DENÚNCIA: Fechar? Alvo de Bolsonaro, Ceitec é único na América Latina a fazer chips…

Sem tempo, irmão

  • Bolsonaro autorizou a liquidação do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada
  • O Ceitec é a única empresa da América Latina capaz de produzir chip no silício
  • Estatal, conhecida como empresa do chip do boi, atua em diversas áreas de tecnologia e poderia produzir equipamentos para o 5G
  • Liquidação ainda não está confirmada, já que o PDT ajuizou ação junto ao STF
Ceitec, estatal brasileira que produz semicondutores e chips para diferentes segmentos. Imagem: Reprodução / Ceitec SA

O presidente Jair Bolsonaro editou decreto na quarta-feira (16) que autoriza a liquidação do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), empresa que ficou conhecida como “estatal do chip do boi”. Mas essa alcunha chega a ser pejorativa perto da capacidade técnica do Ceitec: a fábrica é a única da América Latina capaz de produzir chip no silício, do começo ao fim. Ali são feitos diferentes tipos de chips, etiquetas eletrônicas e sensores — os usos mais populares são as etiquetas do sistema de pagamento automático de pedágios e estacionamentos, e a identificação de produtos, gado e medicamentos por RFID (circuito integrado que não requer bateria).

Milhares de chips desse tipo, feitos com tecnologia 100% nacional, já foram vendidos pela empresa. “Temos sofrido bastante com essa história do chip do boi, é meio pejorativo. As pessoas precisam saber que menos de 1% do nosso faturamento vem disso”, explica Rodrigo Palmieri, especialista em tecnologia eletrônica avançada e gerente do Ceitec. “Temos capacidade de pegar o silício virgem e nele crescer as estruturas e fazer o processo físico-químico necessário para no final construir um circuito integrado que funcione.”

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MAIS SOBRE ESTE ASSUNTO:

O grande negócio de Paulo Guedes com o CEITEC, por Luis Nassif

A proposta de Guedes é esdrúxula. Vende os equipamentos da fábrica. E transfere a área de projetos, com todos os cientistas envolvidos, para uma fundação sem fins lucrativos. Tudo isso sem chamar a atenção de ninguém, sem chamamento público, sem divulgação ampla.

Luis Nassif -23/12/2020

O caso CEITEC (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada) é a comprovação eloquente das razões para o subdesenvolvimento brasileiro.

É a primeira fábrica de microprocessadores do país. Trata-se de um setor essencial para a competitividade do país. Hoje em dia, quase todos os setores da indústria dependem dessa tecnologia para avançar, entrar na indústria 4.0 ou 5.0. Discute-se a introdução da 5G na telefonia local. Chips servem para desenvolver eletrodomésticos inteligentes, montar sistemas d identificação de veículos, fazer inventário de produtos, criar documentos eletrônicos, fazer rastreio animal.

O CEITEC foi montado em 2008 sob a direção de renomados cientistas. A primeira parte do trabalho consiste na montagem de equipes, geração de conhecimento, desenvolvimento de patentes, até entrar em voo cruzeiro.

Cumpriu a primeira fase do projeto competentemente. Montou um quadro de mestres e doutores. Muitos deles foram contratados pela Apple, Intel e outros fabricantes mundiais de chips.

Quando estava em vôo cruzeiro

Como estatal, o mercado do CEITEC era o setor público. E seu primeiro grande contrato era a confecção de chips de passaportes. A partir de 2016, deveria fornecer os chips para a Casa da Moeda. Já se estava em pleno governo Temer e a Casa da Moeda recusou. A alegação do presidente é que ela adquiria a carteira com o chip já montado razão para fechar contrato com um fornecedor estrangeiro.

O presidente, em questão, é um dos muitos quadros que ascendeu a cargos relevantes com a ajuda do Supremo Tribunal Federal, da mídia e da Lava Jato, visando mudar definitivamente a política no Brasil. Tratava-se de Alexandre Borges Cabral, indicado pelo Centrão do notório Valdemar da Costa Neto.

Em junho passado, foi indicado para o Banco do Nordeste. Aí afloraram as suspeitas sobre seu trabalho à frente da Casa da Moeda.

Segundo o Estadão,

Auditores atribuem a Alexandre Cabral “possível ato de gestão temerária” na presidência da Casa da Moeda e o descrevem como um dos “potenciais responsáveis” por prejuízos em contratos firmados durante sua gestão. 

As acusações eram de contratos ruinosos com as empresas Sicpa e Cetim para a operação do Sistema de Controle de Bebidas e Rastreamento da Produção de Cigarros, que exigem uso intensivo de semicondutores. As empresas receberam R$ 11 bilhões em contratos. E, segundo relatório do Tribunal de Contas da União, as empresas “eram réus em notória ação penal por fraudes a licitações”.

Aliás, no mesmo ano, a Casa da Moeda – sob controle do governo Temer – suspendeu a produção de passaportes, porque o fornecedor entregou produtos com defeitos

O caminho encontrado pela CEITEC foi buscar mercado no setor privado.

