Engenheiros propõem medidas para melhorar o sistema de proteção contra inundações de Porto Alegre

Sistema de proteção contra inundações não conseguiu conter as águas do Guaíba, que atingiram um nível recorde e alagaram a cidade
Foto: Alex Rocha/PMPA

Um grupo composto por 48 engenheiros e técnicos conhecedores do sistema de proteção contra inundações de Porto Alegre entregou um documento à prefeitura e ao Ministério Público propondo ações emergenciais para conter a enchente que atinge a Capital e também medidas a serem tomadas depois que as águas baixarem.

Segundo eles, o sistema, que tem aproximadamente 60 quilômetros de extensão entres as zonas Norte e Sul, é “robusto, eficiente e fácil de operar e manter”, mas apresenta falta de manutenção.

Um dos signatários do documento é o engenheiro Vicente Rauber, ex-diretor do DEP, ex-presidente da CEEE, ex-diretor da Petrobras e ex-diretor do
Banrisul. Ele e os demais engenheiros destacam que o sistema não funcionou adequadamente porque não tem “a necessária manutenção permanente, especialmente em relação às comportas, tanto as ao longo do Muro da Mauá e abaixo da avenida Castelo Branco, bem como as comportas junto às casas de bombas.

“Os diques e os muros não vazam. Os vazamentos estão em boa parte das comportas sem manutenção. No ano passado, quando o sistema foi acionado durante as inundações com início no Vale do Taquari e que também inundaram a Região Metropolitana, as deficiências nas comportas ficaram visíveis. Fáceis de serem sanadas, mas não foram. As próprias casas de bombas, bem como as Estações de Bombeamento de Água Bruta, estão
inundadas”, ressaltam os profissionais.

Entre as medidas emergenciais, eles citam o fechamento dos vazamentos nas comportas para evitar a entrada e retorno das águas do Guaíba, recompor os condutos forçados e bombear as águas dos alagamentos em Porto Alegre para o lago por meio das casas de bombas.

“Através de mergulhadores, vedar as comportas do Muro da Mauá e da avenida Castelo Branco, com sacos permeáveis à entrada de água preenchidos com areia misturada com cimento, borrachas e parafusos. Sugerimos prioridade para a comporta 14, que invadiu o bairro Navegantes. Também com mergulhadores, vedar as comportas e colocar ensecadeiras nas Casas de Bombas com Stop Logs, solda subaquática e bolsas infláveis de vedação. Vedar hermeticamente as tampas violadas dos condutos forçados Polônia e Álvaro Chaves. Com as casas de bombas secas e protegidas por ensecadeiras, reenergizá-las, o que pode ser realizado com redes paralelas de cabos isolados pela CEEE Equatorial. Se assim não for possível, utilizar diretamente nas casas de bombas geradores movidos a combustível. Caso não seja possível operar imediatamente as casas de bombas, utilizar bombas volantes de grande vazão para drenar o Centro Histórico e os bairros da região Norte da cidade. No caso do bairro Sarandi, onde as águas superaram a cota de 6 metros e a casa de bombas nº 10 está completamente inundada, é certo que serão necessárias bombas volantes. Com as comportas vedadas e conseguindo fazer operar as casas de bombas ou com bombas volantes, as águas internas de Porto Alegre poderão ser bombeadas para o Guaíba, sem que retornem”, diz o documento entregue à prefeitura e ao Ministério Público.

De acordo com os engenheiros, assim que as águas baixarem, o Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos) precisa consertar imediatamente e, se necessário, realizar eventuais substituições, as comportas do sistema de proteção contra inundações; realizar a regularização do funcionamento das casas de bombas, incluindo a sua ampliação e aperfeiçoamento, tendo por referência um plano elaborado pelo extinto DEP (Departamento de Esgotos Pluviais) em 2014; e retomar o Plano de Desenvolvimento da Drenagem Urbana, elaborado desde 1998 pela UFRGS e pelo DEP.

“Considerando que a cidade possui mais de 40% de sua área praticamente na mesma cota das águas do Guaíba em tempos normais, há a necessidade de completar, aperfeiçoar e manter o seu sistema de drenagem urbana, manter e aperfeiçoar permanentemente o seu sistema de proteção contra inundações, é necessário e urgente recriar uma estrutura de primeiro escalão, o DEP ou semelhante. As empresas de saneamento de água potável e esgotos, por absoluta emergência e por ter tarifa específica para essas atividades, como é o caso do Dmae, não têm e não terão qualquer prioridade para as atividades de drenagem urbana e proteção contra inundações”, afirma o documento elaborado pelos especialistas.

