Um novo tipo de jornalismo, por Rogério Maestri

Existem vários tipos de jornalismo, o investigativo (o mais nobre de todos), o jornalismo especializado (político, econômico, científico e outros) e mais variações sobre o mesmo tema. Mas no Brasil inventamos outro tipo de jornalismo que eu denominaria o jornalismo do “achismo opiniático”.

O que constitui este novo tipo de jornalismo? Basicamente se constitui de um profissional formado que, atrelado a um setor de interesse nada público, empresas privadas, concessionárias, políticos com boa verba, e outras categorias se dedica não a dar notícias mas sim a aplicar o jornalismo “achismo opiniático”.

Além de atrelado a diversos sistemas de poder, este jornalismo do “achismo opiniático” tem uma pauta pré-definida pelo patrão, e para satisfazer esta pauta ele tem que contrariar aqueles princípios básicos do jornalismo, que são: O quê? “Quem?” “Quando?” “Onde?” “Como?” e “Por quê?”.

Para não ir contra o que era o lema da “RCAVictor” no fim do século XIX, Nipper, um cãozinho simpático, ficava embevecido na frente do gramofone ouvindo a “Voz do dono”, os jornalistas do “achismo opiniático” ficam a frente do gramophone (com grafia antiga para ficar mais adequado) ouvindo a voz de seus donos para reproduzi-la da melhor forma possível.

Como para satisfazer o ditame básico do jornalismo é necessário passar por perguntas básicas, que poderão contrariar a voz do dono como o famoso “Por quê?”, os jornalistas da nova modalidade muito em voga no nosso país, pulam todas estas etapas e passam a uma nova fase: “O que eu acho (em reflexo a voz do dono) sobre tudo isto.”

Nas manifestações da população da cidade contra uma concessão pública mantida de forma ILEGAL (sem licitação), de maneira incorreta (sem qualidade) e com preços que não se sabe bem como são compostos (planilhas e dados secretos, contrariando a lei), se escutam as vozes do jornalismo do “achismo opiniático”, caracterizado por frases do gênero:

– Eu acho que a população deveria se manifestar de forma pacífica e ordeira.

 – É de minha opinião que as tarifas de ônibus de Porto Alegre são instituídas por organismos competentes.

Poderíamos seguir neste caminho, mas existem grandes perguntas que não querem calar, deve-se perguntar:

Quem deu o direito e o poder aos jornalistas para “acharem” ou “opiniarem” em nosso nome?

Em que escola de jornalismo que se ensina que estes devem colocar em contraposição dos fatos a sua opinião (ou da voz do dono)?

É sintomático que grande parte dos jornalistas mais “famosos” em nosso meio vem do meio esportivo. Exatamente porque no jornalismo esportivo a margem para achar e ter opiniões, devido principalmente um falso senso de não comprometimento deste setor, dá margem ao crescimento do “achismo opiniático”.

Só para terminar, alguém poderia dizer que existem os articulistas, e estes tradicionalmente dão mais opiniões do que notícias, porém este tipo de jornalista geralmente é restrito a colunas isoladas em que aparece seu nome, CPF e demais dados, ficando claro que esta é uma opinião do próprio. Em órgãos de comunicação estes articulistas não são e não desempenham a tarefa de jornalistas convencionais, o seu mote não é a notícia do dia nem o do fato ocorrido (os que fazem isto terminam confundindo os papeis e se tornando inclusive desagradáveis), o seu objetivo é dar de forma clara e inequívoca a SUA OPINIÃO, mas não misturada com a notícia nem relatando e comentando o fato, mas sim escrevendo mais de forma literária a sua visão sobre a sociedade.

Chega de acho isto, acho aquilo, temos ou tivemos pais para nos educar, e não precisamos mais opiniões para nos orientar e ensinar o que devemos fazer, precisamos dos jornalistas o mesmo de sempre: : O quê? “Quem?” “Quando?” “Onde?” “Como?” e “Por quê?”

