Veterinária Gaúcha – este prédio tem que ser restaurado

Este é o prédio da Veterinária Gaúcha, localizado na Av. Júlio de Castilhos, esquina Rua Coronel Vicente, em frente ao futuro hotel da Rede Accor que será construído ali.

É um dos prédios que deve ser restaurado com certa urgência com a finalidade de revitalização do centro, pois atualmente é uma vergonha passar na sua frente. E não é um prédio abandonado. O que o proprietário quer ? Só lucro ?

Foto: Gilberto Simon (via celular)



Categorias:Restaurações | Reformas, Retrofit, Revitalização do centro

Tags:

57 respostas

  1. Esse prédio é um símbolo da cara comunista de Porto Alegre, sucursal de Havana no Brasil.

    • A Marcopolo fabrica um modelo semelhante, mas que tem sido destinado basicamente à exportação. A meu ver seria viável ter ônibus urbano de 2 pisos em Porto Alegre, mas teria que ser revista a questão da fiação em alguns trechos.

  2. Chama um proprietário cubano se tu quer um que queira algo diferente do lucro.

  3. A maua é cheia de prédios antigos e belos, mas são todos estacionamentos…

    o problema é que não passa gente a pé ali, só carros, até por que não tem nada ali.. com cais, isso vai mudar, mas o centro vai precisar de estacionamentos urgente, caso acabem com essas garagens, as ruas ja não tem mais vagas, se não pensarem nisso, o centro morre.
    Volta a ser aquela xinelagem toda…

    E meu sonho é um dia abrir uma balada na maua, num prédio antigo ali… haha.. acho show.. 😀

    • Mais estacionamento no Centro, sério? Sorry, não acho que deve ser dada qualquer prioridade a isso; o centro é o bairro de Porto Alegre onde é mais fácil chegar por transporte público. Liberar estacionamentos lá é seria um carrocentrismo temoroso. Quem insiste em ir pro centro de carro tem mais é que pagar os olhos da cara, pois é LUXO, não necessidade.

      O que tem que ser feito, em conjunto com esta revitalização, é a melhoria da qualidade do serviço de transporte público da região. Aquele negócio ridículo de o ônibus sair do corredor justo quando está quase chegando no centro, por exemplo, tem que acabar.

      • Segundo a nossa cultura (?) há dois obstáculos nesse sentido: 1) a qualidade do transporte público; 2) mesmo com oferta suficiente de transporte público, a maioria não quer abrir mão da comodidade e da idolatria ao seu carrão.

        • Com certeza. Tenho ojeriza a pegar ônibus. Quanta palhaçada esse negócio de ficar valorizando transporte coletivo. Claro que é bom, mas para quem tem condições não fiquem achando que vai deixar de sair no conforto do seu carro para ficar andando de ônibus lotado e fedido, ficar andando no sol até o ponto ou aguardando o busão na chuva.

    • Ninguém vai transitar pela mauá por algumas peculiaridades, como a falta de calçada do lado direito pra descer gente do ônibus. Aquela via é quase uma expressa, não é pra ter nada nela. Que façam construções com frente pras vias laterais, porque a mauá realmente não tem chance.

      • É indiscutível que a Av. Mauá é imprescindível, uma vez que ela é uma via arterial que faz parte primeira perimetral. Isto dito, creio que, muito melhor do que se conformar com a feiúra da avenida e virar tudo para as ruas perpendiculares (e de costas para o Guaíba), temos que buscar uma solução que devolva um aspecto mais humano ao lugar. Isso é fundamental para a revitalização do Cais Mauá funcionar a contento, pois tem que haver conectividade urbana entre o empreendimento e o centro; a proposta até agora sugere que seriam construídas passarelas para este fim, mas eu sou da opinião que isso não é suficiente e não é elegante.

        A conectividade tem que ser muito mais pervasiva do que isso! Temos que ter um cenário onde as pessoas de fato possam circular no eixo da mauá, indo de um prédio renovado ao outro, sejam os prédios do lado centro ou os prédios do lado cais. Eu tenho uma ideia, reconhecidamente cara, para isso: construir um “segundo andar” na avenida, dedicado exclusivamente a circulação de pedestres e ciclistas. Essa estrutura iniciaria perto da rodoviária e se estenderia até as imediações Palácio do Comércio. A estrutura poderia ser construída como um pilotis com pilares à esquerda e à direita da avenida, e já não precisaria ser tão “pesadona” como viadutos convencionais, pois não haveria circulação de veículos pesados sobre ela. A “laje” deste pilotis se projetaria além do bordo direito da avenida até o muro da Mauá, mas não se apoiaria nele, já que ele não é preparado para essa carga.

        No aspecto estético, pode até parecer um atentado às fachadas dos prédios que já existem ali, mas a verdade é que nenhum prédio tem uma fachada que preste neste trecho da Mauá. A objeção clássica às vias elevadas, a saber, a feiúra delas quando vistas de baixo, estaria em parte resolvida pelo fato de que embaixo só haveria circulação de carros; para quem olhasse do cais, a estrutura estaria um pouco acima do muro, e seria acessível por diversas escadas e rampas; para quem olhasse a partir das vias perpendiculares, a visão seria dominada por uma escada ou rampa que daria acesso ao pilotis. A única exceção seriam uma ou duas dessas vias, que seriam ligadas na Mauá permitindo saída da avenida.