Nesse período desenvolveu chips para cartuchos de impressora, etiqueta eletrônica para ser embutida em pneus de caminhões, etiquetas para a Vale gerenciar ferrovias, chips para o Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos etc.

Nos últimos anos, o faturamento da CEITEC vem dobrando, de R$ 3 milhões para R$ 6 milhões, depois para R$ 12 milhões, cifras inexpressivas, por enquanto, mas demonstrando o potencial de que dispõe, especialmente se o setor público voltasse a adquirir seus produtos. Muitas empresas novas alavancaram seu faturamento com os chips produzidos.

Mesmo assim, o inigualável Paulo Guedes resolveu liquidar a empresa, alegando não ser rentável.

O modelo apresentado é um primor de manipulação para negócios obscuros.

O CEITEC tem uma área de desenvolvimento de produtos e outra de fabricação de produtos. A fábrica tem equipamentos com o tamanho exato para os novos chips da tecnologia 5G.

A proposta de Guedes é esdrúxula. Vende os equipamentos da fábrica. E transfere a área de projetos, com todos os cientistas envolvidos, para uma fundação sem fins lucrativos. Tudo isso sem chamar a atenção de ninguém, sem chamamento público, sem divulgação ampla.

Mais que isso, o documento que propõe a extinção da CEITEC não tem nenhuma assinatura dos 6 representantes de governo que participam do programa de desestatização..

O resultado é óbvio. Um esperto qualquer adquire a fábrica pelo preço dos equipamentos – não do conhecimento acumulado, e mantem os funcionários. Todo o valor intangível – conhecimento, métodos de produção, patentes – se perde. Depois, vai até a tal fundação e recontrata os engenheiros ali acantonadas. Isso se as grandes multinacionais do setor já não tiverem levado embora.

JORNAL GGN



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18 respostas

  1. Mesmo que não vendesse 1 chip, ainda assim seria útil considerando que os recursos fossem utilizados de forma responsável em pesquisa relacionada a chips. O dinheiro público ali gasto provavelmente traria melhor retorno do que a maior parte do dinheiro que vai para as universidades federais bancar cursos gratuitos inúteis, geralmente na área de humanas.

  2. Conforme os principios liberarais cada um deve trabalhar no que é “sua vocação” no nosso caso seria vender bilhoes de KG de materias primas a preço de banana e comprar produtos acabados muito mais valorizados de volta.

  3. “Nesse período desenvolveu chips para cartuchos de impressora, etiqueta eletrônica para ser embutida em pneus de caminhões, etiquetas para a Vale gerenciar ferrovias, chips para o Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos etc.”

    Tudo que pode ser facilmente comprado da China por centavos, sem a necessidade de ficar alimentando esse elefante branco.

    • e nós vendendo soja a centavos o KG pra comoprar chips a “centavos”. Apesar do valor de um chip ser “barato” desenvolver a técnologia adequada (o projeto) é caro. Nao pense que vao fazer um projeto gratis e cobrar só pela venda dos chips a centavos…

      • Vendemos Soja a centavos e semicondutores da China porque o estado brasileiro retira dinheiro da cadeia produtiva, que no caso dos semicondutores é super longa, para dar para a produção de soja. A citar:

        Crédito rural
        Financiamento de implementos agrícolas
        Luz elétrica subsidiado para irrigação e demais usos
        Produtor rual não contribui para o INSS
        Redução de uma série de impostos

        Não temos vocação para soja ou falta capacidade para semicondutores. A indústria é vampirizada pelo estado brasileiro, para pagar uma série de regalias para setores específicos.

        A solução não é sustentar um elefante branco, mas sim equiparar os setores para que o país de fato desperte sua vocação.

        • O – e compramos semicondutores da China

        • Talvez voce entenda pouco do tema. Subsidio agrícola existe em todos os países, e na maior parte deles sao muito maiores do que no Brasil.
          Questiono se “credito rural” e “financiamento de implementos agrícolas” seria subsidiado atualmente, dado que a taxa cobrada ao produtor gira entre 8-10% enquanto o governo pega emprestado a 2%. Gerando uma arbitragem positiva ao governo. As taxas sao menores no pronaf, que atende pequenos produtores de agricultura familiar, nesse caso a justificativa eh justiça social, e acho que aqui podemos sim usar o termo “subsidio”. Obviamente deixar de cobrar impostos abusivos nao eh “subsidio”. As outras questões penso que nao vale a pena comentar.

          • Se há outros países dão subsídios, não quer dizer que esse seja correto. A Nova Zelândia é exemplo disso.

            Se os juros cobrados pelo governo do agricultor são menores que os valores de mercado, é sim um subsídio, além do mais muitas desses empréstimos são perdoados por n motivos.

            O meu ponto é justamente os impostos em cadeia que matam os setores que dependem de uma longa cadeia de produção, semicondutores por exemplo, em detrimento de impostos mais baixos para setores específicos: Lembra dos “campeões nacionais”? Lembra do PAC da logística com o programa pró-caminhão a juros de 2% a.a? Lembra da isenção do IPI para montadoras para criar o PIBão?

