Projeto torna ilegal o guardador de carros – os ‘flanelinhas’

Câmara Municipal. Vereadores deverão começar a debater a proposta que acaba com a profissão. Flanelinhas dizem que estão dentro da lei e ganham o apoio da oposição

Foto: autor desconhecido

Um sanduíche quase sem recheio e uma água eram o lanche de William Martins, 27 anos, na tarde quente de ontem no Parque da Redenção. Enquanto ele trabalhava como guardador de veículos na rua José Bonifácio, sua mulher, de 39 anos, e o filho do casal, de 12, também matavam a fome. Não fosse pela possibilidade de conseguir alguns trocados com os motoristas, Martins diz que a famí- lia teria problemas. “Dá para comprar comida, pão. Já puxei cadeia, aí fica difícil de conseguir emprego com carteira assinada. Se arrumasse emprego, parava de cuidar de carro. Agora que larguei de mão [o crime], estou fazendo de tudo para dar certo.”

O argumento era uma resposta à pergunta sobre o que ele faria se a profissão de guardador de carro fosse extinta, que é a ideia do vereador Professor Wambert (PROS). Autor de projeto que torna a atividade ilegal, o vereador afirma que sua inspiração foi a preocupação com os motoristas que são achacados por flanelinhas. Ressalta ainda que não pensou em um destino a ser dado aos guardadores, se tiverem de deixar as ruas. “O que vou fazer com assaltante? Com quem extorque? Estou preocupado com quem sofre extorsão.”

A mulher de Martins, que pediu para não ser identificada, ficou revoltada com o projeto. “Nós, que somos pobres, o que vamos fazer? Vamos roubar? Querem proibir tanta coisa, mas ajudar, nada.” Sobre essa questão, Wambert é duro: “Já tomaram [o rumo do crime]. É um falso serviço, que não vai ser prestado, e [o motorista] ainda vai ser ameaçado”.

A profissão foi regulada pela lei 5.738 de 7 de janeiro de 1986. Em 2011, os profissionais legalizados passaram a utilizar uniforme e deveriam dar um recibo ao motorista que tivesse seu carro cuidado. O recibo nunca “pegou”. Já os sindicatos de guardadores continuam atuando com trabalhadores cadastrados. Um deles é Adilson de Souza Costa, há 20 anos na função na Redenção. Ligado à Cooperamplo, Costa lamenta a medida. “Como vai acabar com uma profissão que é lei? O que o vereador quer fazer com a gente? Destruir a classe mais pobre? Por que não faz um projeto para melhorar a fiscalização [aos irregulares]?”, questiona.

Na Câmara, o projeto terá oposição, segundo a vereadora Fernanda Melchionna (PSOL). “É absurdo porque é tempo de desemprego, que é decorrência direta da falta de políticas de geração de empregos. Que se crie uma agenda de geração de empregos”, defende.

Jornal Metro – Porto Alegre – 16/11/2017



Categorias:flanelinha

Tags:, , ,

18 respostas

  1. Fernanda Melchionna (PSOL). “É absurdo porque é tempo de desemprego, que é decorrência direta da falta de políticas de geração de empregos. Que se crie uma agenda de geração de empregos”
    Como que uma prefeitura pode criar uma agenda de geração de empregos? Dúvida honesta.

    • Resposta honesta: Reduzindo os gastos da própria prefeitura. Cada salário pago pela prefeitura é ao menos um salário pago a menos no mercado. Falando em honestidade, sejamos honestos. Os empregos na prefeitura são muito melhores em média do que no restante da cidade, onde há uma infinidade de pessoas trabalhando informalmente sem aposentadoria, férias, ou nada, entretanto essas pessoas pagam os impostos para a prefeitura que estão embutidos nos produtos. Pedreiros, jardineiros, encanadores, serralheiros… compram comida, gasolina, materiais, ferramentas… pagando impostos para a prefeitura e não recebem os benefícios que os cargos públicos oferecem. É por essa razão que funcionários públicos e políticos são muito mais ricos que a média da população.

      • “É por essa razão que funcionários públicos e políticos são muito mais ricos que a média da população.” (Pablo)

        Sim, Pablo. Eu peço desculpas à população por ser muito mais rico do que a média do povo. Eu, como integrante da elite brasileira, subirei as escadarias da Igreja do Nosso senhor do Bonfim de joelhos, em penitência. Se eu tivesse um pingo de vergonha na cara, doaria grande parte do meu nababesco salário aos pobres e trabalhadores da iniciativa privada. Mas que bom que você denuncia que os funcionários públicos causam tantos danos ao emprego e à sociedade. Precisamos compartilhar e tonitruar essa percepção e também acabar de vez com esse negócio de concurso público. Isso só serve pra fazer pessoas aderirem à elite e prejudicarem os demais trabalhadores da iniciativa privada.