Rogério Maestri – Engenheiro, Mestre em Recursos Hídricos e Especialista em Mecânica da Turbulência



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30 respostas

  1. Acho enggraçado o jornalismo mãe Dina. O Tulio e o Lasier são experts nesse tipo de jornalismo, semana passado o Túlio tava com o seguinte papo:

    “Todos iremos pagar pela redução da passagem de ônibus e sucateamento da frota”

    Ora bolas, justo eles q andam de SUV por todos os lados…

    • Leonardo, só citaste uma das centenas de declarações que os jornalistas do “achismo opiniático” dão as centenas por semana nos nossos meios de comunicação.
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      Gostaria de saber quem deu procuração para o Senhor Túlio falar em meu e seu nome.
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      Poderia contrariar a opinião deste indivíduo desinformado com a seguinte informação:
      A taxa de depreciação dos ônibus de Porto Alegre não é linear.
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      Nos primeiros 4 anos os ônibus perdem na teoria mais de 60% de seu valor, e quem paga esta perda de valor são os passageiros.
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      Quando eles vendem os ônibus novos, teoricamente todo o valor que eles arrecadaram a mais do que a depreciação que a passagem já pagou, deveria ser revertida para a diminuição da passagem, porém não o é.
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      Logo o que ocorre, a empresa compra o ônibus por 100 (por exemplo), quatro anos depois a passagem já pagou 60 do valor do ônibus, a empresa vende o ônibus por 70. 70+60=130, 130-100=30, ou seja 30 deveria reverter ao município, mas como a EPTC não controla isto (ou pelo menos não aparece como renda da companhia de transporte), o transportador ganha dinheiro por conta da chamada renovação da frota.
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      Agora tem duas hipóteses:
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      (a) Ou o seu Túlio não sabe disto e fala e emite opiniões sem nenhum critério.
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      (b) Ou o seu Túlio sabe disto e está escondendo informações a população.
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      Sendo (a) ou sendo (b) é um desserviço a população de Porto Alegre e um mau jornalismo, um jornalismo do “achismo opiniático”.

  2. Por falar em jornalismo, veja essa notícia:

    http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/dia-a-dia/noticia/2013/04/em-cada-dez-onibus-7-5-atrasados-e-6-9-atrolhados-em-porto-alegre-4099656.html

    Interessante como a RBS está muito mais atenta à realidade que nossos políticos. Colocando nos termos do Rogério. Se jornalistas estão no achismo os políticos estão perdidos na poeira ou confusos por seu próprio ego.

    • Pablo.
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      O problema que o discurso é bem dúbio, no fim de semana, a zero hora de domingo, trazia uma reportagem que procurava demonstrar que o preço estava caro, mas não tão caro assim e que a frota era nova e “cheia” de ar condicionado, agora o Diário Gaúcho faz uma reportagem sobre a má qualidade do transporte. A empresa é a mesma mas os jornais tem públicos diferentes, para o leitor de ZH, que assina o jornal e a maioria não anda de ônibus, mostrar indicativos de qualidade como ar condicionado e ônibus novos (uma versão de um fato), mostra a boa qualidade do transporte, já para o leitor do Diário Gaúcho, que não é o mesmo da ZH e anda de ônibus, não adianta infográficos, ele sabe que os ônibus estão cheios e andam atrasados.
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      Há dois fatos que chamo a atenção, o horário das entrevistas (das 9h e as 11h30min) ou seja exatamente fora da hora de maior demanda e ao lado as notícias que eles colocam no site como complementares,
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      O custo da tarifa: Isenções pressionam preço da passagem de ônibus em Porto Alegre…..
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      Preço da passagem: Clamor das ruas acelerou decisão de juiz sobre redução da tarifa na Capital…
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      Prédio atacado: Prejuízo com depredação na sede da EPTC chega a R$ 30 mil, conforme a empresa….
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      Transporte público: Empresas podem boicotar tributos municipais para diminuir prejuízos, afirma associação…

      • Não tinha percebido os detalhes (que não são poucos)… Mas uma coisa que me chama a atenção é que essa notícia tem 320 compartilhamentos, as demais, que inclui o prejuízo de 30 mil ou as isenções não tem compartilhamento nenhum.

        Tenho certeza que eles estão bem atentos à esse detalhe.

