RS: após 31 anos, primeiro aeromóvel do Brasil deve ser inaugurado em agosto (amanhã)

Sistema pioneiro é considerado rápido, seguro, econômico e sustentável; movimento do veículo é gerado através do vento, sem prejuízo ao ambiente

Foto: Divulgação/Trensurb

Foto: Divulgação/Trensurb

Em uma via elevada, por entre avenidas e viadutos, serpenteando no meio de prédios, o aeromóvel passa quase sem fazer barulho em direção ao seu destino. Silencioso, o veículo brasileiro parece flutuar, estável, sem trepidações. Mesmo sobre trilhos, aparentemente voa no ar, acima dos carros e ônibus ─ próximo dos céus, para onde os passageiros se dirigem, a caminho do aeroporto. A operação ainda é experimental, mas a fase de testes está perto do fim. A inauguração oficial, com a presença de presidente Dilma Rousseff, deve ocorrer ainda em agosto.

Aeromovel, a alternativa de transporte do Brasil

Usuários que hoje dependem de carros e ônibus para percorrer o trajeto entre uma estação de trens urbanos e o aeroporto da capital gaúcha ─ um caminho de menos de um quilômetro hoje acessível apenas por rodovias movimentadas ─ passarão a ter acesso à alternativa sem qualquer custo. A primeira linha da tecnologia brasileira vai interligar a Estação Aeroporto do transporte público de trens de Porto Alegre ao Terminal 1 do Aeroporto Internacional Salgado Filho.

A expectativa é que o aeromóvel realize seus primeiros deslocamentos com passageiros na terceira semana de agosto. A data prevista para a inauguração é o dia 15, com participação da presidente da República. Os recursos necessários para implementar o projeto (R$ 37,8 milhões) foram investidos pelo governo federal. O veículo atualmente em operação, chamado de A100, é o primeiro ─ e menor ─ dos dois que devem funcionar de maneira intercalada no local. O segundo aeromóvel (A200), com capacidade para 300 pessoas, está sendo construído e deve chegar a Porto Alegre no final de setembro, segundo estima a Trensurb.

O projeto do aeromóvel vai possibilitar maior integração para o transporte público da região metropolitana de Porto Alegre e será oferecido como um serviço gratuito aos usuários da Trensurb. A ligação direta deve beneficiar também funcionários da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) que percorrem o caminho até o aeroporto diariamente. Quanto ao número de passageiros, a Trensurb estima que aproximadamente 8 mil pessoas por dia devem fazer o caminho até o aeroporto pelo aeromóvel.

“Essa tecnologia foi duramente criticada no Rio Grande do Sul, mas verificamos que o questionamento é um grande equívoco. A vantagem energética é tremenda: vale muito a pena transformar a energia elétrica em vento para empurrar (o aeromóvel)”, afirmou Ernani da Silva Fagundes, superintendente de Desenvolvimento e Expansão da Trensurb, após uma viagem de testes conferida pelo Terra.

Trinta e um anos se passaram desde que a execução do projeto foi interrompida. Questões políticas, acredita o idealizador do aeromóvel; o preço do pioneirismo, acreditam os responsáveis pela implementação atual, justificando a defasagem. “Isso que a gente chama de atraso é o custo de uma inovação”, defende o gestor do projeto do aeromóvel, Sidemar Francisco da Silva. “Era impossível fazer esse veículo no prazo que estava nos contratos, ele tinha que ser adaptado dentro de novos padrões e seguir todo um conjunto de regras de segurança até então não definidas”, afirma o gerente de Desenvolvimento de Engenharia da Trensurb.

O antigo protótipo ainda permanece parado nos trilhos elevados da linha original, em frente à Usina do Gasômetro: um símbolo do abandono. Apesar de a obra ter cessado na década de 1980, o projeto continuou tomando forma. E muito mudou desde o primeiro modelo, criado em 1977. A ideia conceitual, no entanto, permanece a mesma.

O aeromóvel se movimenta com a energia gerada por um ventilador movido por um motor elétrico. Anda sobre trilhos, em rodas de aço, mas não queima combustível. Seu inventor, o gaúcho Oskar Coester, compara o funcionamento do aeromóvel ao de um barco à vela ─ só que invertido. Em ambos os casos, é o fluxo de ar que promove a impulsão; no aeromóvel, um duto localizado dentro da via elevada empurra a “vela”, fixada sob o veículo por meio de uma haste. A estrutura é leve: com capacidade para carregar 150 passageiros, pesa apenas 10 toneladas, enquanto um carro popular costuma ter cerca de uma tonelada.

