A (não) implantação do BRT em Porto Alegre

BRT Protásio Alves

Talvez quem não seja de Porto Alegre não saiba, mas entre as obras de mobilidade para a Copa do Mundo de 2014 estava a implantação do sistema de Bus Rapid Transit (BRT). Tal sistema é ampla e satisfatoriamente utilizado em cidades como Curtiba, Bogotá e Medellín, baseando sua estrutura em grandes ônibus, em estações de embarque e de desembarque, em vias segregadas e na possibilidade de ultrapassagem dentro dessas vias.

Acontece que Porto Alegre “optou” pelo pior sistema de transporte coletivo (e aqui coloco optou entre aspas, pois, de fato, nada foi feito e o sistema BRT está longe de ser verdadeiramente implantado). É poluente, barulhento, além de ocupar um espaço gigantesco que a cidade simplesmente não possui. O tram (ou elétrico), o chamado Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), amplamente utilizado na Europa, seria, sem dúvidas, um sistema perfeito para a característica viária de Porto Alegre: os corredores viários já existem, sendo necessário, tão somente, a montagem da rede elétrica. Mescla a eficiência do Metrô com a facilidade de execução, por exemplo, do BRT, além de ser muito mais confortável e bonito!

Quanto à funcionalidade, qualquer um dos dois que fosse implantado, nunca seria realmente eficiente se não fosse complementado por uma rede integrada com os outros meios de transporte. Além disso, Porto Alegre é uma metrópole, o fluxo diário na cidade muito se dá pelos moradores das cidades satélites que trabalham na capital. Portanto, nenhum sistema de transportes de massa deveria ser pensando exclusivamente para a cidade, mas sim para toda a Região Metropolitana.

P.S.: Hoje, no dia 6 de janeiro de 2015, as obras para implantação do sistema BRT em Porto Alegre, iniciadas em 2012, que deveriam estar prontas para a Copa do Mundo, continuam se arrastando. Para não dizer que nada foi feito, cobriram boa parte das pistas a serem utilizadas com concreto (que já está rachando, diga-se de passagem). Enquanto isso, os cidadãos porto-alegrenses sofrem com atrasos, com ônibus lotados e sem ar-condicionado, com paradas precárias e sem iluminação. Em suma, continuamos sofrendo com um sistema de transporte coletivo ineficiente.

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11 respostas

  1. TRAM não resolve o mesmo tipo de deslocamento que o BRT ou metrô, simples assim.

  2. Esses dias estava pensando exatamente isto: o ideal p/Porto alegre, seria o Tram como na Europa. Um meio de transporte silencioso, eficiente, confortável e prático que ocupa pouco espaço e em alguns casos, pode circular num trilho único nos 2 sentidos! Basta 1 veículo c/2 frentes. E o aeromóvel ao largo da Ipiranga, aproveitando o vão do arroio dilúvio! Muito mais barato que fazer metrô, etc!!! E no centro histórico, veículos elétricos como os da empresa La Diabline em Aix-en-Provence! Veículos leves que não poluem e de quebra, silenciosos! Funcionam como a nossa lotação. É possível descer em qquer ponto, avisando o motorista. Um trenzinho elétrico p/o turismo e alguns fiacres p/aumentar o leque de opções! Esse é meu sonho p/Porto Alegre!
    http://redundanciasdaactualidade.blogspot.com.br/2012/08/aprender-com-o-exemplo-de-aix-en.html

  3. Felipe X, vou responder aqui para o texto não ficar “apertado” no canto.

    O que quero dizer é o seguinte: A relação entre os usos do solo e a demanda de transporte é muito complexa. Geralmente o transporte vem “depois” dos usos do solo (lojas, casas, escritórios, ect.) e corredores muito congestionados, muitos usos do solo, vão sempre precisar melhoramento, sem dúvida.

    Porém, ao melhorar os “extremos” da rede, ou seja integração nos terminais de bairro, melhores acessos, melhores veículos e estacionamento para bicicletas nesses terminais, ao invés de só querer melhorar o “centro” da rede (onde claramente é mais congestionada) os usos do solo podem acabar saindo do centro da cidade e indo para perto desses terminais com maior acessibildiade. Logo isso iria diminuir a demanda desses corredores, diminuindo o comprimento das viagens tb e possibiliando o uso de bicicleta e a pé.

    Mas isso é uma relação causa-efeito de longo prazo, por isso que eu escrevo que “a longo prazo pode diminuir a necessidade de BRt ou VLT no centro”.

    Isso se vê muito em Paris, Londres ou mesmo Lisboa: cidades poli-cêntricas, que no fundo parece que toda a cidade é centro. Há claramente fortes fluxos periferia-centro mas há tb fluxos contrários, viagens pequenas dentro do grande centro. não é à toa que nessas ciaddes vc não tem volumes absurdos de passageiros e sim volumes médios espalhados por toda a cidade. Isso se consegue com zonas de uso misto (uso residencial + comercial no mesmo prédio) e densidades populacionais médias.

    As cidades brasileiras e americanas, ao contrário, não são muito poli-cêntricas, tá tudo no velho centrão da cidade, a diferença é que nos EUA e Canadá eles têm uma infraestrutura absurda para o carro particular com autoestradas às vezes 4×4 ou 5×5 ligando periferia-centro. E muito estacionamento gratuito no centro.

    No Brasil não tivemos dinheiro pra isso, mas não deixamos de ter essa demanda periferia-centro.

  4. VLT, para o Brasil, é uma furada.

    Não levem pro lado pessoal, mas eu sempre fico com um pé atrás quando alguém defende VLT para as cidades brasileiras. Normalmente quem defende esse sistema é político que só anda de carro e que viajou pra Paris e andou num lá e achou “de 1º Mundo”!