  3. O “achismo opiniático” jornalistico não foi inventado no Brasil. Tampouco fomos os primeiros a nos dar conta que os jornais moldam a opinião pública (e que é possível se beneficiar se ela for moldada para um “determinado lado”). Fox News manda abraços (aliás, tangenciando o assunto desse post o Jon Stewart fez uma pseudoanálise legal sobre a tentativa do Rupert Murdoch de comprar mais um jornal em Los Angeles, semana passada).
    Eu (que não tenho nenhuma credencial para dizer que tenho uma opinião embasada) acredito que esse é o fruto da democratização. Com qualquer produto ou serviço isso que acontece. Para que mais pessoas tenham acesso ele tem que ficar mais barato e mais palatável (ou fácil de entender) – e a qualidade ou imparcialidade das reportagens se tornam menos importantes que a identificação do espectador com a matéria.
    Mas não sou contra a democratização das informações; bem pelo contrário. Só quero dizer que ela não é uma panaceia para os problemas da sociedade.

    (Off Topic: Gilberto, consegui algumas informações sobre o novo dono/locatário do terreno aonde está o DC-3 da Varig. Inclusive tirei umas fotos do avião. Tô te mandando por e-mail há alguns dias mas só dá erro de envio. Como faço para falar contigo?)

    • Ricardo.
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      Sempre há uma linha política num órgão de informação, a FOX no caso norte-americano é conhecida (e não esconde isto) por ser a voz do Partido Republicano, como outros jornais e TVs são do Partido Democrata, aqui as TVs, rádios e jornais, tentam passar a imagem de isenção e não partidarismo, isto é um dos pontos.
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      Outro ponto é que a mídia não comenta o fato, comenta a versão, e em cima dela ainda emite opiniões. O caso dos protestos contra o preço da passagem é o exemplo típico, esquecem o movimento e ficam comentando atos de vandalismo que podem ter sido executados por qualquer um.

  4. Deveriam exigir no mínimo um diploma de administração/economia/engenharia para ser político.

    De que adianta ter as massas se não sabe comandar/escrever o nome?

  5. “Quem deu o direito e o poder aos jornalistas para “acharem” ou “opiniarem” em nosso nome?”
    Rogério, digite Yuri Bezmenov no youtube e veja a entrevista e a aula que ele deu, no início da década de 80. Muito reveladora.
    Se não conseguir, tenho os vídeos compilados comigo e posso te enviar se for do interesse. Abraço.

    • Lenilton.
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      Gostaria de que foste mais explícito na tua intervenção, pois temos várias leituras da mesma.
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      1º) Que sou um agente infiltrado da KGB, que já deixou de existir há mais de 20 anos, e que fui colocado para minar as bases do nosso sistema democrático.
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      2º) Que toda a teoria exibida por Yuri Bermenov, foi um imenso fracasso, pois quem caiu foi a União Soviética e não os Estados Unidos.
      .
      3º) Que os jornalistas opiniáticos de hoje em dia são agentes infiltrados da CIA (a KGB não existe mais), com o objetivo de desestabilizar algum governo (local ou federal).
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      4º) Que o teu amigo Yuri Bermenov, ganhou uma boa grana fazendo propaganda anti-soviética para o governo norte-americano.
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      Quanto ao ponto do direito dos jornalistas opinarem em nome da população, não tive paciência de olhar aquele belo exemplar de uma guerra fria tardia.
      .
      Quanto a ação da KGB e da CIA em meios intelectuais isto é mais velho do que amarrar cachorro com linguiça, há inclusive um livro, “Who Paid the Piper: The ClA and the Cultural Cold War”, de Frances Stonor Saunders, que através de documentos oficiais norte-americanos mostra quanto dinheiro a CIA colocou em intelectuais como Irving Kristol, Melvin Lasky, Isaiah Berlin, Stephen Spender, Sidney Hook, Daniel Bell, Dwight MacDonald, Roberto Lowell, Hannah Harendt, Mary McCarthy, Ignacio Silone, Stephen Spender, Arthur Koestler, Ràymond Aron, Anthony Crosland, Michael Josselson e George Orwell, através das Fundações Ford e Rockefeller, para promover o anti-esquerdismo na Europa e resto do mundo, nas décadas de 50 e 60.
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      É interessante este livro, porque ele é baseado em documentos oficiais que foram recentemente desclassificados por serem antigos. É exatamente como agem os países com interesses estratégicos contra outros países.
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      Também é interessante notar nisto tudo que a necessidade de dominar corações e mentes é algo que passa pela imprensa, e talvez nisto que esteja te baseando.
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      Mais na verdade eu acho tudo isto uma enorme teoria da conspiração, pois por mais fantásticas que eram as verbas da KGB ou que são as verbas da CIA nos dias de hoje, ela não alcança a plêiade imensa de repórteres do jornalismo “achismo opiniático”.
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      Todas estas teorias conspirativas esbarram num grande problema, se a ação se espalha para um número muito grande de pessoas, um ou outro por vedetismo, por orgulho pessoal e por outras motivações meio torpes terminam dizendo:
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      – Veja como sou importante, até a CIA me paga!
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      Eu atribuo o jornalismo “achismo opiniático” simplesmente a preguiça de fazer um jornalismo inteligente, coisa que dá trabalho e incomodação.

