A falta de previsão do controle de enchentes em Porto Alegre, por Rogério Maestri

Foto: Luciano Lanes / PMPA

Foto: Luciano Lanes / PMPA

O que está ocorrendo na cidade de Porto Alegre é uma verdadeira piada pronta. As pessoas ficam observando o nível do Guaíba dia a dia como se nos dias atuais somente isto fosse à única coisa possível de se fazer.

Nos dias atuais, quando se tem uma previsão confiável do volume de chuva nos próximos três dias, como se pode também ter uma previsão confiável da intensidade e direção do vento médio por até cinco dias, como existem modelos chuva-descarga (modelos matemáticos em que entrando com a chuva se sai com a descarga dos rios) e sabendo que o tempo de detenção da bacia do Guaíba é da ordem de semanas seria possível com antecipação de no mínimo três dias se prever o nível que ocorrerá na cidade utilizando uma série de softwares livres (e testados) que existem, por exemplo, no Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. (MGP-IPH 2015 + IPH-A).

Também nos dias atuais é fácil prever a intensidade do vento médio por mais de uma semana, vide

http://www.yr.no/kart/#lat=- 30.03306&lon=-51.23&zoom=7& laga=vind&baseid= PunktUtlandet%3A3452925&proj= 900913

Se olharmos hoje (11/10/15) pode se prever a partir de segunda ventos na Lagoa dos Patos entre 10,8 até 17,2 m/s na direção sul-norte mais precisamente na direção do eixo maior da Lagoa dos Patos, se este vento fosse simulado num modelo tipo IPH A, se saberia exatamente qual o aumento do nível no Rio Guaíba.

Com toda a tecnologia existente e consagrada se poderia disponibilizar facilmente a toda a população um modelo matemático que qualquer um poderia prever com confiabilidade alta como estará o nível a frente de sua casa com no mínimo dois ou três dias de avanço.

Perdemos totalmente a memória dos danos que implicam uma cheia no Rio (ou Lago) Guaíba, pois a última grande cheia ocorreu em 1967 quando o nível do Guaíba atingiu a cota 3,13 m.

Porém se fizermos uma análise histórica mais detalhada veremos que ocorreram cheias no Guaíba com cotas superiores a 3,00 m nos anos 1873 (3,50m – Setembro e Outubro), 1926 (3,12 m – Setembro), 1928 (3,20 m – Outubro), 1936 (3,22 m – Setembro), 1941 (4,75 m – Abril e Maio) e 1967 (3,13 m – Setembro). Para se ver o nível de perda de memória que há na nossa cidade que a própria Prefeitura no Quadro de Cheias que apresenta esquece a cheia de 1926 de 3,12 m!

É incrível que tenhamos ainda uma defesa civil que simplesmente espera a água subir para fazer algo, tem-se todo o ferramental para se saber isto com antecedência.

Rogério Maestri – Engenheiro, Mestre em Recursos Hídricos



Categorias:Artigos, Enchente, Lago Guaíba

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5 respostas

  1. Uma pergunta: as 4 represas no maior rio formador do Guaíba, o Jacuí, não podem ajudar a regular a vazão e liberar menos água para evitar essa inundação?

    Alguém sabe alguma coisa ?

    • Gilberto, as barragens no Jacuí são operadas para geração de energia elétrica, então são mantidas o mais alto possível. Esvaziar para amortecer uma cheia teria um alto custo que, certamente, seria repassado aos consumidores. E no mais, o efeito no amortecimento da cheia não seria muito significativo pois a área que drena para a maior das barragens é de uns 10% da área da bacia do Guaíba, ou seja, em um calculo expedito, se ela reservasse toda a vazão isso corresponderia a 10% de redução da vazão que em termos de nível no Guaíba poderia ser ao pouco significativo. Amortecer cheias com reservatórios é viável apenas em pequenas bacias.

      • Mas o que falei é que ouvi falar que elas poderiam reter mais água, e não esvaziar mais rápido. Você entendeu mal o que falei…

      • Gilberto,

        Para um reservatório amortecer uma cheia ele deve estar com o “volume de espera” (volume propositalmente deixado vazio) disponível, o que não ocorre, em geral, em reservatórios para geração de energia elétrica. Se ele está cheio e vem uma cheia, o efeito de amortecimento dele é pouco significativo.

      • Caro Colega Fernando Dornelles.
        .
        Desculpe-me mas vou ter que contrariar o que estás escrevendo, todo o reservatório com vertedores estando cheio ou não amortecem a onda de cheia.
        Causa espécie que um brilhante professor de hidrologia tenha esquecido deste pressuposto básico, confundindo o grau de amortecimento com a existência ou não deste amortecimento.
        Poderia colocar aqui a demonstração analítica deste fenômeno, pois estando um reservatório cheio, salvo que ele atinja a cota de coroamento e termine rompendo, ele ainda provocará um pequeno amortecimento na onda de cheia, pois ele passará da cota máxima indo na direção do desconhecido em termos de possibilidade de romper, porém antes de ele atingir o nível máximo maximorum e ultrapassar o free-board da estrutura haverá este amortecimento.
        Quanto ao uso dos reservatórios da CEEE para amortecimento de cheias, há na Biblioteca do IPH a dissertação do Falecido Prof. Bruno Resende, que trata exatamente deste assunto, ele simulou estas condições, chegou a um amortecimento pequeno, porém chegou a um resultado.
        Os mais jovens deveriam no mínimo saber do passado da Instituição antes de falar sem nenhum aporte real.

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