        Uma coisa bem parecida foi feita em Nova Iorque, aproveitando-se de uma estrutura ferroviária que havia sido desativada. Chama-se High Line Park e é fantástico[1]. É um modelo ótimo para esta área; podemos reproduzir a estrutura metálica e estilo longitudinal – com a vantagem de que aqui seria um pouco mais largo.

        [1] http://en.wikipedia.org/wiki/High_Line_Park

      • É isso aí Márcio, ande de carro e pague estacionamento. Na minhas opinião quem quer andar de carro, acha que o transpote coletivo só anda lotado e é fedido tem mais é que pagar estacionamento, e bem caro.
        No centro de Porto Alegre não deveria haver estacionamento nas ruas muito menos na Pça XV. Deveriam circular apenas os taxis, lotações e os ônibus que levam o povo que não pode se dar o luxo de andar de carro todos os dias entupindo a cidade.

  4. “Veterinária Gaúcha – este prédio tem que ser restaurado”…apenas esse?
    Temos inúmeros lugares na cidade que merecem não uma simples e banal “restauração” de um edifício, mas sim uma mais ampla “reciclagem”- que significa adequação a novo ciclo, ou época.

    Novamente, fala-se no simplismo da intervenção do estado como panacéia, este mesmo que trata mal das escolas, creches, infra-estrutura. Sem uma repactuação de direitos e deveres de cidadãos-proprietários e poder público, com a mediação da sociedade e de sua representação amplo senso, não há solução que faça sentido.

    Caberia o estudo de mecanismos de incentivo, como troca por índices construtivos, e em casos especiais até mesmo renúncia fiscal temporária, de modo a alavancar transformações significativas de nossos espaços públicos (aquele tão desconsiderado, mas que é configurado pelas edificações e vitalizado pelos usos das mesmas) a partir de intervenções pontuais nas edificações. Um programa amplo, enfim um planejamento não é mesmo?

    • De acordo. Não basta restaurar, tem que revitalizar; tem que ser uma ação concertada, consistente, que mude a característica da área em direção a algo mais humano. O município com certeza é um ente interessado nisto, então não seria tão absurdo ele estabelecer algumas metas e conduzir o processo.

      Quanto as formas de executar, pode ser através de incentivos como sugeriste ou através de desapropriação por domínio eminente. Algumas cidades[1] aplicam este último modelo, construindo ou fazendo retrofit de edificações visando um determinado uso, coordenado às possibilidades de transporte do local. Para esta região, a prefeitura poderia muito bem fazer o seguinte:

      1) seleciona os prédios que não têm salvação e vende índice construtivo nos seus respectivos terrenos, atraindo investidores para grandes projetos

      2) com o dinheiro do item anterior, desapropria os prédios salváveis e faz uma reforma/retrofit.

      3) com os imóveis reformados, aluga as unidades para o público em geral, dentro dos usos pretendidos; poderíamos aqui ter até um sistema de leilão

      Esse terceiro item é muito comum nos Estados Unidos; para vocês terem uma ideia, o World Trade Center pertencia à Autoridade Portuária de Nova Iorque e Nova Jérsei, que alugava o prédio para diversos fins.

      [1] http://www.streetsblog.org/2010/05/25/how-portland-sold-its-banks-on-walkable-development/

  5. Tem que multar proprietarios de imoveis nessas condiçoes exigir restauraçao.

  6. Na Júlio de Castilhos e na Mauá há várias construções utilizadas como estacionamento que são estão em estado lamentável. Trata-se de uma das regiões mais feias do centro de Porto Alegre.

  7. Talvez o proprietário queira vender, mas não consegue porque o imóvel possivelmente esteja tombado. Talvez o proprietário queira reformar, mas não tenha dinheiro.

    Mas as ideias colocadas aqui de desapropriação generalizada para satisfazer sonhos urbanísticos às custas do resto da sociedade soam autoritárias demais pra mim.

    • Mas ninguem aqui ta falando de expulsar ele de la com uma mão na frente e outra atras..
      E sim, de alguem comprar o lugar…

      Se não tem dinheiro pra reformar, e não quer vender, toma multa pra se esforçar mais…

      A questão é a segurança do povo que passa na região, e não a beleza e bla bla bla..
      Olha o que anda caindo de predios pelo Brasil, olha o que tem de fachadas com problemas em Poa..

      • Guilherme, eu estava me referindo à desapropriações, que não significam uma compra: o proprietário é obrigado a vender por um preço estipulado pelo município. Em uma simples compra/venda há negociações e a opção de vender ou não.

        E na maioria das vezes não é uma questão de não querer vender, é de não ter demanda mesmo. Prédios tombados têm tantas restrições e obrigações do proprietário que pouquíssimos se arriscam a encarar a bronca.

