Centenas de ciclistas pedalam em protesto pela morte de companheiro

Uma antiga bicicleta do arquiteto Joel Fagundes, morto no  domingo, foi levada pelos ciclistas e instalada em um poste perto do local do acidente|Foto: Alina Souza/Sul21|Foto: Alina Souza/Sul21

Uma antiga bicicleta do arquiteto Joel Fagundes, morto no domingo, foi levada pelos ciclistas e instalada em um poste perto do local do acidente|Foto: Alina Souza/Sul21|Foto: Alina Souza/Sul21

Jaqueline Silveira

Centenas de ciclistas pedalaram na noite de terça-feira (10) pelas ruas da Capital em protesto à morte do arquiteto Joel Fagundes, 62 anos. Ciclista, ele foi atropelado por um táxi na manhã do último domingo (8) e o caso está sendo investigado pela Delegacia de Trânsito. Essa é a primeira vítima de 2015. Já no ano passado, foram registradas seis mortes de ciclistas.

Partindo de várias regiões da cidade, os ciclistas se reuniram no Largo Zumbi dos Palmares. A iniciativa “Ghost bikes para um pai, para um marido, um amigo, um irmão, um filho, um Joel Fagundes” foi organizada pela rede social Facebook. Do local, rumaram em direção à Avenida Severo Dullius, Zona Norte, lugar onde Fagundes foi atropelado, para instalar uma Ghost bike – bicicleta fantasma. Além de homenagear a vítima, o objetivo é evitar que a  morte do arquiteto seja esquecida.

Ciclistas de vários regiões da capital, se reuniram para a pedalada em protesto pela morte do arquiteto|Foto: Alina Souza/Sul21

Ciclistas de vários regiões da capital, se reuniram para a pedalada em protesto pela morte do arquiteto|Foto: Alina Souza/Sul21

Antes de dar a partida, as centenas de ciclistas, boa parte do movimento Massa Crítica, gritaram: “Joel Fagundes, presente!” Organizador do movimento, Eduardo Macedo foi o responsável por preparar uma antiga bicicleta do próprio arquiteto para deixá-la no local do acidente: a pintou de branco e a soldou. Também carregou a Ghost bike por todo o trajeto presa a sua bicicleta. “Inutilizei toda ela”, contou Macedo, para evitar que a Ghost bike possa ser roubada.

A manifestação, segundo ele, uniu dois motivos: “A ideia seria um pouco fazer essa homenagem e também uma conscientização.” Já em relação à iniciativa, ele afirmou que “alguém tinha de fazer”. “Eu faço parte da mesma família dele (Fagundes) que anda de bicicleta”, completou Macedo.

A família do arquiteto também acompanhou a manifestação. “O mais importante é que reconforta um pouco”, comentou Rita Fagundes, sobre a iniciativa dos ciclistas. “Se conseguirem salvar uma vida já valeu a pena. A bicicleta foi escolhida a parceira dele para todos os momentos”, afirmou a filha, emocionada, sobre a conscientização para reduzir o número de acidentes com ciclistas.

Acompanhados por agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e por uma viatura da Brigada Militar, os ciclistas percorreram o trajeto, intercalando silêncio com frases como “Mais amor, menos motor.” Também predominava um sentimento de revolta. No entroncamento das Avenidas Venâncio Aires e Érico Veríssimo fizeram uma parada para homenagear uma ciclista que morreu no local atropelada por um ônibus.

Ao logo do percurso, mais ciclistas se juntavam na pedalada. Em frente à prefeitura, fizeram um minuto de silêncio. Depois de mais de uma hora e meia da partida do Largo Zumbi dos Palmares, as centenas de ciclistas chegaram à Avenida Severo Dullius, momento marcado por muita emoção dos familiares e amigos que rodearam a Ghost bike, que tinha um ramalhete de flores brancas, não segurando as lágrimas. “Vamos lá, pessoal! Vamos levantar esse homem!”, convocaram alguns ciclistas, numa referência simbólica à instalação da bicicleta em um poste.

Enquanto a Ghost bike era amarrada, intercalaram-se gritos de “Joel Fagundes, presente” e muitos aplausos. Junto à bicicleta, foi anexado um banner com a caricatura do arquiteto ao lado de sua companheira de pedalada. Por último, foi feito mais um minuto de silêncio e os ciclistas levantaram suas magrelas e rezaram um Pai-Nosso.

