Após abandono, “casa amarela” vai virar sede dos conselhos municipais

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Felipe Prestes

Um casarão antigo, conhecido como “casa amarela”, na esquina entre as avenidas Venâcio Aires e João Pessoa costumava chamar atenção da população por seu abandono, desde meados dos anos 2000. Localizada em uma região dotada de opções de lazer e cultura, próxima ao Parque Farroupilha e ao Bairro Cidade Baixa, a construção histórica se deteriorava aos olhos de quem passasse por ali, e chegou a ser ocupada (com razão) por moradores de rua. Agora, finalmente há obras de restauração no local, que vai se tornar a Casa dos Conselhos Municipais.

“Grande importância arquitetônica não tem, mas tem significado para a história da cidade, porque é uma construção pioneira naquela área ali”, opina o historiador Sérgio da Costa Franco. Ele conta que a casa foi construída para ser uma escola pública, durante o período em que Borges de Medeiros mandava no Rio Grande do Sul. “Era uma escola e o porão era usado como moradia para os professores. Seguramente foi construída depois de 1912, porque antes não havia nada naquela região, entre a José Bonifácio e a Venâncio Aires. Aquela área fazia parte do hoje é o Parque Farroupilha”, explica Franco, que não pode dar mais detalhes por estar descansando em Torres, longe de seus arquivos.

A partir de 1912, segundo o historiador, a área onde se encontra a casa amarela foi loteada para a construção de um bairro popular. “Mas isto não se concretizou. Os terrenos acabaram sendo vendidos por altos valores”.

Franco se recorda que nos anos 1960 funcionava na casa o que se chamava de Grupo Escolar Luciana de Abreu. Atualmente, o “grupo” é a Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu e se mudou para perto dali, na Rua General Jacinto Osório, entre a Santana e a Vieira de Castro.

Durante o Governo Olívio Dutra, a casa abrigou as exposições e debates promovidos pelo Museu Antropológico do Rio Grande do Sul, mas em 2004, no segundo ano de Governo Rigotto, a casa deixou de ser da Secretaria Estadual de Cultura e foi para as mãos da pasta de Administração. A construção permaneceu abandonada até 2009, quando a governadora Yeda Crusius doou o imóvel para Prefeitura abrigar a Casa dos Conselhos, mas a licitação para as obras só ocorreu no meio de 2012. Nesse ínterim, a casa ficou oito anos sem utilização (a não ser como moradia).

Sede para conselhos vem na esteira de políticas intersetoriais

Projeto de restauração da Casa dos Conselhos| Imagem: CMC/POA

Projeto de restauração da Casa dos Conselhos| Imagem: CMC/POA

“A criação de uma sede para os conselhos é uma reivindicação antiga dos conselhos de políticas públicas de Porto Alegre”, conta o diretor municipal de Governança, Plínio Zalewski. Existem 25 conselhos municipais e muitos funcionam de maneira improvisada nos prédios de secretarias, alguns até no Mercado Público.

Numa primeira fase, que custará R$ 545 mil, a Prefeitura fará a restauração da “casa amarela”, obra que já começou a deve terminar até o final de 2013. Ali haverá um auditória e algumas salas de reuniões. A sede de cada conselho sairá em um prédio anexo, que deve começar a ser construído em 2014, sendo concluído no mesmo ano. Entre 20 e 22 conselhos deverão ter sede no local, porque alguns deles não desejam sair de onde estão sediados.

“Do ponto de vista físico, organiza o dia a dia dos conselhos. E institucionalmente irão ficar mais conectados”, afirma Zalewski. O diretor de Governança explica que a ideia da Prefeitura é justamente de que os conselhos trabalhem mais conectados. “Vai ter um gerente que vai coordenar uma ação integrada dos conselhos. Queremos que atuem de forma conjunta, intersetorial. Hoje, ainda funcionam com uma visão antiga, não colaboram entre si, como se tivessem temas apenas de cultura, ou apenas de educação, ou apenas de saúde”.

Museu de Antropologia busca um novo local para exposições

A partir de 2004, quando deixou a casa da Venâncio Aires, o Museu de Antropologia do Rio Grande do Sul (MARS) seguiu com uma sede que já mantinha desde 1995, que fica em um conjunto de salas no décimo andar do Edifício Santa Cruz, na Rua dos Andradas. Durante o breve período em que ficou no prédio histórico, o Museu pode manter uma exposição permanente e realizar eventos, o que não é possível fazer em um prédio comercial.

