Por Marina Gomes
Com taxa de alfabetização de 96%, porto, dois parques tecnológicos, boa rede rodoviária e 10 incubadoras de empresas, Porto Alegre, definitivamente, está muito bem posicionada quando se trata de inovação.
Foi eleita entre as 10 cidades mais inteligentes do Brasil pelo Fórum Connected Smart Cities, e está inserida no Open & Agile Smart Cities, projeto da União Europeia e do Banco Mundial para melhorar determinados municípios, aliando crescimento e bem-estar por meio da inovação. Está também em segundo lugar no ranking das capitais mais inovadoras, segundo mapeamento feito pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), a pedido da revista Inovação – Revista Eletrônica de P,D&I.
Entender o que ajuda a capital gaúcha a ter um ambiente favorável para o crescimento de empreendedores requer olhar para alguns índices. Um ranking feito pela organização Endeavour ressalta dois deles. Um é a facilidade de acesso a recursos financeiros; o outro é a qualidade de recursos humanos. Na listagem, só ficou atrás de São Paulo em acesso a empréstimos e financiamentos, com o maior capital poupado per capita entre as cidades pesquisadas (R$ 35 mil).
A cidade com 1,5 milhão de habitantes (4,2 milhões se contar a região metropolitana), tem localização geográfica privilegiada em relação ao Mercosul e mão de obra bastante qualificada, fruto de uma rede solidificada de boas escolas, que garantem alto percentual de pessoas com pós-graduação. São 40 instituições de ensino superior e sete institutos nacionais de ciência e tecnologia. Só a região metropolitana tem quatro grandes universidades, somando mais de 130 mil estudantes.
Em artigo publicado na revista Educação e Realidade, as autoras Flávia Góes e Lucília Machado destacam que a ênfase na educação já vem ocorrendo há bastante tempo. “Porto Alegre (RS), no início dos anos 2000, se tornou referência como uma das capitais brasileiras pioneiras a trabalhar com política educativa orientada pela noção de cidade educadora”.
“É uma cidade bastante qualificada em termos de recursos humanos, com grandes universidades e mais de 100 mil alunos de diferentes áreas de conhecimento, com diversidade de formação. Além disso, possui diversas incubadoras, quatro aceleradoras, investidores-anjo, um ecossistema propício para inovação”, destaca Rafael Prikladnicki, diretor do parque científico e tecnológico Tecnopuc, que reúne 126 organizações, divididas entre Porto Alegre e a vizinha Viamão.
O parque é um acelerador de pesquisa e inovação, reunindo conhecimento da academia (e seus ótimos quadros), instituições privadas e governo. O foco é direcionado a quatro áreas: tecnologia da informação e comunicação; energia e meio ambiente; ciências da vida e indústria criativa. Para Prikladnicki, alguns fatores responsáveis pelo bom desempenho estão ligados à administração municipal, facilitados pelo gabinete de inovação e tecnologia (Inova Poa).
Maria Fernanda Bermúdez, secretária municipal de Inovação e Tecnologia, confirma que o cenário para o empreendedorismo é positivo. “Existe vontade por parte da administração pública, em apoiar esse tipo de investimento. Recentemente, foi aprovado um projeto de lei que garante benefícios fiscais para empresas de caráter inovador que desejam se instalar em determinada área da cidade”, diz. O projeto nasceu no escopo da Lei Municipal de Inovação e Tecnologia, que tem tentado facilitar a vida de empresários.
Além do um grande número de instituições de ensino superior, parques e incubadoras de reconhecimento internacional, Bermúdez destaca também o Centro Integrado de Comando da Capital (monitoramento por 840 câmeras), a abertura de dados, a cobertura da rede de fibra ótica, a Lei Municipal de Inovação e o incentivo à economia criativa. Porto Alegre, vale lembrar, foi apontada pela consultoria americana Mckinsey entre as localidades de porte médio de países em desenvolvimento que deverão ajudar a alavancar o avanço do PIB mundial e encorpar o crescimento global até 2025.
“São reconhecimentos importantes que dão visibilidade nacional e internacional, mas que também trazem um desafio. É preciso avançar. O ranking do Fórum Connected Smart Cities, por exemplo, analisou mais de 70 indicadores em 10 diferentes áreas, além da tecnologia, e a média de pontos conquistados pelas cidades brasileiras ainda não é a ideal em relação aos padrões internacionais. Essa realidade apresenta-se como uma grande oportunidade de melhoria, uma meta a ser trabalhada”, pondera Maria Fernanda.
Entraves burocráticos
Apesar das inúmeras facilidades, a rotina de quem quer empreender na cidade tem percalços. Para se ter uma ideia, junto com Brasília e Curitiba, Porto Alegre está entre as últimas colocadas no quesito “cultura empreendedora” do ranking da Endeavour. Isso significa que a população poderia, de fato, ser mais arrojada.
Outra dificuldade é o ambiente regulatório: tempo de trâmite de processos, impostos e complexidade tributária. São necessários, em média, 260 dias para abrir uma empresa – um dos mais demorados entre as cidades empreendedoras. A administração tem tomado medidas para melhorar, como a Lei Municipal de Inovação, incentivos fiscais (ITBI e IPTU), fundo municipal de inovação e comitê municipal de economia criativa, entre outros. O projeto Simplificar, por exemplo, foi lançado para reduzir esse tempo para abertura de empresas.