    Neste texto falo um pouco da ilusão dos VLTs e do seu fracasso nos EUA: http://caosplanejado.com/transporte-publico-para-quem/

    É um contracenso no Brasil defender VLTs bilionários (sim. são bilionários, basta ver Cuiabá) e querer, ao mesmo tempo, melhorias de rede para quem vem da periferia, como é defendido no texto. Simplesmente não há dinheiro.

    Vejo muita confusão entre os conceitos BRT e VLT. Regra geral a população prefere o VLT. É óbivo: mais “bonitinho”, limpo, elétrico e….caro, muito caro! Tanto os custos de implantação quanto os operacionais ultrapassam largamente os do BRT e ônibus comuns e entregam só um pouquinho mais de capacidade.

    O Brasil precisa caminhar para sistemas como o de Guangzhou na China ou mesmo Curitiba, onde o corredor BRT é aberto e todos os ônibus podem usá-lo para acelerar os tempos de viagem, coisa que nunca se consegue num sistema pouco flexível como o VLT.
    http://www.chinabrt.org/en/cities/guangzhou.aspx
    http://en.wikipedia.org/wiki/Guangzhou_Bus_Rapid_Transit

    Pra finalizar, concordo com o autor sobre a questão dos bondes. Foi realmente um erro retirá-los: http://caosplanejado.com/ha-transportes-imunes-a-destruicao-criativa/

    • VLT é caro demais e vamos implantar metrôs em diversas cidades? Desculpa, não entendi. Alguns dados interessantes:

      • Cuiabá vai gastar 1,4 bi em 22km de VLT. São 63 milhões/km.
      • POA vai gastar 4,8 bi em 14km de metrô, sendo que um trecho na prática é um “VLT” (vai pela superfície). São 350 milhões/km.
      • O nosso “BRT” da Protásio (só troca de piso, sem estações nem nada) tem 7km e vai custar 77,9 milhões, aproximadamente 11 milhões/km.

      E não sei por que descartar a vontade das pessoas de querer aqui o que viu lá fora. De fato o VLT é silencioso e não polui o ar. Isso me soa a aquela mania de achar que bonito e bem feito os outros devem fazer para eu ver nas féria. Aqui é onde eu trabalho e aqui tenho que sofrer.

      • Felipe X, obrigado pela resposta.

        Não podes comparar metrô com VLT e BRT. Metrô entrega muito mais capacidade, é um sistema que, como os trens da CPTM em SP, consegue gerir até 60mil pax/hora/sentido, mais que o dobro de um BRT ou VLT mediano. Por isso que o metrô/trem suburbano precisa ser totalmente segregado: por via aérea, subterrânea ou com cercas que o separam dos demais fluxos de tráfego. E isso faz os custos dispararem.

        Veja esta figura: http://transportacao.files.wordpress.com/2013/12/41.png

        Quero deixar claro que não sou contra o VLT e sim , sou contra o mau uso dos dinheiros públicos. Há muito BRT por aí que é uma m*rda tb. E tb não acho que nós, brasileiros, devemos “sofrer”.

        Mas o VLT é um sistema muito caro e é um pouco “egoísta” defender 20 ou 30km de VLT ou BRT no centro de uma cidade quando esse dinheiro poderia ser usado para melhorar a rede como um todo e, quem sabe a longo prazo, diminuiria a necessidade de um BRT ou VLT.

        Eu sei que é legal ter um VLT na nossa cidade, dá um ar moderno. E BRT no fundo é ônibus e todo mundo tá farto de ônibus. Mas devemos ter cautela. Infraestruturas fixas como VLT ou BRT, quando instaladas, não há volta a dar, se forem mal projetadas, a m*rda tá feita e não tem como voltar atrás!

        Abraço!

      • Não sei se entendi, por exemplo quando dizes “diminuiria a necessidade de um BRT ou VLT queres dizer investimento em infra para automóveis particulares?

        Por que dinheiro para uma rede de metrô simplesmente POA não terá.

    • O pior dessa história toda é que não temos nem um BRT nem um VLT. E nenhuma autoridade parece ter vontade de resolver a questão. Então #comofaz?

  5. Ressalte-se que a concretagem de muitos desses corredores não chegou sequer à metade da extensão de certas avenidas. Na Protásio, por exemplo, onde circulo diariamente, um enorme trecho, mais ou menos a partir do barranco até lá em baixo, já pelo Bairro Rio Branco, não foi ainda trabalhado. E o pior é que na parte mais acima da Protásio, após a rótula da Carlos Gomes, estão REFAZENDO todo o trabalho. É muita “eficiência”.

  6. Concordo 1000% com você…..bela visão do todo….pessoas como você e que deveriam ser escutadas antes de fazerem estes projetos pífios ineficazes, e nao ficarem copiando estes entulhos de países de terceiro mundo…..

  7. E o blá blá blá do transporte público da capital continua o mesmo.

    A solução, nem agora e nem depois irão consertar a porcaria de terem extinto os velhos e bons bondes que ainda rodam no Canadá, EUA, Portugal, e em quase toda Europa.

    A capital gaúcha virou a negação dos transportes públicos, fora a outra porcaria que fizeram de extinguir as balsas agora são chamados ferryboats que economizariam o custo de combustível entre Ipanema em Porto Alegre e Guaíba.

    O que farão nos próximos cinquenta?

    Pelo andar da carruagem, como diziam os antigos, para a alegria dos proprietários de concessões de ônibus, com certeza nada!

    Em vez de evoluir, a cidade involuiu nestes últimos cinquenta anos.

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