Movimento

As Ghost Bikes começaram a ser instaladas na Capital há quatro anos para homenagear as vítimas e conscientizar a população para os acidentes. Nesse período, já foram instaladas 15 Ghost bike em diferentes locais de Porto Alegre onde ocorreram acidentes com morte de ciclistas. A iniciativa existe também em outros países como Estados Unidos e Inglaterra.

SUL 21

Confira muitas outras fotos clicando no link do Sul21.



Categorias:Bicicleta, ciclovias

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32 respostas

  1. É uma triste realidade.
    Mas acho os números de morte por atropelamentos até baixos, basta parar pra ver a quantidade de pessoas nas ruas, a quantidade de carros, e a quantidade de loucos dirigindo carros.
    Eu tenho uma moto, acho que me considero sortudo, em um ano e dois meses com a moto, só passei por 3 sustos, por motoristas que não deram a seta, ou cruzaram na minha frente do nada, por sorte, apesar de eu andar rápido, evito riscos, por exemplo, se vejo que o transito parou e tem uma sinaleira para pedestres, mesmo fechada para os pedestres, eu diminuo, pois sei que é comum de alguém atravessar ali, regiões de escolas também, é uma coisa que meu pai me ensinou quando criança, nunca olhar apenas pro carro da frente, manter a atenção bem mais pra frente, pra evitar algum susto.

    Mas também não sou santo e faço merda, e sabe se lá como, só consegui cair sozinho, e parado até agora.
    hahaha

    Eu preciso mudar, e sei que as pessoas precisam, mudar, todos precisam, ou o transito vai seguir sendo esse caos que já é.

    Meu irmão foi nesse evento, não sei se ele conhecia o cara que morreu, acho que foi mais pelo protesto, já que ele passa por sustos diariamente em sua bike.
    Eu sei que ele anda que nem um doente pelas ruas, já vi ele pedalando, e um ato imprudente dele com o ato imprudente de outro motorista pode acabar dando merda, da mesma maneira que um ato imprudente meu com o ato imprudente de outra pessoa, também pode dar merda, tanto pra mim, como para algum pedestre, ou motorista.

  2. E quanto aqueles ciclistas que cruzam sinal fechado, fazem conversões proibidas, andam no contra-fluxo em ruyas e avenidas inclusive por sobre viadutos, pedalam por sobre as calçadas atrapalhando o fluxo dos pedestres, xingam quem se atravessa em seus caminhos, ninguém vai falar nada?

    • Eles deveriam ser abordados pela EPTC sim e até multados em alguns casos que mencionaste.

      Mas lembrando, o artigo é sobre um ciclista experiente que morreu. Muito provavelmente por excesso de velocidade do taxista.

    • Sou ciclista e estive presente na homenagem ao Joel. Não faço parte de nenhum “grupo”, felizmente trabalho próximo de casa e, apesar de ter carro, a maioria das vezes opto por ir de bicicleta. Gosto de passear com a minha esposa nos finais de semana nas ciclovias e orla do guaiba. Nunca havia participado de uma pedalada dessas mas, todos os dias vejo que há maus motoristas e claro, como tu mencionastes, maus ciclistas. Todos esses merecem ser orientados para um trânsito mais seguro. Há ótimos motoristas, e há ótimos ciclistas. É possível que todos que utilizam o trânsito tenham respeito um pelo outro. Paulo temos que acreditar que o ser humano é capaz de mudar. Se eu ficar irritado por um motorista ou ciclista irritado, isso não vai levar a nada. Repensar a maneira de agir, de pedalar, dirigir, se comportar e se educar é uma evolução para o ser humano.

      Eu tenho o direito de ir e vir, Oscar, e infelizmente a minha opção de deslocamento é, como tu menciona, infernal. Mas eu preciso acreditar que é possível um mundo melhor (é clichê, mas me move). Se não, seria mais uma pessoa que não pensaria em ligar um carro para se deslocar 2km. A homenagem ao Joel foi muito bonita, segundo a EPTC éramos em 1500, e estávamos unidos pela mesma causa: “Poderia ser eu, poderia ser um amigo, poderia ser meu marido ou minha esposa”.

      • Concordo com você . Fizestes uma avaliação bastante correta. Fiz a observação apenas à titulo de observação do dia a dia. Também sou ciclista, e muito me incomoda quando vejo outros ciclistas agirem daquela maneira. Abraços.