“Os principais entraves são a tributação, as complicações tributárias e custos administrativos, a contratação de pessoas, que tem um alto custo, e os altos valores dos bens necessários para operar uma empresa”, relata Arthur de Franceschi, sócio-diretor da Goga, uma empresa de holografia, localizada em Porto Alegre. Mas as dificuldades não desanimam o empreendedor. “Estamos sempre buscando inventar algo. Temos hoje dois produtos patenteados no mundo, o Holotab e o Holopaper, cases holográficos para tablets e smartphones. Eles possuem custo muito baixo e podem ser utilizados por qualquer tablet/smartphone, tornando-os produtos globais. O know how de nossa equipe em hardware e software permite a criação de experiências inéditas para os usuários”, conta.
A primeira empresa a fabricar impressora 3D totalmente nacional, a Cliever, também relata que o caminho não é fácil na capital gaúcha. “Estamos vivendo um momento de transição. Infelizmente ainda é muito difícil empreender no Sul. Tarefas relativamente simples, como obter um CNPJ, alvará, vistorias etc, são martírios. No nosso caso, levou quase três meses, em 2012. De qualquer forma, existe um ecossistema empreendedor bem forte na cidade, vários polos, eventos, grupos em prol do empreendedorismo, como o Tecnopuc, que foi fundamental no processo de desenvolvimento da Cliever”, destaca o sócio-diretor Rodrigo Krug.
“Porto Alegre é uma cidade relativamente barata, se compararmos a grandes centros do Brasil. O custo fixo de um negócio acaba sendo bem vantajoso. Há, ainda, alta densidade de boas universidades, sendo possível contratar excelentes profissionais para o desenvolvimento do negócio. A parte ruim é a distância dos grandes centros do Brasil. Nossa empresa perde muitas oportunidades por não ter uma operação física em São Paulo. Os entraves burocráticos e o despreparo dos órgãos públicos faz com que empreender, não só em Porto Alegre, mas em todo estado, seja uma tarefa bastante desafiadora”, completa Krug.
No caminho da inovação
Se depender da vontade pública e dos empreendedores, Porto Alegre continuará se destacando em relação à inovação. “A Cliever atua num mercado extremamente competitivo, diariamente somos comparados e concorremos com empresas bilionárias, e procuramos nos destacar seguindo caminhos não tão óbvios, verticalizando nichos de mercado de alto valor e desenvolvendo uma solução de extrema qualidade”, aponta Krug.
No que se refere ao governo, um dos esforços se concentra na recuperação do 4º distrito, com o objetivo de que se torne um polo de inovação. A região era antigamente pujante setor industrial e comercial, depois abandonada, e a ideia é se inspirar na bem sucedida revitalização da zona portuária de Barcelona. Mas, em Porto Alegre, com foco na inovação.
Em março foi assinado um decreto que estabelece regras para a concessão de benefícios fiscais de ISS, IPTU e ITBI para serviços de pesquisa e desenvolvimento na área de tecnologia em saúde e para pessoas jurídicas de base tecnológica, inovadoras e de economia criativa nos bairros do 4º distrito. As empresas na área de tecnologia em saúde serão beneficiadas com redução de alíquota de 5% para 2% do ISS; as empresas de base tecnológica, inovadoras e de economia criativa terão isenção total de IPTU e ITBI por cinco anos.
As iniciativas do 4º distrito dialogam com o conceito de cidades inteligentes, priorizado pela capital como um todo, ou seja, que oferecem estrutura tecnológica, rede de acesso gratuita à internet, leis e regras de saneamento. E ainda: ocupação inteligente dos espaços urbanos; correta destinação dos resíduos, construções que economizem energia, a prioridade de transportes coletivos e bicicletas, e estímulo à economia criativa.
Cidades Inovadoras – A pedido da Inovação – Revista Eletrônica de P,D&I, o MCTI fez um mapeamento das cidades mais inovadoras no país, gerando um ranking de capitais e de cidades interioranas. As 10 primeiras (cinco capitais e cinco municípios do interior) estão sendo alvo de reportagens. Acompanhe a série. As duas cidades já retratadas pela revista foram: Florianópolis e Campinas.
ESCRITO POR MARINA GOMES EM 5 DE MAIO DE 2016 | PUBLICADO EM
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ESPECIAL
MAIO/2016
Obs.: A revista informa que a população da Grande Porto Alegre é de 3 milhões de habitantes. Nós sabemos que isto é um erro. A população da RMPA já está em 4,2 milhões de habitantes. Enviei um e-mail à revista para corrigi-la e já corrigi aí em cima.
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MCTI e revista Inovação mapeiam as dez cidades mais inovadoras do país
Por Juliana Ewers, Marina Gomes e Carolina Octaviano – 5 de outubro de 2015.
O MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) – a pedido da Inovação – Revista Eletrônica de P,D&I, que completa um ano nessa edição – mapeou as dez cidades brasileiras com maior potencial inovador, que serão apresentadas, a partir de hoje, em uma série de reportagens na revista.
Baseado não somente no desenvolvimento tecnológico, Jorge Mário Campagnolo, coordenador da secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, elencou as cinco capitais e as cinco cidades do interior que melhor combinam a promoção da inovação com qualidade de vida, interação entre os players, políticas de incentivo e desenvolvimento econômico. E o resultado foi o seguinte:
O ranking
CAPITAIS
1º. Florianópolis
2º. Porto Alegre
3º. Curitiba
4º. Recife
5º. Rio de Janeiro
INTERIOR
1º. Campinas
2º. São José dos Campos
3º. São Carlos
4º. Santa Rita do Sapucaí
5º. Campina Grande
Categorias:Ciência e Tecnologia
Parabéns a população de Porto Alegre!! Só a população é que merece! O poder público só atrapalha e o atraso!!