Com abandono dos BRTs, Porto Alegre segue ‘tradição’ de priorizar transporte individual

Corredores de BRT, como o da Protásio Alves, deveriam ser a solução para o transporte coletivo da Capital, mas são mais um projeto abandonado |  Foto: Joana Berwanger/Sul21

Em 23 de outubro de 2013, o então prefeito José Fortunati (PDT) apresentou, em uma solenidade realizada no Largo Glênio Peres, o ônibus padrão que seria utilizado em Porto Alegre no sistema BRT (Bus Rapid Transit). A ideia era que esses novos ônibus, articulados, com 23 metros de comprimento e capacidade para transportar um total de 166 passageiros, passassem a ser os únicos a circularem até o Centro pelos corredores das avenidas Bento Gonçalves, João Pessoa, Protásio Alves e Padre Cacique, sendo alimentadas pelas linhas locais.

A ideia era que o novo sistema entrasse em operação em 2014, mas jamais saiu do papel e, no final de janeiro, depois de muitos atrasos nas obras – o corredor da João Pessoa foi praticamente feito e refeito por problemas – a atual gestão de Nelson Marchezan Jr. (PSDB) tratou de engavetá-la por tempo indeterminado ao firmar um acordo com o Ministério das Cidades para utilizar R$ 115 milhões que estavam reservados para os BRTs na conclusão das chamadas “Obras da Copa”. O Sul21 conversou com especialistas em transporte público e um representante da Prefeitura para entender o que o abandono deste projeto significa para o futuro do transporte público da cidade.

O que eram os BRTs?

Um manual elaborado em 2008 pelo Ministério das Cidades destaca que o BRT “é um sistema de transporte de ônibus que proporciona mobilidade urbana rápida, confortável e com custo eficiente através da provisão de infraestrutura segregada com prioridade de passagem, operação rápida e frequente e excelência em marketing e serviço ao usuário”. A ideia seria replicar características de desempenho e conforto de sistemas de transporte sobre trilhos, mas com custos menores. Para obter esses resultados, o sistema se caracterizaria por utilizar corredores exclusivos de ônibus, estações de embarque e desembarque, veículos biarticulados com maior capacidade para passageiros, a adoção de um sistema fechado – isto é, com os novos ônibus nunca deixando os corredores – e estações de bilhetagem eletrônica e múltiplas portas para entrada e saída do veículo.

A ideia para Porto Alegre é que, num primeiro momento, as quatro avenidas que receberiam substituição do pavimento para aguentar os veículos mais pesados operassem o sistema, sendo que os novos ônibus seriam praticamente os únicos a circular por estas vias até o centro, o que então geraria uma maior eficiência do sistema. Esta busca por maior eficiência na chegada e saída do transporte coletivo do Centro também era o objetivo de um projeto da gestão de José Fogaça, o “Portais da Cidade”. Este projeto previa a construção de três grandes terminais (Zona Norte, Cidade Baixa e Azenha), que funcionariam também como locais de embarque e desembarque em que os passageiros trocariam as linhas saídas dos bairros para ônibus articulados especiais que os levariam para o centro. Este projeto implicaria na transformação das estações em “mini-shoppings”, o que acabou sendo avaliado pela gestão Fortunati, que sepultou a ideia em 2010.

Respondendo a questionamentos enviados na última semana, a Secretaria Municipal de Gestão e Planejamento (SMGP) informa que, dos 15,5 quilômetros de obras de substituição da pavimentação previstos para os corredores da Bento Gonçalves, Protásio Alves e João Pessoa, 14,3 já foram executados. A troca da pavimentação na Padre Cacique já havia sido inteiramente concluída antes da Copa de 2014.

Contudo, como explica Luís Cláudio Ribeiro, engenheiro de planejamento e transportes da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim), a troca da pavimentação era apenas uma das etapas necessárias para a implementação do sistema, sendo que a implementação dos terminais de embarque e desembarque e das estações destinadas para receberem o pagamento externo jamais foram sequer iniciadas. Além disso, ele pontua que esses sistemas demandam a integração com o resto do sistema de transporte coletivo, não só da Capital, como da Região Metropolitana, uma questão em que também não houve avanço. Responsável pela gestão dos projetos na Smim, o engenheiro Ribeiro admite que o sistema dos BRTs está paralisado pela falta de recursos e que não há previsão de retomada. “A gente não tem hoje recurso para compra de ônibus e para fazer todo o sistema, as estações de cobranças externas e os terminais”, diz.

No final de janeiro, o secretário municipal de Gestão e Planejamento, José Alfredo Parode, anunciou que as obras dos BRTs seriam deixadas de lado porque a implementação do sistema exigiria um investimento total de aproximadamente R$ 1 bilhão. Com isso, R$ 115 milhões de recursos garantidos para o sistema seriam destinados para 11 obras viárias – também contarão com um empréstimo de R$ 120 milhões a ser obtido junto ao Banrisul -, que incluem a conclusão de obras em estágio quase final – como os cruzamentos da Terceira Perimetral com as avenidas Ceará, Cristovão Colombo e a rua Anita Garibaldi – e obras que sequer foram iniciadas, como a construção de um viaduto no cruzamento da Terceira Perimetral com a av. Plínio Brasil Milano, a duplicação de um novo trecho da av. Voluntários da Pátria e a pavimentação da av. Ernesto Neugebauer e da rua José Pedro Boéssio.

SUL 21 – Luís Eduardo Gomes

A matéria continua. Clique no link acima para ler a matéria na íntegra.



Categorias:BRT

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23 respostas

  1. O dia que um político prometer e implantar efetivamente isso aqui (https://www.youtube.com/watch?v=TmHMogy0iNc&feature=youtu.be) ele terá meu voto e meu apoio eterno!

  2. Se aumentassem a distância entre as paradas de ônibus já melhoraria muito o transporte de todos. Obrigar as lotações a pararem somente nos pontos seria bom também. Proponho distância mínima de 500m entre duas paradas.

    • Exatamente. Perto de onde eu moro tem exatamente uma parada por quadra. Uma parada a cada cerca de 50m!

      Mas sabe como é o egoísmo porto-alegrense. Quer a parada na quadra de sua casa, mas não está nem aí para quem vai demorar mais para ir e voltar ao trabalho.

  3. Porto Alegre está quase igual à Pripyat, a cidade russa abandonada de Tchernobyl à 32 anos.

  4. Exemplo do Metrobus que é o BRT de Buenos Aires, estações simples, eficientes, sistema operando perfeitamente e beneficiando as pessoas e a cidade. Algo que poderia ser facilmente replicado em POA, que já tem a base, com preço baixo e benefícios altos. A ver a partir dos 10:30 m

    • Buenos aires nunca teve cobrador nos onibus ai a população esta mais acostumado com esta lógica e tembem não tinha roleta nos onibus o motorista sempre foi responsavel por cobrar depois vieram máquinas com moedas hoje eu não sei faz tempo que eu não vou lá, A cidade conta com largas avenidas o que facilita ideias como os BRTS.Esqueçam aqui em Porto Alegre nunca vai sair estas inovações,seria preciso mudar a mentalidade da população,inclusive no que tange a eleições,candidatos sérios propostas de governo sérias e não musiquinha e papo furado de sempre.

      • Olha… posso te afirmar que, embora seja eficiente o metrobus de BAIRES, ele tem seus problemas.
        Mas não acho prático comparar o sistema de transporte de passageiros rodoviário de Buenos Aires com o de Porto Alegre. São bastante diferentes.
        Mas em termos de ideia sempre é válido.

  5. No mais, a atitude de pegar esse dinheiro do BRT para concluir as obras da Copa foi correta. É preferível concluir de uma vez uma porção de obras do que esperar o resto do dinheiro (que seria uns 800mi) pra concluir uma só obra, que convenhamos, iria se arrastar mais 10 anos para ser concluída.

    Claro que o ideal e primordial seria o BRT, mas como não deu, paciência.

    • OK! “Se não deu, paciência!”. É essa forma de tratar e encarar as coisas que nos leva a esse buracão sem fundos que vivemos. É tudo um oba oba, sem seriedade em nada!

  6. Achei interessante a reportagem e abri o link, pois queria ver quais eram os especialistas que falaram sobre o BRT. Depois que eu vi que eram dois arquitetos e o Sgarbossa eu larguei de mão.

    Matéria sem nenhum dado técnico. É a mesma coisa que perguntar para qualquer transeunte na rua qual a sua opinião.

  7. Relembrando: faz muito tempo foi implantado aqui nesta cidade sorriso um sistema de transporte publico feito por onibus que previa um ramal e estações de transbordo,que alias foram construidas chamava-se corredor da Bento Gonçalves,vá lá não era nada sofisticado mas a ideia era boa ,não havia cobrador nos onibus só no embarque,o povão não gostou por causa da chamada baldeação,os rodoviários chiaram era contra o emprego e os empresários,há os empresarios, Passou o tempo e o sistema faliu.ai vai passando o tempo vem a copa do mundo a salvação do Brasil e de Porto Alegre era aquela cachoeira dourada de dinheiro que iria embriagar todo mundo de felicidade,vamos ter o metro,coisa de cidade chique,vamos ter os BRTS chiquerrimo, foi se a copa e ai veio a realidade paramos no tempo e ai ficaremos,não votei no Marchezan,acho ele meio sem norte,mas a culpa não é só dele,quem conhece a fundo a burocracia publica sabe o que estou falando é um pantano,ou seja quanto mais impostos se paga mais direitos de alguns se garante e o resto que se dane.Porto Alegre arrecada muito e gasta muito e gasta mal mas nada pode ser feito pois tudo esta garantido pela lei os direitos estão na lei.

    • Ótimo comentário! Resumiu muito bem a situação!

    • O Marchezan, assim como todos os candidatos à chefia do executivo, sabiam muito bem o que iriam encontrar e também sabiam perfeitamente que iriam mesclar-se naturalmente ao sistema. Se querem tanto pegar o cargo, é por que coi$a boa tem. Eles não vêm tomar porrada de graça. Colhem muitas benesses no meio do tiroteio. Governo e iniciativa privada nunca estiveram de mãos tão dadas no Brasil. Todo mundo levando uma beira e uma mão lavando a outra. Isso vale pra qualquer partido de qualquer ideologia, aliás, ideologia coisa nenhuma. A única ideologia que existe é a do poder e suas vantagens.

      • Perfeito! Agora vem o Marchezan dizer que se a cidade não tivesse ferrada ele não teria sido eleito. Ué, se candidatou pra que então? Está se mostrando incompetente e despreparado. De novo, ele achou que seria o Mini Dória que ia pedir pro Moinhos de Vento construir posto de saúde e que ia privatizar o mato que tudo ia se resolver. A iniciativa privada investe quando tem plano. Cada vez mais eu acredito que teria que ter uma especie de referendo 1 ano após a eleição para referendar candidato eleito, se perde assume o vice. Dilma e Marchezan, e talvez o Sartori teriam dançado nessa.

        • Eu entendi essa frase do Marchezan da seguinte forma: se a administração Fortunati/Melo fosse boa, o eleito seria o Melo, ele não estaria em último nas pesquisas e ele nem se mataria…

          Acho que o Marchezan está correto nessa afirmação. O Marchezan, que é um b05sta, foi eleito porque o Fortunati/Melo são mais b05sta que ele.

    • Muito bem dito. A verdade de tudo é que tudo é bonito, fácil de concertar em época de campanha. Votamos em quem melhor mente, há muito tempo. Somos os grandes culpados de tudo que esta acontecendo. Programas de humor televisivo sempre “mostraram” personagens imitando politico dando jeitinho em alguma coisa, com os bolsos cheios de dinheiro e sempre achamos graça=>que resultou nessa desgraça que é a falência total da cidade, do estado e do Brasil. Tudo virou uma grande chacota: insistem e lutam desesperadamente para colocar no Ministério do Trabalho alguém que deveria ser processa e estar presa, porque? porque ela tem uma qualificação inimaginável que não existe nenhum outro brasileiro, idôneo, capaz de assumir??? É algo surreal. Tudo. Precisamos acabar com a classe politica. Tem que governar quem tenha formação, capacitação administrativa: se errar, demite e contrata outro.

  8. Daqueles absurdos tão gritantes por si só que não se tem o que falar. Acho que se não vai ter BRT então o município deveria exigir o governo federal linhas de metrô. Se pararmos para pensar São Paulo tem sei lá umas 07 linhas, quase um arco-íris, aquele Rio de Janeiro também tem algumas, no Nordeste Salvador e Fortaleza têm, e porque no nosso Sul que tanto gera divisas POA e Curitiba, mas POA que é a caótica e defasadaça principalmente, não tem?

  9. Na semana passada eu estava conversando com um francês que mora no Brasil já há alguns anos, e ele me comentou de como as cidades brasileiras são concentradas, com prédios muito altos e próximos um a outro. Na mesmo hora lembrei do péssimo transporte coletivo, ausência de ciclovias e cidades perigosas que obrigam as pessoas a usarem o carro para tudo.

  10. Essa cidade é triste. É só o que tenho a dizer.

  11. Os caras não conseguem fazer um piso, coisa básica em qualquer país desenvolvido..
    na prática aquelas estações ‘mini shoppings’ teriam a estrutura feiosa do camelodromo ou rodoviaria kkkkk

    • Piso? Não conseguem cortar nem grama mais. Nem tapar buraco. Nem colocar a merda de um relógio/termômetro na rua. É incrível como além de não melhorar nada, ainda conseguiram piorar o pouco que tinha, nos últimos 5/6 anos.

      • Marchezan está perdido. Não fez nada. Não vai fazer nada. Vai culpar a esquerda. Ele achava que era só fazer licitação e deixar tudo para a iniciativa privada que despejaria dinheiro nas ideias mal planejadas da prefeitura. Não é assim que funciona PPP…

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