        • Sem dúvida! Inclusive o concurso público retira do mercado de trabalho pessoas bem capacitadas para colocá-las em ambientes estéreis e imutáveis, tudo em nome da estabilidade, de modo que jamais conseguirão evoluir profissionalmente, intelectualmente, jamais farão algo inovador e vão contribuir muito pouco para a população.

          • A estabilidade no serviço público, para seu conhecimento, é uma ferramenta necessária para evitar que servidores sejam chantageados por gestores eleitos. Alguns desavisados acham que a estabilidade é um privilégio advindo do céu, concedido apenas para manter funcionários públicos no Olimpo e infensos à demissões. A estabilidade é portanto uma resposta ao contribuinte, como meio de coibir que um governo abastarde o estado. Um funcionário público não pode estar à mercê de um gestor eleito que venha a obrigá-lo a agir contra o interesse público. Quanto ao concurso público, se ele não existisse, abriria as portas para qualquer apadrinhado entrar para a carreira pública, independentemente do mérito. Quanto ao fato de servidores públicos não evoluirem profissionalmente nem intelectualmente, acho que você não entende muito bem as necessidades do serviço público. Servir ao cidadão é uma tarefa diária, cotidiana e essencial de qualquer país. Há serviços a serem prestados, eles devem ser prestados com urgência e não há muito tempo para lucubrações, estudos nem divagações. Há trabalho a ser feito. Serviço público não é curso de extensão ou pós-graduação de universidade. Serviço público não é laboratório de experiementos científicos, nem feira de inovações tecnológicas. Nós, servidores, precisamos prestar o serviço aqui e agora, caso contrário quem sofre é o cidadão. Você é um grande pretensioso, isso sim. Acha que está em constante evolução, que o seu trabalho é mais útil do que o meu, que merece ganhar mais do que eu, que é mais importante do que eu, etc. Mas afinal? O quê você faz pra se autoproclamar acima dos servidores públicos? Tenho certeza que a galera do blog está curiosa pra saber.

    • Criar agenda de geração de empregos? Muito simples. É só o governo cessar de extorquir o povo com esses impostos abusivos e deixar esse dinheiro com os particulares donos dele que bem rapidamente a iniciativa privada fará os empregos jorrarem.
      Na prática, se querem mais empregos na cidade, extingam esse milhar de CCs da prefeitura. Cada CC a menos pode retirar uns 10 flanelinhas da rua.
      E a própria Câmara, reduza a sua mastodôntica estrutura. Cada milhão que vocês gastam aí significa um milhão a menos de salários e melhores condições de vida para os mais pobres.
      Esta é a agenda honesta que vai funcionar.

  2. Eu apóio!

  3. A minha atitude em relação aos flanelinhas é jamais estacionar em local dominado por eles. Deixo longe e vou caminhando. Se por acaso não há como estacionar sem ser achacado, não vou ao lugar. Diversas vezes eu desisti de almoçar, jantar ou ir a um bar para evitar o achaque. Perdem todos. Perde o consumidor/motorista que não consegue fazer o que gostaria, perde o comerciante que não vende o seu serviço e vê a sua clientela minguar. Eu tenho plena consciência que vivo num país varzeano. Flanelinha, ambulante, carroceiro, carrinheiro, mendigo, drogado, punguista, traficante, assaltante; todos estão nas ruas. É verdade que a conjuntura também está forçando muita gente a viver de biscates, mas não é menos verdade que o poder público é extremamente tolerante com essa informalidade delituosa que assola as grande cidade brasileiras. Eu não tenho a solução para o problema, pois ele é conjuntural, e sei que não bastam leis sem poder de efetividade e fiscalização. Viram só ditames no papel. Porto Alegre é daquelas cidades na qual, ou você tolera todas as imundícies que vê no dia a dia, ou você se manda pra bem longe, se puder remontar a sua vida profissional em outra cidade ou país menos varzeano. Pra continuar morando aqui, tem que engolir a seco e fechar o nariz. É a vida….e vai piorar.

  4. Haitianos chegam sem falar o idioma, sem conhecer a cidade, sem conhecer a cultura e começam vendendo bugigangas e logo abrem pequenas lojas em galerias ou conseguem empregos. Ninguém vai bater no teu ombro e te oferecer emprego. O mínimo que vc tem que fazer é procurar um emprego.