  3. “Ao chamar o mais fraco de suicida (em vez do mais forte de homicida ou não chamar ninguém de nada) tu tá, concordando ou não, passando a ideia que as vítimas que tem que sair das ruas.” Não profiro imperativos categóricos; eu devo, tu deves ele deve… Cada um tem seu livre-arbítrio, apenas argumentei, baseado no nosso cotidiano que ciclistas arriscam a vida ao compartilharem com muita proximidade, o trânsito com os carros. Jamais disse que devem sair das ruas. Só acho que é bem perigoso pra eles. Só isso, entendeu? Eu teria muito medo de pedalar pelas nossas ruas e ciclovias. Já tenho medo de sair de carro, imagine montado num estrutura ínfima, frágil como uma bicicleta. Em tempo; motoristas são homicidas em potencial, é óbvio. Um carro é uma arma nas mãos erradas….todos sabemos disso….o que demonstra que ao menos, na disputa por espaço entre bicicletas e automóveis, só um lado mata e o outro morre. Já entre carros e caminhões, o grandalhão leva a melhor. Foi só isso o que eu escrevi. É uma análise isenta sobre os riscos inerentes do nosso trânsito. Não estou aqui para oprimir ciclistas nem proteger motoristas….apenas estou comentando que sempre o veículo mais frágil leva a pior….afinal de contas, vivemos na lei das selvas.

    • Meu caro, quando escrevemos pouco importa o que queres dizer, o que importa é o que escreveu de fato. Mas enfim, entendi teu ponto. Nesse teu comentário acho que ficou bem claro.

      Como dizia um gerente meu, o óbvio precisa ser dito 😉

      • “Como dizia um gerente meu, o óbvio precisa ser dito”. Mais ainda; O óbvio precisa ser dito da maneira mais óbvia possível, caso contrário sempre aparecerão pessoas incapazes de entender a obviedade ululante.

      • Felipe…desta feita você superou-se. “Não importa o que queremos comunicar, o que interessa é o que está escrito.” Cara, na boa….sem comentários.

      • Claro, eu posso escrever “tu é um suicida”, mas se o que eu quis dizer é “ô meu, eu tenho receio de pedalar na rua, saca?” azar é de quem não entende a minha intenção.

  4. existe uma cidade na Suécia Upsala que não me fale a memoria tem universidades e o grande meio de transporte é bicicletas e adivinhem existe um alto numero de acidentes entre elas mesmo. Eu só uso transporte coletivo e quando ganho alguma carona em automovel fico arrrepiado de ver como as pessoas procedem no transito sejam carros,motocicletas ou bicicletas.Não estou falando que as pessoas devem perecer pelos seus atos mas todo cuidado é pouco,é muita falta de respeito reciproco e isto me parece ser tipico da sociedade brasileira.O que acontece no transito acontece nos governos, nas lojas, nas escolas, nas ruas,é um Deus nos acuda e vai ficar cada vez pior pois as leis são frouxas e o povo não ta nem ai.

    • Exatamente, Renato. O trânsito é apenas uma amostragem da nossa natureza. O nosso caráter permeia cada átomo do nosso cotidiano.

    • A diferença é que a Suécia é o país com menos mortes no trânsito no mundo, o Brasil é dos que mais tem. Acidentes sempre vão acontecer, a diferença é a quantidade.

      Mas enfim, claro que a cultura é geral. O cara que corre a 100km/h em rua local com seu carro vai descer dele, subir em uma bicicleta e furar sinal vermelho.

  5. Pois então, Ricardo. Quando eu digo que quase todo mundo por aqui berra uma coisa e faz outra, me acusam de encher o saco, de não fazer nada, de apoiar a violência e coisas similares. Cinismo e falta de autocrítica é um troço recorrente por aqui. Quanto mais um povo é cretino, maior é a capacidade dele se fazer de vítima.

  6. Ciclistas, pedestres e motoristas continuarão morrendo todos os dias, simplesmente porque o Brasil, mormente Poa, é um lugar hostil do ponto de vista comportamental. Somos uma nação de corruptos e mal educados. Podem fazer um milhão de Atos, manifestações, passeatas, bicicletadas e afins. A vida segue e a nossa natureza dita o ritmo dos acontecimentos. Em Porto Alegre ciclistas são suicidas. Eu fico apavorado ao vê-los disputando espaço com os automóveis. Coisa de quem quer fortes emoções.

    • Atos, manifestações, passeatas, bicicletadas e afins, não adiantam? Melhor é não fazer nada então?

      Simplesmente assistiremos nossa sociedade se deteriorar enquanto vegetamos passivamente?

      Ainda bem que a maioria dos cidadãos pensa diferente do Sr. e busca colaborar e tentar construir uma sociedade melhor. Os bons hão de vencer!

