Busca por melhores condições de vida leva gaúchos a deixar o RS

Desde a década de 70, mais pessoas saem do que chegam no Estado

Foto: Gilberto Simon

Foto: Gilberto Simon

Os gaúchos se orgulham de suas raízes e de sua cultura, porém, desde a década de 1970, mais pessoas deixam o Rio Grande do Sul e preferem viver em outros lugares do que vêm morar aqui. O motivo é quase sempre o mesmo, a busca por melhores oportunidades de emprego e renda e, consequentemente, melhores condições de vida. O saldo migratório negativo foi de 24,6 mil pessoas no período 1986 a 1991, passando para 39,5 mil entre 1995 a 2000 e atingindo o patamar de 74,7 mil entre 2005 e 2010. Neste último período, cinco das sete regiões do Rio Grande do Sul tiveram redução de população.

Este também foi o caso da gaúcha Estela Hoffmann, de 31 anos, que mora em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, desde o ano passado. No entanto, antes de se fixar no litoral catarinense, já andou por outras cidades do Estado e até na Europa, na busca de oportunidades profissionais e qualidade de vida.

• Gaúchos procuram oportunidades pelo Brasil e pelo mundo

A jornalista nasceu e se criou em Ajuricaba, no Noroeste do Rio Grande do Sul. Quando concluiu a graduação em jornalismo, em 2009, mudou-se para Ijuí, para trabalhar na assessoria de comunicação de uma universidade local. Ela percebeu que não tinha perspectivas de crescimento profissional e que precisava de mais desafios. Foi quando, em 2013, surgiu a ideia de fazer intercâmbio em Dublin, na Irlanda, um desejo que tinha desde a faculdade. Queria aprimorar a língua inglesa e buscar novas experiências. Na Europa, trabalhava meio turno como au pair(trabalho de babá na casa de uma família), ganhando o mesmo salário que em Ijuí, onde trabalhava em turno integral. No outro turno, estudava inglês e tinha possibilidade de viajar. Como morava com a família que a empregava, não tinha despesas de moradia.

Depois de um ano, em 2014, retornou ao Brasil, para a casa dos pais, em Ajuricaba. Neste momento, uma certeza: queria morar em um local onde tivesse oportunidade de emprego e qualidade de vida. “E isto eu não tinha em Ajuricaba nem em Ijuí. A limitação profissional é grande no Interior”, destaca. Estela conta que, além disso, buscou um lugar que proporcionasse opções de lazer e, inclusive, que tivesse aeroporto, já que para ela era importante poder viajar com mais facilidade.

Foi a partir disso que ela deixou definitivamente de fazer parte dos índices populacionais de Ajuricaba e mudou-se para Balneário Camboriú. Foi morar com amigas que já viviam no litoral, e que também saíram do interior gaúcho, e concorreu a uma vaga no curso de Mestrado em Administração, na linha de pesquisa de Marketing, na Univali, em Biguaçu, na Grande Florianópolis. Depois da aprovação e de um ano de aulas, agora realiza estágio docência na mesma universidade, no campus de Balneário Camboriú, além de uns trabalhos como freelancer.

Qual região mais perde e mais ganha?

Apenas as regiões Nordeste, da Serra Gaúcha, e Centro Oriental, no Vale do Rio Pardo, cresceram em número de habitantes. Entre 2005 e 2010, a Serra Gaúcha ganhou 21.230 habitantes, e o Vale do Rio Pardo, 2.173. As outras regiões perderam: a Metropolitana de Porto Alegre, 2.572 pessoas; Sudeste, em municípios como Pelotas e Rio Grande, 7.623 habitantes; Centro Ocidental, arredores de Santa Maria, perde da 9.170 pessoas.

E é justamente a região de onde veio Estela a que mais perde população em todo o Estado. O Noroeste do Rio Grande do Sul, em cidades como Santo Ângelo, Santa Rosa e Ijuí, segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE), teve diminuição de 50.748 habitantes entre 2005 e 2010. Destes, 57% migraram para o Estado de Santa Catarina.

Porém, quando se leva em consideração, além do saldo migratório, a população total das regiões, é o Sudoeste do Estado que mais perde nativos. No mesmo período, a região dos municípios de Bagé, Uruguaiana e Santana do Livramento perdeu 4,09% da população.