  6. Posso parecer pessimista, mas, e se o jornalismo nunca foi mais do que isso, mas só agora tomamos senso crítico para nos darmos conta?

    • Talvez porque só agora temos acesso direto à informação através da Internet.

    • Ricardo, não é bem assim. Quando leio as notícias publicadas no Correio do Povo há 100 anos, vejo um jornalismo de fatos e ao mesmo tempo comprometido. Uma pequena diferença, naquela época jornal tinha partido político e fazia questão de publicar a sua filiação partidária, ou seja, quando havia uma crítica a um dado homem público, ou a uma dada atuação do mesmo, sabia-se exatamente do lado que vinha a bala.

  7. Na mesma linha do Maestri, mas avançando um pouco mais, vemos o jornalismo ideológico que arrebanha cada vez mais incautos. Leiam a Revista Carta Capital, o Sul 21 e seus articulistas. Notamos claramente a apoio a manifestações socias violentas quando o governante-alvo não reza da cartilha marxista.

    • Felipe.
      .
      Mas não esqueças que a ZH o Correio e aliados deitam e rolam no governi$mo, e talvez não $eja por ideologia.

    • Felipe.
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      Não vejo problema nenhum num jornalismo comprometido com um partido ou com uma ideologia, desde que fique claro qual o lado que ele está.
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      Aqui no Blog, que se pretende apartidário, todo mundo tem que fazer uma ginástica para parecer assim, mas são os comentaristas que tomam posição, e estes sempre tem maior liberdade.

  8. Atenção: Coloquei bem claro acima que há um tipo de jornalismo, o investigativo, que conforme o que estão investigando colocam inclusive as suas vidas em risco.
    .
    Estes inclusive são os exemplos que a maioria dos jornalistas, escritores e publicadores de “press releases” colocam como exemplos quando querem defender a classe, porém estes são jornalistas, já o resto…

    • Recentemente dados internacionais colocam o Brasil em péssima situação na elucidação de assassinatos de jornalistas… Infelizmente está difícil fazer jornalismo investigativo.

  9. Qual o problema do google trabalhar como médico na hora que eu digitar bronquite como curar ??????

    • O problema é que os médicos asseguram a veracidade do diagnóstico através de exames feitos com base científica. E mesmo quando os médicos erram são expulsos da ordem ou vão presos.

      Nunca ouvi falar de um jornalista sofrer nada por que manipulou a informação. E mesmo quando desmascarados dizem que a informação foi fornecida por uma “fonte confidencial”.

      Só para completar, jornalista se comparando com médico é f.

    • Existem uma classe de softwares chamados “software especialista” que são capazes de fornecer diagnósticos muito mais precisos que muito médicos recém formados (esses softwares certamente não substituem um médico experiente…). Esses softwares são muito utilizados quando o diagnóstico se torna difícil.

  10. Agora os jornalistas vão querer me esquartejar, botar fogo e enterrar bem fundo…

    Como se não bastasse o “achismo opiniático” os jornalistas lutam pela exigência de diploma para jornalistas. Isso é algo ridículo!

    O Rogério Maestri não é jornalista e qual o problema dele trabalhar como jornalista na área de engenharia ou obras? Qual o problema do Pelé trabalhar como jornalista de futebol? Qual o problema do Michio Kaku trabalhar como jornalista científico?

    Precisa de diploma para “achismo opiniático”?

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