Lucro por passageiro de ônibus é de R$ 0,20

Despesas com pessoal são o que mais pesa na tarifa de R$3,25 que entra em vigor no domingo

Cíntia Marchi e Fernanda Pugliero

Nova tarifa entra em vigor neste domingo | Foto: Tarsila Pereira

Nova tarifa entra em vigor neste domingo | Foto: Tarsila Pereira

A cada R$ 3,25, desembolsados pelos passageiros de ônibus de Porto Alegre a partir deste domingo, R$ 0,20 correspondem ao lucro bruto das 13 empresas operadoras do sistema, incluindo a Carris, única pública. Por mês, são transportados 17 milhões de usuários pagantes, de onde provêm os ganhos de R$ 3,4 milhões. O coordenador de Regulação de Transportes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Márcio Saueressig, diz que o lucro é variável e depende dos custos de cada empresa. “Do valor bruto arrecadado nas roletas descontam-se o Imposto de Renda e as contribuições sociais”, explica.

Além da garantia de lucro aos empresários no final do mês, que sai do bolso do passageiro, o que mais pesa na composição da tarifa são as despesas com pessoal. O item representa 47% do custo tarifário. Em 2015, os rodoviários tiveram reajuste salarial de 8%, além de 10,53% no vale-refeição e 11,67% no plano de saúde. Os novos valores vigoram desde o dia 1º de fevereiro — data-base da categoria. O acordo também concedeu vale-refeição para o período de férias (um a cada dois dias, uma novidade no contra-cheque dos trabalhadores).

Com o aumento dos salários, os rodoviários de Porto Alegre têm a mais alta remuneração entre as capitais do país. Desde a criação do Plano Real, em 1994, a categoria obteve um aumento real médio anual de 1,33% no piso salarial. Outro item que impacta o crescimento da tarifa em 23% são as despesas variáveis (combustíveis, óleos lubrificantes, pneus e recapagens). Para fazer esse levantamento, a equipe técnica da EPTC usou as notas fiscais das compras feitas pelas empresas operadoras. No preço do litro do óleo diesel, houve uma variação de 12,07% em relação ao valor utilizado no último cálculo tarifário. O custo dos pneus apresentou queda de 7% e as recapagens sofreram incremento médio de 8%. Um decreto de 2015 reduziu a vida útil de pneus e recapagens de 228 mil quilômetros para 168 mil quilômetros.

As despesas com a frota pesam 20%. É nesse item que está o lucro dos empresários, que recebem remuneração pela frota, máquinas, equipamentos e instalações. Manutenção e depreciação figuram nos gastos. Como em 2014 não houve renovação da frota, o item não influenciou o cálculo tarifário. As despesas administrativas representam 5% e a carga tributária pesa outros 5%.

O reajuste acumulado pela tarifa nos últimos 20 anos foi 95,89% superior à inflação. Enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor cresceu 348,40% de agosto de 1994 a fevereiro de 2015, a tarifa do transporte público subiu 778,38%. Em 1994, o valor pago por 26 milhões de usuários era de R$ 0,37. Já o salário dos motoristas foi reajustado em 395,15%, segundo dados do Dieese.

Quantidade de usuários despenca

Se a quantidade de usuários do transporte público de Porto Alegre não tivesse despencado drasticamente nos últimos 20 anos e o número de isentos tivesse se mantido estável, o preço da passagem não precisaria subir mais do que a inflação. Desde 1994, o número de usuários pagantes está em declínio. De 26,4 milhões de passageiros por mês, os ônibus passaram a transportar pouco mais de 17 milhões de pessoas em 2014 — queda de 35%.

A quantidade de quilômetros rodados pelos coletivos também aumentou: de 8,5 milhões para 9,5 milhões km/mês. Se o número de usuários pagantes tivesse se mantido estável desde 1994, o Índice de Passageiros Transportados por Quilômetro (IPK) resultaria em 2,77. Com a perda de usuários, a divisão totaliza 1,80. Há 20 anos, o IPK era 3,10, e a passagem custava R$ 0,37.

Apenas no último ano, os ônibus da Capital perderam 30 mil passageiros/dia. Estima-se que, hoje, cerca 1 milhão de pessoas ainda utiliza o transporte coletivo, mas um terço é isento. A frota de carros cresceu 85% em 20 anos e a de motos, 441%.

Índice de isentos passará para 35%

Dos passageiros transportados por mês pelos ônibus de Porto Alegre, apenas 17 milhões pagam as passagens. Em 2015, o número de isentos pode ser ainda maior, segundo o gerente executivo da ATP, Luiz Mário Magalhães de Sá. Ele lembra que está sendo regulamentada a lei que garante isenção aos policiais militares do pagamento, mesmo sem o uso da farda. Em vez dos 32% de isentos apontados pelo relatório da EPTC, o índice saltará para 35%.

“Não temos nenhuma restrição ou crítica à concessão de isenções. Mas, na estrutura atual, é o passageiro que paga esta conta. Entendemos que as gratuidades deveriam ser custeadas pelo governo, pelos impostos pagos pela sociedade, como acontece com o Bolsa Família, por exemplo”, sugere. A prefeitura de Porto Alegre não subsidia as gratuidades, diferentemente do que fazem outras capitais como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.

Entre os isentos, 36,73% são usuários da segunda viagem do TRI (isenta em 30 minutos), 36,29% são idosos acima dos 60 anos e 13%, estudantes. Ainda sobre a planilha da EPTC, o gerente da ATP discorda de indicadores de despesa com pessoal. Segundo ele, desprezaram o pagamento de quinquênio.

Correio do Povo



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3 respostas

  1. o que fez cair o numero de passageiros também foi a péssima qualidade dos ônibus onde a empresa não investiu visando lucro a longo prazo…

  2. A despensa com o pessoal é alta porque o itinerário dos ônibus é o mais burro possível, fazendo com que existam trechos onde circulam superlotados e outros com o ônibus vazio fazendo ziguezague. O resultado é que tanto o motorista quanto o cobrador precisam trabalhar muito tempo para um pequeno número médio de passageiros.

  3. É um valor justo no lucro.

    Acho que para ter uma passagem com um preço aceitável, só ajustando as linhas, criando terminais, evitando assim que ônibus percorram grandes quilometros por uma passagem só, digamos que ter mais eficiência nessa brincadeira, e pra isso acontecer, apenas com terminais mesmo.
    E claro, tirando os cobradores.

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