Conforme associação, problemas se agravaram desde início de obras de duplicação
Por Cínthia Marchi
Se o estado da rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre, já não agradava ao empresário Nestor Belló, no último ano ele viu a situação piorar com as obras inacabadas na via. As queixas do dono de um estacionamento próximo ao Túnel da Conceição são as mesmas de um grupo de empreendedores que formaram, em julho, uma associação para pleitear melhorias à rua, distante menos de dois quilômetros da prefeitura. Recentemente, a associação se reuniu com a Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov). Ainda aguarda retorno.
A associação também quer marcar audiência com o vice-prefeito, Sebastião Melo. O engenheiro fiscal Antônio Matos, da Divisão de Obras e Projetos Especiais da Smov, disse que não há previsão para iniciar os trabalhos de pavimentação da segunda pista. Um dos pedidos mais urgentes é a abertura da pista já pronta, com a retirada dos obstáculos na Rua da Conceição, permitindo movimentar mais a Voluntários e torná-la menos vulnerável a práticas ilícitas – o que não deve ocorrer por motivos de segurança e porque a via deve servir para estacionamento do maquinário para a obra. Enquanto isso, o dono do estacionamento diz que vem amargando prejuízos a cada mês. “Não estou mais conseguindo pagar as minhas contas. Caiu 90% o movimento aqui”, contabiliza.
A secretária da Associação dos Empreendedores da Região da Estação Rodoviária, Daiane da Silva Ortiz, que também é colaboradora no Senac Floresta, lista uma série de problemas agravam a situação da Voluntários, além da obra inacabada, como lixo, ocupação da rua com carrinhos de reciclagem, prostituição, prédios invadidos, insegurança, acesso prejudicado aos empreendimentos.
“Decidimos em reunião no dia 23 que vamos tentar expandir nosso objetivo para outras pessoas, outros empresários, buscar mais apoio e mobilizar os políticos”, afirmou Daiane, ao lembrar que uma colega de trabalho do Senac já foi assaltada dentro da instituição.
O presidente da associação, diretor do Senac Floresta, Francisco Ximenes, diz que a grande urgência é finalizar a obra de duplicação da rua, mas a associação lutará pelo desenvolvimento como um todo do entorno. “Vários fatores impactam negativamente nos negócios desta região”, enfatiza Ximenes.
O que diz a Prefeitura
Sobre a obra em andamento na Voluntários da Pátria, o engenheiro fiscal da Smov, Antônio Matos, justifica que a demora se dá pela necessidade de desapropriações e liberação das áreas privadas e públicas para o início dos trabalhos da segunda pista. Ele explica que, em alguns terrenos já liberados, está atuando no momento uma equipe de arqueologia, por se tratar de uma zona histórica da cidade.
Matos afirma que torce para que, até o final do ano, parte do trabalho de arqueologia, contratado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), possa estar finalizado. “Somente depois disso, que independe da vontade da prefeitura, é que poderemos avançar na obra, com serviços de rede de água, de esgoto”, explica.
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Se eu não tivesse lido ali que essa foto é de Porto Alegre, eu jamais teria imaginado uma coisa dessas.
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Que lugar tenebroso.
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Uma palavra ilustra a foto que ilustra este post. > NOJO.
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Semana passada as “vitimas” da sociedade apedrejaram o carro de uma amiga que passava por ali.
Ela mora na área e passa por ali pra ir pra casa, disse que umas 20 “vitimas” apareceram correndo e começaram a jogar pedras no carro.
O namorado dela foi parar no hospital por causa da brincadeira.
O carro ficou todo destruído.
No mesmo dia passei por ali (ainda não sabia o que tinha acontecido com ela) depois de levar um casal de amigos pra rodoviária, vergonha total.
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De fato, a região entre o viaduto da Conceição e a Ramiro está jogada às traças, mas não é de hoje. Algum comerciante que tinha uma garagem, uma lancheria ou um prostíbulo deve estar perdendo dinheiro com o atraso das obras, no entanto. O potencial turístico daquela região é enorme. Sobrados históricos (caindo aos pedaços, é verdade) com vista para o Guaíba… no Rio de Janeiro, há sobrados desse tipo em que derrubaram uma ou duas paredes internas e montaram grande casas noturnas. Em Recife há ideias parecidas na parte revitalizada do centro deles.
Será uma lástima implodir a Voluntários sem nenhum critério. A única esperança é que o impasse perdure até uma próxima administração. É preciso um prefeito de esquerda o suficiente para não amarelar, mas liberal o suficiente para levar a sério as parcerias públicos-privadas. Não vejo um candidato sequer com esse perfil hoje (ou é um extremo, ou é outro), mas espero que surja algum nome até lá.
