
De Cunha Porã (SC) – 500 km daqui, foram as rádios que me tocaram. Era o futebol da Guaíba; o Grande Rodeiro Coringa da Farroupilha. Com a maleta da família, de carona, vim. Acabei numa pensão na Riachuelo. O Centro me tocou. Aquelas gentes. Diferentes. Entre medo e ansiedade fui conhecendo. Trabalho, estudos duros, cinema, Ospa. Tudo me tocava, e por caminhos vários fui andando. Chocado fiquei com nossa destruição, eram tempos de Thompson Flores, colocando abaixo prédios históricos e fazendo viadutos. Não pequei o bonde. Tinha parado pouco antes. Porto Alegre de todos os gaúchos não podia parar, e ai de quem resmungasse. Aulas aqui e dali, política, meu sebo, chego à Câmara Municipal.
Fiz no Parlamento e no Executivo o que pude. Sempre tem as amarras. Mas nunca perdi a rebeldia, aquela mesma que tive para ajudar a organizar a greve dos trabalhadores da construção civil em 1979. Tenho convicção que sou um revolucionário. Não me calo, não me rendo, defendi e defendo esta cidade com minha visão humanitária. Não é a cartografia, ruas, tijolos, vidros que me toca. São suas pessoas. Não me cai bem a grenalização. Legal ver as camisetas colorindo a cidade, mas, além disto, acho exagero.
Lendo nossa História impacta-me nossa formação multifacetada, poliédrica. Somos o resultado dos indígenas, dos bárbaros bandeirantes, dos negros forçados ao trabalho, dos portugueses, madeirenses, açorianos. Depois vieram levas de alemães, italianos, poloneses, judeus, palestinos e tantos outros. Somos nós os porto-alegrenses. No passado ficaram o cerco de Porto Alegre pelos Farrapos, as degolas de irmãos, para a gente se encontrar no Brique da Redenção ou na Orla, com a cuia do mate passando de mão em mão, ou uma papo num café e um trago num boteco.
Porto Alegre me toca!
Adeli Sell
Professor, escritor, consultor e Bacharel em Direito. Vereador de Porto Alegre (até dez 2020)
Categorias:250 anos de Porto Alegre
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