Confira o texto na íntegra.

Link: https://www.osul.com.br/engenheiros-propoem-medidas-para-melhorar-o-sistema-de-protecao-contra-inundacoes-de-porto-alegre/



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15 respostas

  1. Enviem e-mails para seus vereadores e deputados estaduais. CPI no Dmae. A sociedade deve isso às vítimas.

  2. Segundo amigo que mora na Cidade Baixa, estava tudo normal por lá, mesmo com o nível alto do Guaíba. Então informaram que a casa de bombas foi desligada. Aí começou a confusão, foi solicitada evacuação e alagou tudo.

    É um sistema “rústico”, dos anos 60, que só não funcionou por décadas de negligência.

  3. Avisa os engenheiros para desassorear a Lagoa dos Patos, Guaíba, Jacuí tem de 3 a 5 metros e areia no fundo..

    • Verdade. Uma dragagem profunda será essencial.

      Agora a “capacidade” do Guaíba e da Lagoa dos Patos diminuiu bastante com milhares de toneladas de areia que vão ficar no fundo e a velocidade “normal” de escoamento não será capaz de levar para o oceano nos próximos meses.

      Lembrando também que qualidade da água que o DMAE terá para tratar será afetada por todo esse material acumulado, e até a segurança para navegação pode ser atingida( vários navios com cargas perigosas como gás GLP passam pelo Guaíba para abastecer as distribuidoras).

    • É inviável desassorear um rio ou uma lagoa. O que se faz geralmente é dragar um canal de navegação, de uma área pequena, restrita. Um rio inteiro ou lagoa inteira é impossível. Agora é tarde.

      • Sem contar que no caso do Guaíba e lagoa dos Patos, desassorear não vai mudar absolutamente nada no quesito prevenção de enchentes. Ambos já têm a superfície da água (que é o que importa no quesito inundação) basicamente no nível do mar. Pode deixar eles com 100 metros de profundidade se quiser, não muda nada, pois não vai mudar a cota do lago (portanto, não vai mudar sua capacidade de reter “água nova”).

  4. agora vão aparecer um monte de Prof. Pardal,
    não enxerga que não quer,
    o muro não protegeu a cidade, não conteve á águia do rio,
    ou seja,
    o muro não funcionou.

    • Nao funcionou pela falta de manutenção. Se tivessem feito manutenção nas comportas e casas de bombas tinha funcionado. Cara, simplesmente não encontraram as borrachas e parafusos que vedariam as comportas. Não falo do prefeito atual, todas as administrações foram relapsas com a manutenção do sistema. A casas de bombas não funcionarem por serem inundadas? Que sistema é esse? Não previram funcionar com gerador? Ou terem construído as casas de bombas 3 metros elevadas do nível da rua? Muita coisa terá que ser corrigida aí, terá que ter manutenção regular. PODERÁ SER USADO MUITAS VEZES A PARTIR DE AGORA. ENTÃO MELHOR FUNCIONAR NAS PRÓXIMAS.

    • O muro é uma pequena parte de todo o sistema de proteção contras cheias. É importante mencionar que esse sistema nunca tinha sido testado dessa forma, apenas com enchentes menores no ano passado. É natural que aconteçam falhas, ainda mais por se tratar de uma enchente que apresentou a cota altíssima de 5.35m.

      Tivemos falhas de manutenção nas estruturas do sistema e principalmente (a meu ver) má concepção das casas de bombas de drenagem e de captação de água para tratamento, pois foram implantadas em uma cota que permitiu alagamento.

      Lógico que isso não foi um erro, mas sim foi subestimada a possibilidade de uma cheia na cota 5.35m como vivenciamos.

      A elevação das casas de bombas deve ser feita imediatamente, assim como a manutenção das comportas do muro e a adoção de soluções para evitar a passagem de água por frestas. A ideia de uma solda nas comportas parece viável.

      O leigo acaba focando naquilo que é mais evidente (muro) e prefere dar atenção a ideias mirabolantes ou à papo de político. Devemos ouvir os Engenheiros que são capacitados para avaliar e projetar o futuro do nosso sistema de proteção.

    • Águas busca seus caminhos. Muro de um lado e de outro nada..

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