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Se for um prefeito de esquerda o suficiente, é preparar para o aumento na favela que tem ali.
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O que quero dizer é que é necessário um governo que não tenha medo de peitar as empreiteiras e a ATP, players muito importantes para o desenvolvimento da cidade, mas que no momento eles estão monopolizando a gestão, como se fossem donos de Porto Alegre. A cidade é nossa, é sua, é minha, é do cidadão que não doou um centavo para campanha alguma.
Um governo de direita, por definição de direita, tende a reforçar essa “parceria”, pois tem uma visão de que cultura é algo supérfluo, dado o seu caráter intangível. É difícil mensurar o valor da cultura em termos monetários, exceto se for um projeto de blockbuster brasileiro, bem enlatadão, estilo Globo Filmes, e que encha as salas de cinema. O mesmo vale para direitos humanos. Renomear ruas, desenvolver projetos de conscientização contra a homofobia, o racismo, etc, tudo isso não parece ter muito sentido no discurso de direita.
A esquerda, por outro lado, supervaloriza o intangível. Valoriza tanto que sustenta entidades sem fins lucrativos voltadas para a produção de discurso, de movimentos sociais, de intangível. Acho que esse aspecto da esquerda pode ser tão nocivo quanto o anti-culturalismo da direita. Se pelo lado da direita tudo é monetizado, destruindo o vínculo emocional do cidadão com a cidade, de outro, pouco ou nada se faz para construir espaços coletivos qualificados só com produção de discurso. Conscientizar a população de seus direitos é importante, mas é preciso cuidar para que esses projetos não monopolizem a administração pública de esquerda.
É só lembrar o que era o centro nos tempos do PT. A praça XV era um camelódromo. A Praça da Alfândega era uma floresta inóspita. Muitos tinham medo de atravessá-la, preferindo as ruas adjacentes, como a Caldas Jr. ou a Gal. Câmara. Hoje é um pouco menos pior, mas ainda é muito pouco. Quando terminam de reformar uma praça, outras dez já estão em um estado deplorável. Os dois extremos do espectro político têm suas desvantagens: um lado tenta cooptar líderes comunitários e líderes de minorias; o outro negocia com a cúpula da administração para fazer valer seus interesses particulares.
Não sou nem a favor da cidade de cubos, nem da cidade-discurso. Ambos geram produtos interessantes, mas como ignoram a complexidade estrutural de uma cidade, com suas minorias, maiorias, pobres, classe média (os ricos se viram em qualquer lugar), cultura, comércio, indústria, espaços públicos, natureza, agricultura, saneamento, mobilidade, direitos humanos. Tudo isso precisa dialogar de forma que a administração maximize os ganhos de todos esses componentes. Para conseguir fazer isso, duas coisas são necessárias: não alugar a gestão para o interesse privado e também não tentar construir uma estrutura de tentáculos nas comunidades para se eternizar no poder. O primeiro elemento é a prática fundamental da direita; o segundo, da esquerda.
O governo atual pende para a direita. É a favor da caixotização-carrocêntrica da cidade, mas dialoga um pouquinho com alguns estratos populares, mas está muito desequilibrado. Atende com presteza aos principais financiadores, oferece algumas migalhas às lideranças comunitárias, mas o grosso da população não vê mudanças estruturais: mais ciclovias, mais mobilidade urbana através de hidrovias e outros modais, como aeromóvel, metrô; mais espaços públicos qualificados; preservação do mobiliário urbano e do patrimônio histórico. Para piorar, não produz intangível: para renomear uma rua que foi instituída como auto-homenagem da ditadura, já se sentiu pressionado a não acolher o projeto.
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Está uma vergonha mesmo, fui da rodoviária até o Senac Floresta caminhando, e a região está um caus, absurdo o poder publico tratar uma regidão assim. Deveriam ser processados. Aquela região sendo revitalizada, poderia ser muito bem aproveitada. Quase não existem árvores.
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Parabéns empresários! Em Porto Alegre existe todo um abuso, uma inversão, e isto afeta muito esta cidade tornando-a precária, desagradável e até mesmo vergonhosa. Mas com reações justas como esta esperamos que um dia possa se livrar destes entraves e voltar a brilhar.
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Trabalho de arqueologia? O que encontraram ali? Ruinas celtas? E essas desapropriações e liberação das áreas privadas,não poderiam ter sido feitas antes de começarem as obras?
Por que toda obra que começa na cidade não tem nunca previsão de terminar? Os tapumes e as obras ao redor do Chalé, por exemplo, já viraram parte do local.