“Nós estivemos naquela casa, realizando exposições, debates, nos anos de 2001, 2002 e 2003, e o prédio ficou sob a tutela da Secretaria Estadual de Cultura de 1999 até 2004, quando retornou para a Secretaria de Administração. Nós tínhamos um projeto para restauração da casa e construção de um prédio anexo no terreno”, conta Walmir Pereira.

“O que sentimos falta agora é de uma sala de exposições permanente. Recebemos visitas de pesquisadores, de alunos, mas só é possível visitar a biblioteca. Uma instituição com 35 anos de vida não pode ficar no décimo andar de um prédio comercial”, afirma. No acervo da instituição, que poderia estar exposto se houvesse espaço físico para isto, há documentos e objetos de grupos étnicos que fizeram ou fazem parte da história do Rio Grande do Sul.

Segundo o site da instituição, o acervo conta com materiais sobre os seguintes temas: etnicidade e identidade de grupos migrantes (sírios-libaneses, açorianos, alemães, judeus), liturgia católica, religiosidades afro-brasileiras, etnologia e etnicidade de grupos indígenas contemporâneos (kaingángs, guaranis), arqueologia indígena, identidades étnicas de comunidades e movimentos negros no RS, movimentos estéticos urbanos (quadrinhos, rock), territorialidade e habitação entre classes populares (etnografia de vilas populares). “Temos um acervo de grande diversidade cultural e étnica”, afirma Pereira.

O diretor do MARS revela que o Governo planeja buscar uma sede para a instituição. A ideia é fazer uma fusão entre o MARS e o Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul, que também passa por problemas. Sua sede, em Taquara, está interditada pelo Ministério Público. “Estamos buscando um local, há reuniões agendadas para tratar deste tema. É possível que dentro de alguma semanas possamos informar mais detalhes sobre isto”, diz Pereira.

SUL 21



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15 respostas

  1. Sou de Caxias do Sul..

    Certo tempo atrás, passei na frente.. Fiquei boquiaberto com o estado do prédio.. Sendo ele tão bonito e importante…

  2. Poxa, eu morei exatamente no edifício ao lado dessa casa antiga, ali na João Pessoa, isso lá pelos idos de 2003 … Bons tempos, embora fosse muito barulhento morar ali!

  3. O anexo é horrivel, e destoa completamente do prédio a ser restaurado. Melhor só restaurar o prédio antigo.

  4. Importante o fato de restaurar, mas quanto ao anexo, pelo que se vê no render está faltando certa harmonia, quanto a volumetria e especialmente quanto a cor.

  5. Legal, mas meu olho doeu com essa imagem do projeto.

  6. Não entendi o “com razão” ao mencionar a invasão por moradores de rua. Quando invasores têm razão?

    • Pois é, não duvido que eles deixaram as janelas abertas fazendo o reboco apodrecer e cair como aparece na foto. Por dentro pode estar ainda pior.

    • “Invasores” tem razão quando vivemos numa sociedade onde há pessoas sem local para viver e um governo relapso que abandona imóveis. Nesses casos, é muito melhor um sem teto viver ali que deixar o espaço vazio. Isso que eu estou falando deveria ser óbvio para qualquer um. Acho lamentável você necessitar de uma explicação. Mas releia com atenção, o estado abandonou o imóvel e existe gente que, ao invés de analisar criticamente nossa administração pública, resolve insinuar que a culpa da degradação é do sem teto que, com absoluta razão, ocupou o espaço.

  7. Excelente noticia.

  8. Até que enfim. Quando tempo demorará?

  9. Gostei de saber da história do prédio, e achei bem legal o projeto. Boa notícia!

  10. Mas que render mais feio! Até parece jogo do Atari! Hahahaha

    • Pablo, que chato, sempre tem que desmerecer….

    • Isso não é render, é fachada no AutoCad!

      Não foram muito felizes na escolha das cores, ficaram vivas demais… sempre tem que pegar um tom abaixo senão corre o risco de ficar brega.
      Na faculdade a gente brinca com um dito tipo “meu croqui mentiu pra mim” no caso é “meus layers mentiram pra mim”

      Mas o projeto parece interessante… é bem complexo conseguir compor com harmonia algo contemporâneo quando se tem uma construção/casca antiga.

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