      • Há um vício de origem na sua assertiva. “Ainda bem que a maioria dos cidadãos pensa diferente do Sr.” Se isso fosse verdadeiro, então não haveria motivo algum para Atos e afins, pois o trânsito seria civilizado. A sociedade brasileira é o que é, e o resultado é o que vemos no cotidiano. O que ocorre é algo totalmente diferente do que você afirmou. Na verdade, a maioria dos cidadãos DIZ que é civilizada e educada. Eis a questão! Todo magano vende alma pura. Você já leu ou ouviu alguém dizer que é mal caráter? E não adianta dizer que apenas uma minoria de cidadãos é a responsável pelas mortes no trânsito. Errado! A grande maioria de nós burla regras de trânsito e dá uma figa pros outros, uns em maior, outros em menor escala. A incivilidade e a permissibilidade das leis são altamente contagiosas. No trânsito praticamente 100% é contraventor. É lei da selva. A cultura é a seguinte; já que não tem punição e os outros passam por cima de mim, então eu vou fazer o mesmo o que os outros fazem. Não é assim que funciona no dia a dia?
        PS. Não estou incluindo as exceções à regra, por motivos óbvios. Meu comentário é dirigido à grande maioria dos cidadãos….que é o que interessa à análise social. Nossa sociedade é eivada de más condutas…em todas as áreas.

      • Oscar, concordo que a maioria é mal educada e não assume mesmo. Mas ainda assim não podes pensar que nada muda né? O machismo mesmo já diminuiu muito nas últimas duas gerações devido a trabalho de formiguinha de mulheres corajosas e homens que as apoiaram.

    • É, o melhor é não fazer nada e ficar enchendo o saco de quem tenta, a partir do tablet, sentado no shopping de preferência.

      • Não condeno nem invalido manifestações que não prejudiquem a sociedade. Como diz o ditado, “Quem corre por gosto não cansa.” Não encho o saco de ninguém, caro Felipe. Apenas debato os assuntos e emito minhas opiniões. Novamente você imputa a minha pessoa coisas indevidas. Relembro a todos que isto é um blog, ou seja > lugar para teclar opiniões. Eu nunca escrevi ou escreverei que você enche o saco dos outros. O que posso fazer é discordar das suas opiniões, só isso.

      • Tu me chamou de suicida, como não enche o saco de ninguém?

    • Outra: esse argumento que são suicidas por exercer seu direito de usar a via é rasteiro e só serve para APOIAR a cultura de violência (por mais que sejas contra).

      Eu te recomendo uma leitura sobre essa tendência de pessoas não violentas justificarem a violência, houve estudos sobre o assunto: http://www.theguardian.com/lifeandstyle/2011/nov/11/oliver-burkeman-just-world-bias

      • Vou desenhar pra você entender melhor. Eu disse que ciclistas são suicidas em potencial, porque dividir espaço com motoristas (do jeito que são) nesse trânsito infernal é sempre um ato de alto risco de vida. Foi por isso que eu disse que fico arrepiado de ver a coragem dos nossos ciclistas. Eles colocam-se em grande perigo. Será que incitei a violência com isso? Cara…pensa melhor antes de interpretar segundo a tua peculiar e capenga hermenêutica. Think better.

      • Suicida mesmo é a maioria que anda de bike na rua sem capacete (não sei se foi o caso do Joel ou não, não vem ao caso), porque basta o retrovisor de um caminhão a 50km/h bater na parte de trás da cabeça pro sujeito parar no HPS, na melhor das hipóteses. Aí, quando alguém diz isso, a resposta geralmente é no sentido de que o uso do capacete não está em lei. Engraçado que o sujeito muitas vezes reclama da infinidade de leis que temos no país, mas justifica sua falta de proteção pessoal pela falta de previsão legal.

      • Oscar, tu não leu o artigo né? Por que se tu lesse tu ia entender o que eu quero dizer, pela tua resposta tu não entendeu nada. Não importa se tu acha que eles são suicidas ou não. Ao chamar o mais fraco de suicida (em vez do mais forte de homicida ou não chamar ninguém de nada) tu tá, concordando ou não, passando a ideia que as vítimas que tem que sair das ruas. Ou as mulheres que se vistam adequadamente.

      • Ricardo, tenho certeza que tu estás certo. Capacetes fazem milagres, os motocilistas que os digam (são os que mais morrem no trânsito). Mais uma vez, a falta de uso um dispositivo que tu considera importante não explica/justifica a morte de alguém. Posso culpar todos mortos dentro de carro por não andar a 10 km/h, não ter abs, sei lá.

        E detalhe: sim, eu uso capacete.

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