias de carros (seis ou mais vias) e nenhuma ciclovia, as fotos devem ser de algum subúrbio rico de Boston.
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        Realmente o Google Maps é sensacional, depois que escrevi o último parágrafo e vi nas pistas das ruas de Boston, cracas como nas de Porto Alegre, como tampas de bueiros centímetros abaixo do piso porque eles não levantaram depois de asfaltar!

        • Não estou comparando Boston com POA, ou dizendo que eles tem acres de ciclovias por lá. O post é sobre a QUALIDADE, ACABAMENTO, ATENÇÃO AO DETALHE na construção – neste caso, de ciclovias. Não é um post sobre Boston nem estou dizendo que Boston é perfeita nem nada disso. Obrigado!

        • Marcelo
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          Só para ficar bem claro:
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          Eu sou um dos primeiros a elogiar a maioria das tuas postagens neste blog, pois acho que o aspecto de uma cidade é importante principalmente para a auto-estima de seu povo.
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          Nunca me meto na questão arquitetônica, pois não tenho capacidade para tanto, coisa que no teu caso é o inverso.
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          Terceiro e último, simplesmente disse que os gestores de Boston podem ser tão ou mais energúmenos como os nossos, só com uma diferença, os nossos energúmenos não tem a mesma chance de errar como os deles, Boston como outras cidades do Hemisfério Norte, não tem a mesma pressão demográfica que tem as cidades do Hemisfério Sul, ou seja, talvez os energúmenos deles sejam energúmenos ricos enquanto os nossos são energúmenos pobres.

        • Vá então pesquisar sobre a holanda, e veja a quantidade de pessoas que utilizam bicicletas lá e nem se compara com as daqui. O problema não é utilização e sim planejamento, as ciclovias no Brasil em sua maioria já saem do papel mal feitas, não se pensa a longo prazo e sim em inauguração, bolo e festas.

  10. Quanto capricho! O calçamento alinhado, plano, bem sinalizado, com cores agradáveis… tudo limpo!

    É assim que tem que ser! Tá na hora de vermos a SMOV como alguém que vai fazer algo na nossa casa ou jardim. Temos que exigir!

  11. Não dá para comparar Boston com Merdon Port.

    Qualquer reforma ou obra aqui tem jeitão de remendo. Exceção: praça da alfândega, onde se deram ao trabalho de repor as pedras portuguesas. Já a Andradas é o festival do remendão. Se some uma pedra do chão, o buraco é tapado com cimento. A CEEE e o DMAE não colocam as coisas no lugar depois de fazerem a manutenção da rede.

    Falta mais cacoete de ‘Eu curto, Eu cuido’ por aqui. Mas o povo só quer preservar o interior do seu condomínio e só respeita área comum de shopping center,isso porque é extensamente vigiada.

  12. Observando uma dessas imagens conseguimos ver uma pessoa caminhando na ciclovia, ou seja, lá tb virou calçada.
    E o IAB não tem culpa da ciclovia ter saido o que saiu, por favor, o IAB evitou um desastre maior!

    • Não, errado, eu caminhei por essas ciclovias há 2 meses, ficam nas proximidades do MIT em Cambridge. Eventualmente alguem vai caminhar em cima, mas se uma bicicleta vem, só com a buzininha a pessoa insitintivamente dá a passagem para a bicicleta (aconteceu comigo e eu vi essa cena acontecendo com outras pessoas)

  13. Deviam apenas copiar o que se faz no exterior, mas nao, tentam ter ideias, o que invariavelmente termina em m*. Seria mais barato mandar um individuo qualquer da prefeitura aprender o jeito que e’ feito no exterior do que ficar fazendo concurso entre jegues que nunca projetaram uma ciclovia na vida.

  14. Bom para observarmos como são as cidades quando os administradores implementam as infra-estruturas básicas com excelência em padrão de qualidade. O que se vê em POA é lastimável, muito falta de capricho e de respeito para com os cidadãos. E para pior sei lá se os valores gastos em Boston não são iguais ou até inferiores aos gastos em Porto Alegre para fazer (quando fazem) passeios e pavimentos ridículos. Gostei muito da imagem da ciclovia, porque quando expus que acho feio a cor vermelho-sangue das nossas, fui criticado por pessoas dizendo que este seria o “padrão mundial”. Todavia as imagens demostram que em países desenvolvidos e nas cidades organizadas, não precisava pintar o chão com vermelhão para demarcar uma ciclovia. Muitíssimo mais agradável e harmônico.

  15. Belas imagens, Marcelo.

    O problema é que a prefeitura desconhece esse tipo e fazem concursos, pressionados pelo IAB e afins.
    Resultado: ganha o projeto green de garrafas pet mimimi natureza, não dura 1 mês pela qualidade do material, fica depredado.

    Marcelo, acho que deveriamos enviar emails com essas fotos para o Fortunati e afins. Quem sabe colocamos um mapa com vias que poderiam ser utilizadas com ciclovia, já que os mesmos não tem muita noção disso. Senão aposto que a próxima ciclovhia vai ser na Bento / Assis Brasil.

    • Que outra coisa além do guarda corpo da ciclovia da ipiranga tem de projeto green de garrafa pet mimimi? Não lembro de nenhum…

      Pra mim não é esse o problema, e sim a qualidade geral das obras. A ciclovia da ipiranga já nasceu condenada a virar calçada.

    • O guarda-corpo da ciclovia da Ipiranga foi provavelmente o único caso recente onde houve concurso do IAB para definirem como seria. Aliás, nem foi bem um concurso, e foi encomendado absolutamente às pressas, pois viram que seria uma chinelagem o que iriam fazer. Mesmo assim, colocaram um orçamento bastante restrito (algo em torno de R$ 150 por metro, se não me engano), impossibilitando projetos efetivamente de alta qualidade.

      Imagina se resolvessem construir uma estrada e no edital dissesse: “o valor não pode ultrapassar os R$ 1.000 por quilômetro e o projeto tem que estar pronto no mês que vem.”

      Não foi muito diferente disso o que aconteceu com o guarda-corpo da Ipiranga.

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