Pedro Zuanazzi, coordenador do Núcleo de Demografia e Previdência da FEE, revela que uma das hipóteses da Fundação em relação aos motivos deste cenário é que estados de Santa Catarina e Paraná, por exemplo, que historicamente recebem gaúchos, estão em uma crescente econômica, ao contrário do que acontece no Rio Grande do Sul. E ele diz que no caso específico da região Noroeste, o fator geográfico facilita a migração, já que é próxima a esses estados.

Zuanazzi lembra ainda que, há cerca de 50 anos, pessoas das regiões Noroeste e Sudoeste ocuparam terras nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, quando buscavam lavouras mais baratas para produzir. “São regiões agrícolas, que têm a produção agropecuária como principal fonte de renda.”

Quem são os emigrantes?

Dados da FEE revelam o perfil das pessoas que abandonam o Estado. A maioria está na faixa etária de 20 a 34 anos, 42,3% do total. Quase a metade, 40%, não concluiu o Ensino Médio. É também esta característica da população que faz a região de Caxias do Sul crescer. Com a indústria em crescimento, ela oferece vagas para chão de fábrica, o que atrai este perfil de trabalhador. Na taxa líquida, a região ganha 2,26% da população de baixa escolaridade e perde 0,21% de alta.

A região de Porto Alegre ganha população de todas as partes do Estado, porém, também perde para outros. Isto faz com que a taxa populacional esteja no vermelho. Os imigrantes têm baixa escolaridade, 57,5%, mesmo perfil dos emigrantes. E esta é uma característica diferente desta região: o perfil de quem entra e sai é muito semelhante.

Já o Noroeste é um caso de região exportadora de cérebros. É a região que mais perde população com alta escolaridade, apresentando taxa negativa de 6,62%. Outro dado curioso é que são pessoas, na sua maioria, com renda a partir de R$ 2.520,00. Este cenário expulsor de pessoas com alta escolaridade e renda pode ser explicado pela característica agrícola da região, com mais oportunidades nesta área que em outros setores.

Sudoeste segue perdendo

Comparando os dados atuais com os períodos de 1986 a 1991 e 1995 a 2000, percebe-se que a população vem reduzindo em todas as regiões. Zuanazzi lembra que esta queda também pode estar ligada a redução nos índices de natalidade. No Noroeste – região de onde mais saem pessoas -, o número de pessoas que deixam a região vem diminuindo. Entre 1986 e 1991 houve diminuição de 114 mil habitantes; entre 1986 a 1991, 99 mil; e 57 mil no último período, de 2005 a 2010. Porém, no Sudoeste, vem crescendo a perda de pessoas. Entre 1986 a 1991 foram menos 11.983 pessoas na região, número que passou para 19.886 entre 1995 e 2000, e 27.623 pessoas de 2005 a 2010.

Correio do Povo / Felipe Dorneles



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6 respostas

  1. Vim embora pra Inglaterra. Chega de retrocesso. POA está vergonhosa.

    O pior de tudo é ver que gaúcho ainda enche a boca pra falar que é o estado melhor nisso, naquilo. Orgulho tão bobo que tá sendo passado pra trás por todos os estados.

    Sou gaúcho, tenho orgulho da minha terra, mas acho que o povo anda exagerando. Basta ir pra SP ou RJ, que seja. Ninguém se importa com o RS. Pra eles não passamos de caipiras que se acham melhores que os outros.

    • O pior desta geração de gaúchos são os que acreditam nos estereótipos de que somos orgulhosos e bla bla bla…. acho qué tu nao prestas atenção nos comentários do blog ou dos gaúchos, que sempre estão se criticando.

  2. Concordo que a indústria é um enorme diferencial para uma região que busca crescer, temos exemplos no estado: Caxias do Sul é uma dessas cidades que pensa PRA FRENTE, que pensa no FUTURO, que valoriza a INICIATIVA PRIVADA. Hoje é a segunda riqueza do estado (uma das únicas cidades que ainda crescem em população e imigrantes), é anotem o que vou escrever: vai chegar o dia em que Caxias vai deixar até Porto Alegre pra trás e se transformar na nova “capital econômica” do nosso estado.

