Grande banco brasileiro diz que a recuperação do RS pode surpreender

Dinâmica de recuperação da atividade do Estado tende a ser bem mais veloz que na covid. Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

A maior intensidade e concentração de chuvas tornou as enchentes de setembro de 2023 no Rio Grandes do Sul mais letais, porém, com impactos econômicos menores do que os estimados para as enchentes mais persistentes de maio de 2024. Ainda assim, os estímulos divulgados pelo governo federal indicam que a recuperação este ano pode ser ainda mais rápida do que a observada em 2023. É o que aponta um estudo especial do BTG Pactual sobre os impactos de curto prazo na atividade econômica pelas enchentes no Estado.

Os economistas do banco também concluíram que a dinâmica de recuperação da atividade em casos de enchentes no Estado tende a ser bem mais veloz do que na crise sanitária da covid, com o estoque de empregos formais, por exemplo, normalizando em cerca quatro meses, e a arrecadação de tributos municipais, em torno de três bimestres após o choque.

O BTG analisou dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2021 e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ambos do governo, além das informações de Imposto Sobre Serviços (ISS) e repasse de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) divulgados pelo Tesouro Nacional.

Como cidades “muito afetadas” pelas enchentes, o BTG considerou os municípios classificados pelo governo gaúcho em estado de calamidade pública. Nas enchentes de setembro de 2023, foram 20 municípios, a maioria na região do vale do Taquari. Nas enchentes de maio deste ano, são 78 cidades, incluindo a capital Porto Alegre. Para o “grupo de controle” (cidades menos afetadas), foram considerados municípios gaúchos que não têm fronteira com cidades impactadas.

Com base na dinâmica de arrecadação de impostos municipais após as enchentes de 2023, o BTG estima um impacto negativo das chuvas deste ano no Estado de 0,2 ponto percentual no PIB do Brasil no segundo trimestre de 2024, próximo ao limite inferior das estimativas de mercado.

“Mais importante que a projeção de impacto aqui apresentada, a dinâmica de recuperação do emprego e da arrecadação de tributos municipais indica rápida recuperação da atividade nessas regiões, liderada pelo setor industrial e, principalmente, pela construção civil. Assim, esperamos um efeito muito pequeno sobre o PIB de 2024, com impulso nos investimentos e queda no consumo das famílias”, escrevem os economistas Bruno Martins, Francisco Lopes e Giulia Secco em relatório.

A partir do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a equipe do BTG observou que, em termos de volume médio diário de chuvas, as enchentes de maio de 2024 foram 30% maiores que as de setembro de 2023 nas cidades mais afetadas. A concentração de chuvas no ano passado, no entanto, foi mais alta. “Embora maio de 2024 tenha apresentado chuvas mais persistentes e um volume médio maior, as chuvas de setembro de 2023 foram mais intensas e concentradas em determinados dias”, afirmam.

Isso combina com a constatação de que o percentual de mortes, feridos, desaparecidos e pessoas afetadas foi proporcionalmente maior em 2023, de acordo com dados do governo gaúcho compilados pelo BTG e “normalizados” para as populações das cidades em calamidade em cada momento. Já o número de desabrigados, desalojados e resgatados foi maior nas enchentes deste ano.

A maior proporção de desalojados em maio de 2024 (10,6%, ante 4% em setembro de 2023) permitiria assumir, segundo o BTG, que o choque econômico das enchentes mais recentes foi 2,6 vezes mais intenso do que o de 2023.

Considerando os dois apontamentos em conjunto – as diferenças de precipitação e a proporção de pessoas desalojadas –, as enchentes de maio de 2024 teriam um impacto sobre a atividade econômica entre 30% e 160% maior que o valor estimado para os efeitos das enchentes de setembro, aponta o BTG. Os economistas trabalharam com um ponto médio, em torno de 100%, ou seja, os impactos estimados na atividade das enchentes de setembro de 2023 foram dobrados para 2024.

O tamanho do estímulo fiscal para a região, dizem, será determinante para a velocidade de recuperação econômica. “Estimamos que as medidas já anunciadas são quase 20% maiores do que os recursos destinados aos municípios em 2023, em termos relativos ao PIB e tamanho dos choques”, afirmam.

Para os economistas do BTG, os dados indicam que medidas de apoio financeiro do setor público deveriam se concentrar na reconstrução da infraestrutura logística e em aportes diretos/indiretos às famílias desabrigadas para reconstrução residencial, como crédito imobiliário subsidiado, e não em linhas para manutenção do emprego, que já são previstas nos programas de seguro-desemprego.

“Quando comparado aos impactos da crise sanitária de 2020, o efeito imediato é até parecido, mas a magnitude e persistência são muito menores nas enchentes de setembro de 2023 do que durante a crise da covid, quando o estoque de empregos formais só voltou aos níveis pré-crise após um ano”, dizem Martins, Lopes e Secco.

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Categorias:Enchente, Reconstrução do Rio Grande do Sul após enchentes

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