“É um novo conceito de transporte. (O aeromóvel) tem custo bem menor porque movimenta menos peso”, disse Coester. Sua ideia foi adotada apenas em um local até hoje: em Jacarta, capital da Indonésia, onde funciona dentro de um parque ao longo de uma linha de 3,5 quilômetros. “Esse sistema funciona desde 1989 em operação comercial na Indonésia e não registrou nenhum acidente”, garante. Além do aspecto ambiental, ele destaca a segurança e economia do veículo não motorizado.

Todas as peças utilizadas na constituição do aeromóvel são de fabricação nacional. Os motores propulsores foram fabricados por uma empresa do Rio de Janeiro, e o motor elétrico foi desenvolvido em Caxias do Sul (RS). O projeto foi criado “do zero”: toda a tecnologia e a estrutura necessárias são feitas no Brasil. O sistema é totalmente automatizado, e assim não exige condutores a bordo. Todo o controle é feito a partir de estações remotas, localizadas em cada ponto final da rota.

Inauguração

Um dia depois de inaugurado, o sistema vai começar a transportar passageiros em um chamado “processo de automação”, como um período estendido de testes, que deve durar 90 dias. O intervalo entre cada viagem ─ cujo trajeto é percorrido em dois minutos a uma velocidade média de 65 km/h ─ ainda não foi definido, e vai depender da demanda de cada período. As primeiras viagens comerciais vão ocorrer entre as 10h e as 16h nos dias de semana.

“O intervalo entre essas viagens nós não definimos ainda, se vai ser de 5, 10 minutos… vamos ter que testar a demanda e sentir como é que (o sistema) vai se comportar”, afirmou o superintendente da Trensurb Ernani Fagundes.

A demanda aferida nesse período também vai definir qual o veículo mais adequado para cada horário. Dependendo da quantidade de passageiros, será utilizado um aeromóvel ou outro, mas nunca os dois ao mesmo tempo: enquanto um opera, o outro fica estacionado.

Segurança

Diversas etapas de segurança buscam garantir que o funcionamento do aeromóvel não seja interrompido. Caso haja algum problema, porém, há um plano B (e até um plano C) para que o veículo nunca deixe de se movimentar quando necessário. A operação padrão é feita através de um centro de controle, que funciona no prédio da Trensurb e conta com câmeras que registram todo o trajeto. O sistema, quando configurado, opera sozinho, sem necessidade de operação manual. O trabalho dos técnicos e supervisionar a automatização.

Caso o motor principal do aeromóvel ─ o ventilador movido a eletricidade ─ apresente alguma falha, uma subestação localizada na Estação Aeroporto conta com outro painel de controle. É ali também que fica o motor alternativo, movido a diesel. Assim, caso haja falta de luz, o veículo pode continuar funcionando. Um terceiro estágio de operação, se ambos os motores e estações apresentarem problemas, é o controle manual, por meio de joysticks.

“Pode parar o trensurb, mas o aeromóvel continua andando. Prevemos falhas seguras e temos estágios de backup com diversas soluções operacionais”, garante Fagundes. “Todo o sistema é pensado com alternativas (de segurança), para não ter nenhuma situação em que o veículo não possa andar.”

aeromovel1

Portal Terra, 5 de agosto de 2013

 

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A matéria do site da Trensurb:

TRENSURB ABRE AEROMÓVEL AO PÚBLICO EM EVENTO COM A PRESIDENTA DILMA.



Categorias:Aeromóvel, Aeroporto Internacional Salgado Filho

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18 respostas

  1. Nada a ver com o aeromovel meu comentário, qual alias considero muito bem vindo. Totalmente impactante a ultima foto, por algum detalhe de ótica parece estar caindo um meteoro ou missel sobre Porto Alegre. Tipo de foto que entra pra historia.

  2. Como eu gosto de reclamar das coisas, aqui vai mais um erro no texto: “Um terceiro estágio de operação, se ambos os motores e estações apresentarem problemas, é o controle manual, por meio de joysticks.” Parece que recortaram um pedaço do texto e esqueceram de ajustar. Ou eu estou enganado e na falha dos dois motores os joysticks serão usados pra efetivamente mover o aeromovel!

  3. Minha única reclamação é quanto ao absurdo de propagar que ele movido “a vento”. De onde vem o “vento” que move ele? De motores eletricos ou a diesel de 160 HP. Esses jornalistas tem ensino médio completo??

    Ainda não li a respeito, mas gostaria de ver um comparativo entre o aeromovel e um people mover eletrico convencional com relação ao gasto de eletricidade e/ou combustivel por passageiro transportado (tanto média quanto capacidade máxima). Se alguem aqui tiver um link pra tal estudo favor colocar abaixo.

  4. O pior de tudo é que há muita gente se mordendo de raiva. Como diz o ditado: A inveja é uma merd@.

  5. Eu sonho o dia que esse meio de transporte estará espalhado por toda a cidade, aliado com VLTs e menos ônibus.

  6. Grande iniciativa de todos os gestores envolvidos para a realização e inauguração do aeromóvel ligando o Salgado Filho a estação do metrô do aeroporto.

  7. MAIOR PALHAÇADA ! Vai servir só pra enfeite !

    Li na Zero Hora que em breve VÃO COBRAR passagem pra andar no aeromovel !

    R$ 1,70

    E cedo da noite ele já pára !

    • No período de testes ele será gratuito e operará das 10:00 as 16:00, depois que ele entrar em operação plena ele ira operar no mesmo horário dos trens da trensurb e a passagem de 1,70 vai ser para quem embarcar no aeroporto, sendo que não vai necessitar pagar passagem para andar nos trens da linha, e quem já está na linha não vai precisar pagar pra andar no aeromovel.

    • Sim é o preço do Trensurb. Vc pode comprar o passe no aeroporto, ir até a estação e seguir viagem pelo trensurb. Ou vc pode vir de Trensurb pagando 1,70, descer na estação aeroporto e seguir de aeromóvel até o terminal.

      Você queria o que? Ir da estação até o terminal e voltar só para passear?

    • Tu é porta voz da ATP?

  8. Parabéns ao Sr.Coester ! Meu sincero entusiasmo pelo projeto e empreendedorismo. Abstraindo-se nossos políticos – de péssima qualidade na grande maioria – e o interesses econômicos globais, é uma tremenda vitória mesmo após tantos anos. Imagino que seu Aeromóvel tenha aplicação para todos os centros urbanos do planeta, e quem sabe com a efetivação comercial da superconditividade, a ausência de atrito transforme sua invenção no estado da arte para o transporte neste século. Aplaudo em pé !

  9. “Caso haja algum problema, porém, há um plano B (e até um plano C) para que o veículo nunca deixe de se movimentar quando necessário.”

    Para maior tranquilidade dos futuros usuários será importante que a Trensurb informe detalhes de tais planos.

    • Meu palpite baseado na minha experiência com automação esses são os modos de operação automático, semi-automático e manual.

      Automático: Não há operador, computadores e controladores lógico programáveis sabem a posição do veículo e de cada válvula, velocidade dos ventiladores, posição das portas… Esse sistema decide, baseado na botoeira junto as estações de embarque para onde o veículo vai ir e a sequência de operação do tipo: Desacelera, aciona freios, abre porta, toca sinal de fechamento, fecha porta, verifica fechamento, aciona trava…

      Semi-Automático: Um operador aciona certas sequências de operação, como ciclo de fechamento de porta, ciclo de abertura de porta, deslocamento a uma certa velocidade… Nesse modo não há “inteligência”, não decisão baseada no usuário, apenas sequências lógicas simples de sensor-atuador.

      Manual: Não necessita de nenhum computador, controlador ou sensores. Os atuadores são acionados um a um de forma completamente manual. O sinal de um botão vai diretamente para o atuador sem interferência de nenhum intertravamento. Assim como um ônibus, nesse modo há total liberdade de se fazer o que quer, como abrir as portas com o veículo em movimento ou tocar o apito de fechamento da porta a qualquer momento…

  10. Só demorou 31 anos para sair do do projeto! Que país! Antes tarde do que nunca!

    • Demorou 50 anos para colocarem a turbina em um avião por causa do lobe dos fabricantes de motor a combustão interna. E só colocaram por causa de guerra, caso contrário acho que estaríamos cruzando o oceano em aviões com hélice até hoje.

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