Ganhou grande repercussão a proposta de realizarmos uma licitação do transporte coletivo não incluindo como item obrigatório o ar condicionado como forma de reduzir o custo final e, consequentemente, o valor da tarifa dos ônibus em Porto Alegre.
As grandes mobilizações realizadas no ano passado em todo o Brasil, no que diz respeito ao transporte coletivo, colocaram na pauta de forma enfática o preço das tarifas e de forma ampla a qualidade do serviço oferecido.
Depois de um grande esforço envolvendo as diversas esferas, resultando em isenções tarifárias nos âmbitos federal e municipal, o preço das passagens de ônibus foi reduzido em praticamente todo o país, inclusive em Porto Alegre. Ao chegarmos em 2014, o tema volta à cena. A Prefeitura do Rio de Janeiro majorou as passagens de ônibus para R$ 3,00, São Paulo decidiu ampliar o subsídio ao sistema para R$ 1,6 bilhão – sendo obrigada, com isso, a cortar investimentos em outras áreas –, e a maior parte das cidades da grande SP também aumentaram a tarifa para R$ 3 ou um pouco mais.
Aqui em Porto Alegre, depois de um intenso e complexo debate técnico sobre a planilha da tarifa entre a Prefeitura e o Tribunal de Contas do Estado (TCE), finalmente tivemos uma decisão definitiva tomada por unanimidade pelo Pleno do Tribunal, definindo explicitamente a forma de cálculo dos itens da planilha prevista pela lei 8.023 de 1997.
Ao mesmo tempo, temos uma decisão tomada por um Desembargador do TJ obrigando a Prefeitura a realizar a licitação do transporte coletivo em ônibus em 30 dias. Sem entrar no mérito da decisão, o que foi amplamente discutido com o MP e o Poder Judiciário, decidi que a medida judicial deveria ser cumprida mesmo sem contar com todos os componentes técnicos para viabilizar a melhor licitação possível (impacto do metrô e dos BRTs, como exemplo).
Então, solicitei à equipe comandada pelo secretário Vanderlei Cappellari, que prepara o processo de licitação há quase dois anos, as providências para viabilizar a licitação com o sistema atual em operação no transporte coletivo, a fim de cumprir o prazo definido pela Justiça.
Surge então a discussão sobre os itens que deveriam constar para garantir a segurança e a qualidade do transporte coletivo, ao mesmo tempo buscando uma tarifa menor para o usuário. Um debate necessário para que a equação final “Qualidade e Preço” seja a mais adequada para a população de Porto Alegre.
Infelizmente, muitos simplesmente comparam os sistemas das cidades com base nos preços das passagens e não na qualidade do serviço prestado. Continuo entendendo que este binômio (qualidade e preço) é fundamental, mas ele tem que ser conferido de forma muito precisa porque cada acessório exigido representa naturalmente um acréscimo de custo no ônibus que vai rodar.
Um exemplo é a exigência (que passou a ser obrigatória para todos os novos ônibus a partir de 2011) da colocação dos elevadores para cadeirantes. Uma conquista importante no atendimento à sociedade, que passou a ter impacto no custo da carroceria e será mantida na licitação. Ainda, outros itens fundamentais foram mantidos e acrescidos para o conforto e segurança dos profissionais rodoviários e usuários do transporte coletivo de Porto Alegre.
Quanto ao ar condicionado, ao consultarmos a cidade de Curitiba, considerada modelo nacional de sistema de transporte coletivo, fomos alertados de que a cidade optou em não colocar o sistema de refrigeração em seus ônibus para não encarecer a passagem de ônibus. Curitiba tem uma temperatura muito próxima a de Porto Alegre tanto no inverno como no verão. Atualmente, NENHUM ônibus que transita na capital paranaense possui ar condicionado, nem sequer os BRTs (“Ligeirinhos”). Conforme estudos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), a utilização de ar condicionado nos ônibus acarretaria um aumento de consumo de combustível em 25% na frota. Por isso, a decisão da não utilização de ar condicionado.
No Rio de Janeiro, ocorreu uma inovação, pois até bem pouco os ônibus tinham tarifas diferenciadas para os “sem” e os “com” ar condicionado (apelidados de frescão). Estes últimos tinham uma tarifa próxima aos R$ 6,00. O prefeito Eduardo Paes resolveu “copiar” o sistema de Porto Alegre e estabeleceu uma tarifa única de R$ 3,00 para todo o sistema na cidade.
Achei importante propor este debate com a população através do Conselho do Orçamento Participativo, pois é um tema de interesse especialmente dos cidadãos que se deslocam das vilas populares e têm o menor orçamento familiar. Essa avaliação também será enfatizada na Audiência Pública sobre a licitação do transporte coletivo.
É importante que as pessoas participem do debate com argumentos objetivos sobre o impacto na vida da sociedade para que possamos encontrar a melhor solução possível para a licitação e a melhor equação no binômio “Qualidade e Preço” da passagem.
Como exemplo concreto para o debate, um dos itens que tornam a Carris mais dispendiosa do que as demais empresas de ônibus é o fato de que 56% da sua frota conta com ar condicionado, enquanto o restante do sistema tem 23% dos veículos com esse recurso. O custo do sistema de ar condicionado num ônibus comum é superior a R$ 100 mil, mais o aumento do consumo de combustível do veículo. Num articulado, o valor ultrapassa os R$ 150 mil. A escolha repercute da mesma forma nos orçamentos quando os cidadãos adquirem seus automóveis com acessórios opcionais.
Em síntese, o esforço que a prefeitura vem fazendo nas medidas voltadas ao transporte coletivo tem o objetivo de qualificar o serviço prestado aos mais de 1 milhão de cidadãos que se deslocam diariamente na cidade. O ar condicionado é sim um item de conforto para os trajetos, mas tem custos que inevitavelmente impactarão na tarifa ao final da licitação. Da mesma forma, a retirada do recurso pode levar a uma diminuição da passagem no processo. Esse é um debate sério que os usuários do transporte coletivo devem fazer. Sem demagogia ou proselitismo. Buscando a melhor solução para a cidade.
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COMENTÁRIO QUE DESTACO, REALIZADO PELO Prof. Marcelo Vicentini:
Sei não, Sr. prefeito. Se eu fosse o Sr. eu me certificaria melhor das informações e dos fatos que estão lhe passando. Pois acho que estão lhe vendendo gato por lebre. O custo de aquisição de um ônibus com ar-condicionado não me parece ser tanto assim, mesmo em ônibus articulado, que não é a maioria utilizada no nosso sistema, aliás. Igualmente, o gasto de 25% a mais quando da utilização do sistema não me parece ser dado com base científica. Quem tem carro com ar, sabe que não é tanto consumo assim, tampouco percentual relevante do valor do acessório sobre o preço total do veículo. Além disso, em boa parte do ano, o sistema nem consumirá tanto, ainda que a tarifa continue a mesma. Assim, a tarifa com sobra no outono e na primavera deve compensar a menor sobra no verão e inverno. O que não podemos mais é deixar o povo ser tratado como gado, já que a tendência é o clima ser cada vez mais perverso em Porto Alegre, no verão. Por fim, quem conhece Curitiba sabe que o calor de lá não tem a mesma sensação térmica escaldante daqui. O Sr. tem que se posicionar naquilo que é melhor para o povo e não para as concessionárias, já que se habilitará à licitação quem quiser, seja qual for o edital adotado, com ou sem ar…
Categorias:onibus
muito bom o comentário do professor marcelo!
pagaria tranquilamente 50 centavos a mais só para não chegar suado no trabalho, ou ficar gripado no inverno!!!,!
Há um novo artigo no blog do Fortunati rebatendo algumas críticas do artigo deste tópico.
O novo artigo chama-se “TARIFA, CURITIBA E OUTROS”.
http://fortunati.com.br/
Diz no novo artigo:
“5) FLORIANÓPOLIS – A capital catarinense concluiu o seu processo de licitação e a passagem ficou estabelecida em R$ 2,60. O processo permitiu a redução de custos, mas o que mais impactou na tarifa foi o salário dos rodoviários. Na tarifa de Porto Alegre, o salário dos rodoviários impacta em 45% do total da tarifa dos ônibus. Enquanto os rodoviários de Porto Alegre passarão a receber no mínimo R$ 2.002,00 (com os 7,5% de aumento) e os cobradores R$ 1.206,26, em Florianópolis, o salário dos motoristas está fixado em R$ 1.615,00 e dos cobradores, em R$ 969,15.”
Cobrador ganhando R$ 1.206,26????
Vocês não acham que é MUITO para quem fica sentado o dia inteiro, recebendo dinheiro pra troco uma vez aqui e outra lá? Para ficar a viagem inteira batendo papo com passageiro ou no celular? Pra não saber dizer se a linha que estás embarcado passa num determinado ponto da cidade?
Pra quê bilhetagem eletrônica, senão for para não depender dos cobradores?
Isso precisa ser amplamente debatido!!!
Ao que parece os veículos particulares locados para atender a demanda dos serviços públicos de vários órgãos por parte da Pref. Mun. POA, todos têm ar condicionado, seria diferente para a concessão de serviços públicos para o transporte público.
Ao que parece o Sr. Fortunati está jogando para a torcida coisas que deveriam ser básicas, a quem interessa tudo isso, qual a intenção, desviar maiores discussões que o povo ainda não sabe que estarão no Processo de Licitação.
Em todo o caso vamos aguardar.
Ao que parece, o Pref. Fortunati continua a apostar nos movimentos sociais.
E Agora José?????????????????
Quantidades de CC na prefeitura: um debate necessário.
Que tal, sr prefeito?
Já to na dúvida se é burrice ou sem-vergonhice?
As duas.
Estava vendo um desses programas sobre carros que passam nas manhãs de domingo na TV. Numa reportagem sobre ar-condicionados em automóveis, o especialista entrevistado afirmou que o consumo de combustível aumenta de 10% a 20% com o ar ligado.
Como é que num onibus o aumento de consumo pode ser tão grande? Tudo bem, o ar tem que ser maior e mais potente, mas um onibus também tem um consumo muito maior para o seu funcionamento.
Isso que, não vamos esquecer, o Fortunati deu uma bela aliviada na declaração do Cappellari que disse que o consumo aumenta em 50%. http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=517331
Afinal, Prefeitura de Porto Alegre, o aumento do consumo é de 25%, 50% ou vocês estão acreditando em qualquer bobagem que a ATP diz sem consultar nenhuma especialista?
Prezado Sr. Prefeito,
Sou gaúcho e residi quatro anos da última década em Curitiba. O Sr. está muito mal informado sobre o clima daquela cidade. Em função de sua altitude (cerca de 900m), a cidade possui um inverno rigoroso, tal como aqui, mas o verão não se pode comparar. O calor de Porto Alegre é absudamente superior ao de Curitiba. O ar condicionado em Curitiba não é muito visto, inclusive em residências.
O que não consigo entender na tarifa de ônibus da capital, é que, morando na zona sul da cidade, me desloco sozinho ao centro de carro diariamente, e gasto quase o mesmo valor em combustível do que pagaria vindo de ônibus, sendo que o ônibus pode transportar uma infinidade de pessoas. Esta conta não está fechando.
Desejo sucesso nesta empreitada de administrar uma cidade como Porto Alegre, pois dependemos do Sr. para melhorar a nossa qualidade de vida, pelo menos até 2016.
Abraços
Nós achamos milhares de coisas para reclamar, milhares de evidências que não fecham com a prefeitura e governo do estado…
Mas todos sabemos o verdadeiro problema a priori: servidores desqualificados e corruptos (des)coordenando a cidade, deixando todo mundo na merd*.
SIMPLES.
Se São Paulo está aplicando 1,6 bilhão no subsídio ao transporte coletivo, pra mim, está fazendo errado, deveria investir esse valor a mais na construção/modernização de trens e metrôs.
Por que, ao contrário do que lutam alguns grupos radicais, mais do que transporte público barato ou gratuito, a maior parte da população quer um sistema de transporte seguro, eficiente e qualificado.