    É mais ou menos assim: Porto Alegre é um exemplo do que não podemos ser ou fazer; já Caxias e região são um exemplo do TEMOS de ser e fazer. Parece que agora a Scania vai instalar a maior concessionária do mundo lá, Gramado vai ganhar a maior roda gigante da América Latina aumentando seu fluxo turístico que caminha para superar o Rio em turistas nacionais. E não será nada público, nada do Estado, tudo iniciativa privada, o único setor que realmente pensa no bem estar da população.

  3. Porto Alegre concentra boa parte da população e da renda “não produtiva” do estado. Lá estão o aparato público e os cabidões de emprego. Eu carinhosamente apelidei-a de “Pequena Roma”.
    Lá mora gente que mama nas tetas do estado há gerações e gente do interior que vai levar a grana para lá em troca de saúde e educação.
    Quer um exemplo de gente que sabe viver em Porto Alegre? Jorge Furtado!
    Família enfiada até as fuças na ditadura. Patrimônio suficiente para viver como “intelectual”.
    Daí vira petista. Porque convém. Porque dá dinheiro. Porque dá status.
    E olha que pelo menos esse faz uma coisinha ou outra por aí…
    Quando resolvem construir ou modernizar algo em Porto Alegre, surge a turma do atraso, todos com o mesmo perfil do Furtado, intelectuais. Essa gente consegue barrar tudo o que poderia ter havido de desenvolvimento em Porto Alegre. Em Porto Alegre as pontas se encontram. O cara mais ridículo e atrasado do PP age da mesma forma que os coronéis populistas do PT. Todos contra tudo o que pode representar o desenvolvimento.
    Daí quem quer trabalhar enche o saco e vai embora.
    Quer que o RS pare de mandar gente para fora do estado? Mudem o pacto federalista e deixem a maior parte do dinheiro produzido nos municípios!
    Simples assim…
    Concluindo: Seja bem vinda Lulu Genro, patricinha rica e mimada que arrota verdades e não sabe porra nenhuma sobre nada! Você é mais um passo para trás nesse lugar medonho que só faz reclamar e oprimir quem trabalha e produz.

    • Perfeito seu comentário! Mortadela Alegre só tem a “ganhar “com a histérica da L. Genro ou para piorar com o anacrônico R. Pont. Triste lugar

  4. Exatamente assim foi com minha família, nasci em POA em 1972 e meus pais tiveram de partir para o Paraná na região Oeste, aonde nos foi dada oportunidades e aonde pude ser criado com dignidade. Hoje vivendo em SC encontro direto gente gaúcha (expulsada) que chega em busca de alguma oportunidade. É difícil de entender o que se passa com o RS, afinal é uma terra privilegiadíssima em termos de recursos naturais e com grande potencial humano! Me parece que só a política podre pode explicar este estado de coisas. Além do tal “amor” à sua terra e o culto às tradições tão característicos, na minha opinião no RS falta visão estratégica e empreendedora. Vejo que as universidades são ótimas e como tudo está arranjado elas servem para formar excelente mão-de-obra para o país. Para o país então é bom um RS tão pobre mas com tanto potencial humano, porque são estes profissionais são absorvidos e mantém ou impulsam o desenvolvimento dos outros estados. Dentre tantos desacertos só em termos de indústria automobilística que indubitavelmente opera uma transformação incrível na economia e esta é uma das razões para atualmente Curitiba ser disparado a capital mais desenvolvida do Sul, vejamos que no RS os tipos expulsaram a Ford, deixaram a palhaça da senadora Ideli Salvatti mancomunada com a Dilma instalar a BMW em SC, e para acabar o Tarso entregar de bandeja a energia eólica dos ventos gaúchos captados (usurpados) pela usina de Xangri-lá para a Honda operar uma fábrica que simplesmente gera de milhares de empregos qualificados para cidadãos paulistas! Precisa dizer algo mais, não, então sem maiores comentários.https://www.ambienteenergia.com.br/index.php/2015/12/parque-eolico-da-honda-energy-reduz-emissoes-de-co%C2%B2-da-sua-fabrica-de-automoveis/27664

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