    • Em Buenos Aires muitos chineses chegaram (e têm chegado) à cidade nos últimos anos. Muios mesmo!!!
      Acabam cuidando de negócios financiados por uma “máfia” local de chineses (geralmente restaurantes de comida a quilo, lavanderias e mercadinhos de bairro). São bastante descriminalizados por parte conservadora da população, mas de maneira geral acabam por fazer parte da sociedade portenha sem por mais difíceis que se apresentem as condições.
      Pelo que percebi, convivendo com eles é que sua primeira atitude é tentar aprender o idioma (eles têm muita dificuldade com isso, mas não desistem) e assim tentar manter uma comunicação/simbiose com o ambiente local. Praticam o idioma puxando assuntos variados e muitas vezes supérfluos para os locais, mas de grande aprendizado para eles (escutar e falar).
      Um segundo ponto é assumir alguns costumes, sem perder a própria identidade cultural. Já vi chines tomando mate e torcendo efusivamente pelo pelo Boca.
      Por fim se esforçam para inserir os filhos (muitos filhos…) em boas instituições de educação para que já, desde cedo, se integrem com maior facilidade à sociedade local.
      Por uma observação geral, me parece que os chineses de lá, mesmo com uma adversidade grande (talvez próxima ao que ocorre com os senegaleses aqui) conseguem se adaptar com menor dificuldade (embora ela exista).
      Não sei o que ocorre, mas falta um pouco de orientação e amparo de nossos governantes para os povos que aqui chegam por questões das mais variadas, mas em muitos casos, por questões humanitárias. Acho que auxiliar para que aprendam nosso idioma, para que possam estudar e/ou colocar seus filhos na escola ou para que possam adquirir documentos que os ajudem a concretizar sua cidadania brasileira seria o mínimo.

  5. Meu isto ai é só a pequena ponta do iceberg que é a pobreza e a miséria material que se vive tanto na cidade como de resto no pais e que foi muito bem escondido por anos e principalmente durante os governos lula e Dilma aqueles que tiraram milhoes da pobreza e espalharam alegria e felicidade pela nação,é só pedir um milagre para eles,vamos orar minha gente.

  6. Questão bem delicada.
    Existem os “guardadores bons” que guardam os carros em pontos fixos, lavam, ajudam as pessoas com troco para área azul e não atacam ninguém. De quebra aí da organizam bem os estacionamentos.

    O problema são os outros, a grande maioria que em dias de eventos, futebol, shows e nas voltas dos parques fingem que cuidam dos carros mediante extorsão. Alguns site fazem o favor de quebrar as máquinas de recibo da área azul.

    Estes últimos são a maioria é são tão fiscalizados quanto os outros.

    Ou seja, não há interesse público em fazer qualquer tipo de controle dos guardadores de carros.

    Infelizmente os bons pagam pelos ruins, e principalmente o usuário acaba pagando.

    Em novo Hamburgo essa “profissão” é proibida a alguns s poucos anos, seria bom saber como a cidade ficou após essa lei ser aprovada

    • Tenho acompanhado NH (vou quase diariamente, assim como vou quase diariamente a POA). Enquanto POA está literalmente loteada por guardadores que já tem sua área de domínio, NH tu estaciona tranquilamente sem se preocupar em conseguir moedas para quando voltar ao carro não ser ofendido e ameaçado.
      Em NH não estão 100% extintos, mas restam poucos (pelo menos nos locais que frequento).

  7. Sério. Sem mimimi. Os caras “só” querem cuidar dos carros… aí você volta e teu carro ta riscado… como responsabilizar? quem responsabilizar? NA PRATICA, ninguem. Você se fod… Se eu pago por uma coisa que não me da garantia, porque tem que pagar? Não dou dinheiro pra flanelinha.

    • Riscado é o de menos. Quantas vezes um carro “cuidado” pelos flanelinhas não é arrombado e levam estepe, rádio e o que mais estiver dentro do carro? Ou mesmo é levado! Boa parte desses flanelinhas apenas aparecem quando o evento está começando, vão embora e outros aparecem quando o evento está terminando. É praticamente extorsão pura.

      Aqui na UFRGS temos os “dois tipos”, aqueles que tu vê todos os dias, da manhã a noite, e todos conhecem e até lavam os carros, e os oportunistas, que surgem em época de formaturas e impedem a entrada de carros nos estacionamentos do Campus dizendo que “a universidade contratou” os flanelinhas para cuidar dos carros na rua.

Faça seu comentário aqui: