Com separação incorreta, baixo preço de venda e ‘coleta clandestina’, Porto Alegre só recicla 6% do lixo

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Na Capital, lixo orgânico é misturado pela população com resíduos recicláveis. Foto: Luiza Castro/Sul21

Todos os resíduos recicláveis de plástico, vidro, isopor, papelão, alumínio, papel ou metal descartados pela população de Porto Alegre deveriam ter como destino o reaproveitamento na confecção de novos produtos. Entretanto, essa está bem longe de ser a realidade da Capital. Ao mesmo tempo em que produz 56 toneladas de resíduos recicláveis diariamente, Porto Alegre só recicla cerca de 6% deles, de acordo com dados do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).

Seja pela ausência de um local fixo para descarte nas vias públicas, por falta de separação adequada por parte da população, por conflitos ou irregularidades existentes no caminho percorrido pelos recicláveis na Capital ou pelo baixo valor comercial que alguns deles possuem, grande parte de garrafas pet, copos e embalagens de isopor, brinquedos feitos de plástico, caixas de comidas congeladas, plástico filme, embalagens longa vida, latinhas de alumínio e outros itens que poderiam ser reaproveitados acabam indo parar no aterro em Minas do Leão ou em sistemas de coleta ilegais.

Descarte correto, responsabilidade social

Em razão de as pessoas não separarem corretamente o lixo descartado, a Coleta Seletiva oferecida pela Prefeitura de Porto Alegre, que deveria receber somente resíduos recicláveis – o lixo seco -, acaba recolhendo todos os tipos de resíduos, como cascas ou restos de comida, papel higiênico usado, fraldas descartáveis e tantos outros orgânicos que vão misturados nos sacos destinados à Coleta Seletiva. Embora exista, atualmente, uma equipe de fiscalização do DMLU para corrigir e multar quem descarta resíduos incorretamente, ela é composta por apenas 18 agentes responsáveis por toda a cidade. A multa só acontece em casos em que a pessoa é notificada duas vezes pelo órgão, e pode variar entre R$ 350 e R$ 5 mil, dependendo da gravidade da infração.

Apesar da existência de uma possível punição, quem trabalha com recicláveis acredita que o problema maior é o desconhecimento por parte da população, pois mesmo correndo o risco de precisar pagar pelo descarte incorreto, as pessoas continuam misturando resíduos e descartando recicláveis em coletas destinadas aos orgânicos e rejeitos. “A população ainda não sabe separar, ainda não sabe realmente o que vai e não vai [na Coleta Seletiva]. Vem comida, casca de banana, fezes de cachorro, coisas que não daria para levar. A gente analisa para ver se é lixo seco, quando a maioria do lixo é lixo reciclável a gente leva, mas quando a maioria é comida, a gente não leva”, relata Jakson Siqueira de Oliveira, associado da Cootravipa, que trabalha diariamente nos caminhões da Coleta Seletiva recolhendo os resíduos.

Alex Cardoso, integrante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), aponta o desconhecimento sobre a cadeia que envolve trabalhadores e empresas ligadas ao recolhimento de lixo como outro fator que, na opinião dele, contribui para o problema do descarte incorreto na Capital. “Nem todas as pessoas misturam porque elas são malvadas. Elas precisam ter contato com as pessoas que serão afetadas. A questão dos resíduos só dá certo quando as pessoas têm contato com as outras. Quem separa material e doa para os catadores independentes, de rua, doa porque sabem que faz bem diretamente para uma pessoa. Elas não dão para a Coleta Seletiva porque elas não enxergam a pessoa do outro lado, elas não veem o benefício”, afirma.

Fato é que a mistura de resíduos acaba prejudicando o trabalho executado pelos associados da Cootravipa que, assim como Oliveira, recolhem o que é descartado pela população, e também o dos trabalhadores das 16 Unidades de Triagem (UTs) conveniadas ao DMLU, geridas por cooperativas ou associações de catadores de materiais recicláveis, que atuam nos processos de triagem de resíduos, prensa de materiais, e na venda dos mesmos para empresas de reciclagem – de forma direta ou por meio atravessadores, como são chamadas as pessoas que compram materiais das unidades para vender a empresas.

Leia  matéria completa, clicando aqui.

SUL 21 – Annie Castro 



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9 respostas

  1. Se a população separasse melho o lixo e colocasse na rua somente nos dias corretos teriamos um numero infinitamente menor de catadores catando coisas nos containers todos os dias.

    Alem do mais o pib da cidade aumentaria, mais pessoas que vivem de coleta teriam algo parecido com uma condiçao minima de sobreviver.

    mas a preguiça fala mais alto, bora-se o lixo fora de qualquer jeito e depois se reclama que os vereadores da cidade nao fazem nada pela cidade.

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  2. Primeiro lugar é preciso ter em conta que vivemos em uma cidade que possui muitos problemas sociais que ninguem resolve então catar lixo e vender é uma fonte de renda.Nem todos os materiais tem boa aceitação e preço para reciclagem então é obvio que muita coisa vai acabar no aterro sanitario. Pessoas que moram em grandes condominios até podem ter um funcionário responsavel pela logistica de armazenar e entregar ao caminhão coletor,pequenos e médios predios não tem isto seria mais custo aos condominos e ai vai da consciência de cada um.Ninguem sabe se realmente os caminhões da coleta seletiva entregam todos os reciclaveis com valor aos galpões. Eu já morei no Centro,cruz credo, e havia há decadas um conteiner para depositar reciclaveis lá no largo dos açorianos era uma coisa bem bolada,entretanto os carroçeiros e carrinheiros estouravam os cadeados e retiravam o filé.Atualmente moro em um bairro onde praticamente não há muitos predios só casas então dá para guardar o lixo seco por dias até dar um destino adequado para ele já que o caminhão passa duas vezes por semana,mas há muitas pessoas catando e levam o filé,não vejo saida tão rápida para isto.

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  3. É uma combinação de fatores:

    descaso:, vamos ser francos, a maioria da população não está nem aí pra reciclagem
    desinformação: unida ao descaso/má vontade, tem aqueles que já falam “ain, mas eu nem sei como é coleta seletiva em porto alegre”. Pelamordedeus, 2020. Google > “coleta seletiva em porto alegre”. É o primeiro resultado.
    problemas sociais: se você é valente o suficiente para se importar, saber separar o lixo e colocar na rua no dia e horário correto, você fica cuidando uns minutos pra ver o que acontece. Antes da coleta oficial passar, um catador passará primeiro. Aí ele irá levar o lixo que você separou, abrir (provavelmente na rua mesmo) separar o que é lucrativo e de interesse dele, e jogar o resto fora.

    Ajudaria talvez se houvesse algum tipo de conteiner de uma via, onde você pudesse colocar o lixo mas ninguém sem o equipamento certo pudesse abrí-lo, e houvesse uma educação das pessoas em relação à separação do lixo. Infelizmente, ainda vemos móveis e lixo sendo atirados no Guaíba, no Dilúvio, terrenos baldios ou simplesmente na rua. Então esperar que povão aprenda a separar lixo e colocar no dia, hora e lugar certo é sonhar demais no Brasilzão. Vai levar gerações pra isso acontecer, se é que acontecerá.

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  4. Eu acho que além da falta de educação da população em geral, na época que implantaram os contêineres em POA deveriam ter colocado os dois tipos, um para orgânico e outro para seco. Talvez a população tivesse aprendido de início. Reeducar agora é muito difícil.

    A coleta seletiva deveria ser clara, todos deveriam saber onde colocar o lixo, não deixando simplesmente na frente dos prédios para sabe-se lá quando o caminhão passar.

    Chega dar uma tristeza quando vou colocar o orgânico no contêiner, vejo até pequenos móveis ali dentro. É um descaso completo com o meio ambiente que vem de todos os lados.

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  5. Que vergonha! Falhamos como sociedade. A culpa não é exclusivamente dos políticos ou da gestão pública, é principalmente da população, a maior interessada em ter um ambiente limpo e saudável. Quando a população não faz a sua parte, não há como fazer o resto funcionar.

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    • Perfeito.

      É aquela coisa: todo mundo quer seus direitos, mas não sabem que existe os deveres. Não sabem que o dinheiro que se gasta pra coisas que não precisaria é tirado de áreas onde são mais necessárias.

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  6. Te dizer que eu não tenho ideia de como funciona a coleta seletiva em Porto Alegre.
    Onde eu trabalho tem um contêiner, porém, eu não sei o que fazer com o lixo seco, não tenho onde por, ao menos todos os dias passam catadores e passam para pegar.

    Já em casa, sequer tem o contêiner, então, pior ainda, ainda tivemos que por uma grade na lixeira do prédio, de tanta sujeira que os catadores deixavam ao vasculhar o lixo, era um fedor horrível.

    Até tem um aviso no prédio sobre a reciclagem, mas falta um lugar pra deixar o lixo seco.

    Acho que por contêiner para os dois tipos de lixo seria a solução ideal, mas se nem o comum chegou ao meu bairro.
    Aliás, tendo um comum, poderiamos deixar a lixeira atual apenas para lixo reciclável, já resolveria o problema em partes.

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    • Abra este link: https://www2.portoalegre.rs.gov.br/dmlu/default.php?p_secao=209

      Ponha teu endereço no campo que pede.

      Pronto.

      Agora tu sabe quando que o caminhão da coleta seletiva passa na tua casa. Tu pode agora deixar ele próximo da lixeira que o pessoal vai recolhê-lo.

      Lembrando que o conteiner é para lixo ORGÂNICO.

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      • “Não faço a mínima ideia de quando passa o caminhão” / “Não deve ter coleta seletiva no meu bairro” / “Falta a prefeitura ensinar as pessoas” são alguns dos exemplos que escuto de uma população preguiçosa em fazer a sua parte.
        O esquema está 100% montado, a roda gira…basta o resíduo ser bem separado na origem e as pessoas deixarem esse resíduo na calçada no dia e horário previsto para passar o caminhão. MUTIO FÁCIL!

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