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O quarto distrito é bem importante na formação da cidade, talvez tenha algo interessante para pesquisar.
Mas as desapropriações realmente, só mostram que a data de início da obra foi feita por interesses políticos e não seguindo um planejamento.
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A prefeitura não se planeja para criar um estado de equilíbrio entre progresso e preservação do patrimônio histórico. Muitos sobrados-cortiços da Voluntários deveriam ser desapropriados pela Prefeitura e fazer PPPs para construir estabelecimentos comerciais. Nosso centro histórico tem potencial para ser melhor que o de Recife, onde há sobrados de 300 anos, mas caindo aos pedaços. A maior parte do centro histórico de Recife é um grande camelódromo, embora seja uma visita obrigatória para quem gosta de história.
A Voluntários é o verdadeiro centro histórico. Começa na Praça XV e segue até as imediações da Ramiro. Tudo isso poderia virar comércio, hotéis, casas noturnas. No entanto, isso não faz a alegria das empreiteiras, que está louca para fazer duplicações e construir cópias de caixotes com a porcaria do Bourbon Wallig, um caixotão-labirinto sem graça nenhuma. Nem cafeteria com tomada para espetar o carregador do laptop se encontra. Ou seja, é um lugar para entrar, comprar e cair fora.
É esse tipo de cidade que o governo atual está arquitetando: uma cidade onde cada um tenha o seu apertamento de 55m quadrados, uma tevê de led de 60 polegadas, pay-per-view, cerveja barata na geladeira e móveis planejados. Almoço em buffet de praça de alimentação nos fins de semana, academia do condomínio com equipamento barato, vizinhos conversando sobre banalidades, porém sem estabelecer vínculos. É a cidade-morta, a cidade dormitório. Estão transformando Porto Alegre em Grande Porto Alegre.
Nada contra as cidades dormitórios, mas Porto Alegre é a válvula de escape para quem busca um pouco de cultura e lazer na região metropolitana. Prefiro que mantenham esse campo de guerra que é aquela parte da Voluntários enquanto não encontrarem uma saída que privilegie a história e a cultura da cidade. Vão fazer caixote na BR 290, na 116, na 448, mas não aqui.
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Os comentários do Semiografo estão suprindo a carência de comentários qualificados que tínhamos quando o Rogério Maestri ainda postava aqui.
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verdade.
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“É esse tipo de cidade que o governo atual está arquitetando: uma cidade onde cada um tenha o seu apertamento de 55m quadrados, uma tevê de led de 60 polegadas, pay-per-view, cerveja barata na geladeira e móveis planejados. Almoço em buffet de praça de alimentação nos fins de semana, academia do condomínio com equipamento barato, vizinhos conversando sobre banalidades, porém sem estabelecer vínculos.”
Vc tem noção de que esse padrão de vida é superior ao de não menos de 70% da população brasileira?
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Ricardo, eu concordo em uma parte e discordo em outra. Eu tentei traçar um perfil do público-alvo das “políticas públicas” municipais. Esqueça o pay-per-view. Pense então numa casa financiada pelo MCMV na extrema zona sul. Mantenha a TV de led financiada e a geladeira abarrotada de cerveja.
Enfim, não importa. O aspecto que eu quis ressaltar é a falta de espaços públicos e de mobilidade urbana qualificados. O comportamento que a administração municipal estimula com o carrocentrismo e a cidade-em-cubos é o individualismo. Passa-se a preferir o espaço privado: o que importa é que as vias sejam mais amplas para que os carros possam fazer o trajeto casa-trabalho, casa-shopping, trabalho-shopping com mais agilidade.
Pense numa família que se situa no baseline da “Nova Classe C”, ou seja, com uma renda de uns 1500-2000 reais. Essa família segue as mesmas práticas. Pode não ter todos os elementos, mas se mantém essa dinâmica de uma vida que se resume ao trajeto trabalho-casa, casa-mercado, etc.
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Excelente comentário. Apesar de que na Grande Poa pelo menos ainda se tem muito bairro que apesar de ser “dormitório” os vizinhos se conhecem e possuem vínculos fortes. Ao contrário de muito bairro por aí (especialmente em Poa) onde ninguém se conhece, sequer se cumprimentam.
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É verdade, Alex. Tenho muitos parentes na Grande Porto Alegre e alguns bairros tem aquele jeito de cidade do interior. Em Porto Alegre, de fato, isso não ocorre. Os edifícios tem essa característica de afastar as pessoas. Daí a importância de espaços públicos qualificados.
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