            Agricultura foi só um exemplo porque a comparação era com a soja.

  4. Olha a minha opinião não decide nada,entretanto luis nassif e Estadão eu não temho a menor confiança no que eles falam,se não me engano esta empresa foi colocada a venda e ninguem apareceu para comprar,por favor corrijam me se estou errado. Mesmo sem entender nada de 5 G eu creio que quando for instalafa vai ser pacote fechado,vão trazer tudo pronto de fora. Esta area tecnologica é muito complicada e o Brasil ficou para trás. Não é a mesma coisa mas há muito tempo eu tinha uma prima que morou na Australia e seu marido trabalhava em um refinaria da Shell que fechou,conversando com ele eu perguntei e agora a Shell fica só com uma refinaria na Australia e ele me disse não tem problema é mais barato comprar gasolina refinada em cingapura,se não me falhe a memoria,do que refinar aqui.

  5. Com todo o respeito, mas essa estatal é uma completa inutilidade. Ela é como o bar do marombado filho de papai que sempre fecha no vermelho, mas diz que gera emprego e que está em crescimento. Ocorre que sem o dinheiro do papi, desaparece.

    • Lê a matéria toda pelo menos.

      • Eu li, é narrativa edulcorada dos interessados na manutenção dessa estrovenga. Veja a live do Wesley Cardia sobre o tema. O Estádio de Manaus não é tão inútil.

        • Sem contar que é pessimamente redigida.

          • Ok. De qualquer forma postei pra discutirmos de forma saudável.

            • Sim, rende uma excelente discussão.

              No meu Facebook eu comentei o tema e escrevi o seguinte:

              “O governo brasileiro decidiu pela extinção do elefante branco, pois não seria possível privatizá-lo: ninguém seria louco de comprá-lo. De pronto assumiria um déficit de 190 milhões. Em 12 anos o CEITEC já consumiu 1 bilhão, registou miseras 33 patentes*, nenhuma delas viável comercialmente, segue dando prejuízos milionários, dois dígitos por ano, e o pouco que consegue gerar de riqueza deriva de reserva de mercado fornecendo para o Estado 10 vezes mais caro. É a fábrica de brinco para boi mais cara do mundo.

              Claro que no imaginário fantástico dos funcionários e daqueles ligados à empresa tudo é bem diferente. É o ponto que mais me interessa, o discurso e a crença de que ele é verdadeiro: empresas como o CEITEC são ineficientes, dão prejuízo, fazem transferência de renda dos pobres para os ricos e tiram recursos escassos de áreas socialmente mais importantes.

              Mas no discurso edulcorado elas estão a dois passos do sucesso, basta aumentar os investimentos** e conhecer o estudo da Universidade Federal de Sei Lá Donde que diz que a cada um real investido outros dez brotam das paredes. Toda área ineficiente e socialmente injusta tem um estudo de algum heterodoxo para chamar de seu. O pessoal que mama na Lei Rouanet tem o seu estudo que diz que a cada um real investido… “E geramos empregos”, dizem. Um professor ligado ao CEITEC disse que a empresa só precisa de 250 milhões. Agora vai. 12 anos depois e eles nos dizem que precisam de mais dinheiro, pois agora tudo será diferente.”

              O Thomas Sowell tem uma frase excelente: “Comparado com o quê?”

              “O Ceitec é a única empresa da América Latina capaz de produzir chip no silício”
              Até aí morreu Neves

              “e poderia produzir equipamentos para o 5G”

              Poderia. O Bressan poderia jogar na seleção brasileira.

              ““Temos capacidade de pegar o silício virgem e nele crescer as estruturas e fazer o processo físico-químico necessário para no final construir um circuito integrado que funcione.””

              E isso é bom? Quanto custa? Quantas centenas de milhares de empresas existem na Ásia que podem fazer o mesmo por 10% do valor?

              “Quando estava em vôo cruzeiro”

              Subsídio do governo?

              “Isso se as grandes multinacionais do setor já não tiverem levado embora”

              Não quero ser deselegante, mas se fossem tão peculiares, já teriam ido. Custo a crer que o mercado internacional não tenha profissionais tão ou muito mais qualificados e que já estejam integrados na cadeia global de produção. O cara trabalha na Samsung fazendo processador de 5 nanômetros!

      • Pq não apareceu neste blog a inauguração da nova ponte do Guaíba? Impossível isso passar desapercebido.

    • Nem a reportagem nem o Nassif comentam os prejuízos anuais e o sumidouro de capitais que esse Ceitec é. Aí já foram investidos 900 milhões. A receita é 11 milhões e o prejuízo anual, 40 milhões. E há muitos super salários acima de 30 mil reais.
      O Brasil poderia ter fábricas de chips gerando impostos, mão de obra especializada e engenheiros capazes de replicar a tecnologia assim como a China e a Coréia tem, por exemplo, caso o governo não inviabilizasse com tanta burocracia e impostos.
      A última coisa de que necessitamos é uma estatal deficitária e politicamente loteada.

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