Perguntas que ficam sobre nosso transporte público

Com o (novo) aumento de passagem, que fez a tarifa de Porto Alegre ultrapassar – até onde sei, pela primeira vez – a de São Paulo, tornando-se a segunda passagem mais cara do Brasil – aumento que, como sempre, foi recebido com vários protestos – que, também como sempre, não vão servir para nada – ; alguns questionamentos fazem-se necessários:

– Se um dos motivos alegados para aumentar o preço é a queda no uso do transporte público pelo porto-alegrense, que cada vez mais troca os ônibus pelos carros, porque não são feitas políticas para mudar isso?  Uma razão pelas quais se prefere o transporte individual é o alto tempo de espera na parada e a necessidade de fazer baldeações devido ao desenho das linhas. É comum estar em uma esquina entre duas avenidas onde passam mais de 5 linhas e todas em frente, nenhuma dobra à direita. Disso, então, surgem mais duas perguntas:

– Por que não é feito um estudo de demanda para diminuir o intervalo entre ônibus em algumas linhas?

– Por que não são redefinidos o traçados de linhas, já que o que acontece é apenas a criação de novas linhas na medida em que a cidade se expande, gerando cada vez mais linhas sobrepostas que congestionam os corredores de ônibus, com vários deles indo todos para o mesmo lugar enquanto outros lugares são carentes e implicam a necessidade de baldeações? Muitas vezes, temos que pegar 2 ônibus para trajetos de 10 minutos cada um. Cada um desses ônibus requer 15 minutos de espera na parada. Total: 50 minutos de deslocamento, sendo 30 apenas de espera na parada, sendo possível percorrer o mesmo destino de carro em 15 minutos. Nessa situação, é natural que se fuja do transporte público. Então porque não se redefine o traço de linhas, aproveitando-se para integrar e se adiantar à conclusão das obras do BRT que está sendo feito para a Copa do Mundo?

Em outras palavras, porque não se 1) reorganiza o traçado de linhas, diminuindo a necessidade de baldeação e as linhas sobrepostas e 2) diminuindo o tempo de espera na parada?

– A grande diferença entre o transporte público e  demais atividades econômicas é que aquele é de uso comum do povo, uma atividade feita sobre o espaço público e que deve ser gerida para atender aos interesses da sociedade. Então, porque não temos acesso às contas das empresas de ônibus para que o cidadão saiba o custo que ele mesmo gera com o transporte? Por que isso não é divulgado, e fica uma caixa preta em que não temos a menor ideia do custo e da arrecadação que as empresas possuem?

– Por que não se aumenta o fluxo de ônibus no domingo, para que o cidadão possa utilizar os ônibus nos finais de semana? A oferta cria sua própria demanda. Não há demanda porque não há oferta. Dizem que não há ônibus nos domingos porque não são utilizados, mas não são utilizados porque não há ônibus.

Então, alguém da prefeitura poderia fazer a gentileza de responder porque não se resolve o problema do preço da passagem tornando o ônibus mais atrativo para o usuário e fazendo com que a população tenha a opção de deixar o carro em casa, ao invés de nos lançar num ciclo vicioso de oferecer um sistema insuficiente e inadequado que afasta o usuário e compensa a falta de arrecadação com tarifas predatórias?



Categorias:BRT, Meios de Transporte / Trânsito

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93 respostas

  1. Aos que me deram alguma resposta eu digo, é claro que a maioria que anda de ônibus não tem opção, isto é o óbvio, mas tem muitas pessoas que usam o ônibus porque não querem mais dirigir e eu sou uma delas. Caso todas as pessoas em Porto Alegre tivessem e usassem o carro cotidianamente nós nem conseguiríamos sair de casa….
    Desde que me conheço por gente existe a meia passagem para estudante e o cobrador esta ali para cobrar quem não tem o tri. Esta ali também porque no Brasil as pessoas não tem respeito, no início do passe livre que acontecia um domingo por mes e que agora só existe em datas especiais turmas entravam no ônibus e promoviam arruaças então a figura do cobrador se tornou necessária….
    Dia 25-03-2013 esperei o T1 na Assis Brasil para vir para o Jardim Botânico das 19:40 as 20:45hrs. porque havia uma manifestação na frente da Puc por causa do preço da passagem. Quantos eram os manifestantes, garanto que nem andam de ônibus, porque os que trabalham durante o dia e estudam à noite não tem tempo para estas coisas….

  2. Metrô não é magalomania, é necessidade. Os corredores de BRT planejados em Poa já começarão saturados. Infelizmente, ninguém planeja nada neste país com alcance além da próxima eleição. Para finalizar, de nada adianta ter um sistema de transporte exemplar quando há falhas na segurança da população; a criatura anda de ônibus com medo de ser assaltado e tal. Precisaríamos ter um planejamento para se colocar um sistema de metrô, BRT e VLT integrado e em toda a cidade e estabelecer metas anuais para a sua construção. Mas antes é preciso superar o lobby das empresas de ônibus e a rodofilia tupiniquim…

    • Usando a ideia que o Rogerio Maestri deu em um comentário em outro post, uma “chuva” de ovos e tomates podres seria interessante (já que as pedras machucam). O problema é levar tiro de borracha depois…

      • Julian.
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        Manifestações públicas exigem acima de tudo estratégia e planejamento. Não é sair como um bando de loucos para quebrar o que vem pela frente e apanhar da polícia.
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        Para uma manifestação bem feita, é necessário prever várias coisas, como:
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        1) rotas de fuga,
        2) apoio logístico médico e jurídico,
        3) filmagem em locais longe do acesso da polícia (em edifícios, por exemplo) com câmeras de vídeo profissional registrando os desmandos policiais,
        4) segurança interna para impedir que agentes provocadores, colocados habilmente por quem é contra, para fazer provocações e dar razão para atos mais violentos da repressão.

        Na Correia do Sul, antes de virarem uma grande potência, tinham manifestações fantásticas em termo de organização, com isto conseguiram ganhos sociais e agora estão onde estão.

        Manifestação sem a mínima organização, só dá porcaria e degenera em tumulto.

        • Rogério, como eu previ, a prefeitura está auxiliando as pessoas a se organizarem… veja o que está circulando pela rede

          Melhor seria o Fortunati aparecer na mídia, dialogar, ir para o debate, dar a cara a bater…

        • Pablo.
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          É melhor que as pessoas leia este manual, pois ele ensina táticas para as pessoas quando numa manifestação pacífica são repelidos por forma não pacífica.
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          Podemos e devemos nos manifestar, mas não precisamos ir ingenuamente a uma manifestação e sofrermos uma repressão violenta sem nenhum preparo.
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          O manual é bom, e sugiro que todos leiam, e também sugiro que as organizações que lideram estas manifestações tomem cuidado principalmente coibido que manifestantes façam atos de violência. Se a manifestação é pacífica, TODOS DEVEM SEGUIR ESTA DIRETRIZ.

        • Tem só algo falho no manual, não fala sobre a manutenção da ordem na manifestação e o cuidado contra a infiltração de baderneiros e agentes provocadores.
          .
          Provavelmente se as manifestações continuarem, as empresas interessadas no fim deste tipo de manifestação, colocarão pessoas a seu mando para provocar tumulto, cometer crimes contra o patrimônio e a vida humana. Estes são o que chamo agentes provocadores, pois há também os baderneiros que trabalham de graça.

  3. Ontem o prefeito de São Paulo deu a idéia de que em vez de aumentar o valor da passagem do transporte público, aumentar a gasolina em 10 centavos. Com isso subsidiaria a passagem visto que as pessoas estão preferindo carro em vez de onibus. Outra ideia de politico que não entende nada. Será que ninguem nesse pais tem peito pra enfrentar as empresas de onibus? Que inflação é esta que vivemos em que a comida sobe no mercado, tudo tem aumento e o salário não? Nunca fui a favor de quebra quebra, mas tem um momento que a coisa chega no limite. Mil enganos com esse prefeito que ajudei a eleger, pois o cara é mais um que joga a culpa nos outros em vez de ser a favor do povo.

    • Aumentar o preço da gasolina é uma das formas utilizadas pra frear a utilização dos automóveis particulares. Mas é claro que para se fazer isso deve-se dar uma opção à população, o que não é o caso do Brasil.

    • É uma solução… me agrada. Afinal gastar gasolina não gasta só gasolina, “gasta-se” toda a infra-estrutura da cidade.

      • Exato. Acho completamente adequado introduzir taxas compensatórias aos que optam pelo automóvel pelas externalidades que causam. No entanto, ainda prefiro o pedágio urbano, pois a sobretaxa na gasolina afeta todos indiscriminadamente, enquanto que o pedágio urbano cobra de quem usa as vias nos horários de pico.

        • O pedágio urbano é certamente o ideal. Na Europa há pedágio urbano “negativo” para bicicletas.

          Basta instalar um sensor wireless na bicicleta e ao passar em checkpoints ganha-se dinheiro.

          Acho essas medidas bem honestas e fecha com a pesquisa feita em Copenhagen(” A prefeitura de Copenhague calculou que, a cada quilômetro que uma pessoa anda de carro, a cidade gasta R$ 0,30. A cada quilômetro pedalado por uma bicicleta, a cidade ganha R$ 0,70″)

    • Se fosse uma taxa sobre todo o combustível fóssil para subsidiar outras fontes de energia e transporte baseado em eletricidade, sou parceiro.

  4. Não é atribuição do prefeito zelar pela qualidade do serviço? (Além de outras tantas). Com Fogaça/Sena, imaginava que estávamos no fundo do poço. Ledo engano.

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