      • A segurança dos transeuntes está intimamente ligada à conservação da qualidade dos espaços públicos e fachadas. Isto é a Teoria das Janelas Quebradas[1], na qual Rudolph Giuliani baseou a revitalização de Nova Iorque.

        [1] http://en.wikipedia.org/wiki/Broken_window_theory

        • O ser humano só reconhece uma coisa: incentivos.
          Simplesmente o dono não reforma o prédio pois não tem incentivo para fazer isto… provavelmente acha que está ganhando mais dinheiro mantendo-o assim do que reformado.

          Não acho que propriedade deva ter “função social”, aliás acho que esta é uma das maiores porcarias que está escrita na nossa constituição, dando brecha para os maiores absurdos.

          Mas acho que a prefeitura poderia conceder incentivos fiscais para as propriedades melhores conservadas. Poderia dar por exemplo 25% no IPTU, ou algo do tipo. Preservaria o direito da propriedade ao mesmo tempo que traria os incentivos desejados.

      • Antony, me chamou a atenção essa frase tua: “desapropriação generalizada para satisfazer sonhos urbanísticos às custas do resto da sociedade”.

        Aí é que está, quando um prédio está desabando, como aquele que obrigou a prefeitura a bloquear a Riachuelo há tempos atrás o que aconteceu é exatamente o contrário: a maior parte da população ficou correndo risco de levar um tijolaço na cabeça ao passar por ali, a rua ficou fechada por dias, o prédio está horrível… tudo isso para defender o direito de propriedade de uma única pessoa. O esqueletão não é diferente disso. A maioria é que sai perdendo quando um prédio é abandonado.

        • Se o prédio está ameaçando as pessoas da rua o proprietário deve ser penalizado sim, mas onde eu queria chegar é que no caso de um prédio possivelmente tombado como este muitas vezes o proprietário fica sem saída, por causa da regulação imposta pelo município.

          Às vezes esses proprietários até esperam uma desapropriação indenizada já que os custos de manutenção obrigatórios e as restrições geradas pelo tombamento torna proibitiva a compra por qualquer agente privado.

        • Mas é exatamente a desapropriação indenizada que se defende aqui, não tomar a força.

          Até onde sei, prédios tombados ganham algum desconto tributário, não? Se não ganham acho que deveriam…

          • Até onde eu saiba na lei é pra ganhar, mas normalmente o estado não paga ninguém.

            Fora isso, de modo geral não acho benéfico um grupo de técnicos dizer o que deve ou não ser tombado, já que arte e valor histórico são coisas extremamente subjetivas e pessoais de cada um. Não vejo porque uma pessoa deva ser obrigada (normalmente os mais pobres) a financiar bens que apenas uma camada da população valoriza (normalmente os mais ricos). Um método que estou começando a propôr é a preservação através do financiamento colaborativo, ou “crowdfunding”, como escrevi em um dos meus últimos artigos.

    • Agora que eu li o disparate “desapropriação generalizada para satisfazer sonhos urbanísticos às custas do resto da sociedade”.

      Parece-me que tu tens os conceitos invertidos: o sonho urbanístico, se bem desenhado, trará um benefício intangível (mas inegável) a sociedade, na forma de aumento de produtividade, qualidade de vida e segurança. Não dá pra dizer que isso vai sair “às custas do resto da sociedade” quanto se trata de um ou outro proprietário sendo desalojado.

      Tu também erras, demonstrando uma visão limitadíssima de urbanismo, ao sugerir que as recuperações desses prédios são meramente badulaques estéticos que, por só interessarem os “frescos endinheirados”, deviam ser financiados por estes. É evidente que não se trata só disso. As sociedades desenvolvidas entenderam o risco que é largar as coisas abandonadas de qualquer jeito nas cidades, e que este “plight” deve ser corrigido antes que contamine suas vizinhanças de forma recursiva. É a base da teoria das janelas quebradas, com a qual Nova Iorque foi virada do avesso e revitalizada na década de 90.

      Poxa cara, eu sou defensor de liberalismo econômico e tudo mais, mas tem situações em que o Estado tem que justamente representar o interesse sociedade e dizer pro proprietário: “ó malandro, ou tu arruma essa merda que tá degradando a cidade e prejudicando todo mundo ou tu perde o propriedade”. Se eu sou um proprietário e sei que eu corro o risco desse tipo de prejuízo se eu não mantenho minha propriedade, é evidente que eu tentar ser mais responsável.

      Do jeito que tu põe, parece que o Estado vai sair desapropriando quarteirões e quarteirões todo mês, de forma completamente arbitrária sob o ímpeto de meia dúzia de arquitetos.

      • fmobus,

        Não sabia que o meu comentário geraria polêmica, mas como dizem: “quem tá na chuva é pra se molhar.”

        Me desculpe, mas és tu que erras em alguns conceitos de urbanismo, economia e legislação. Não sei se tens uma visão limitadíssima do assunto já que não tenho informações necessárias para tal julgamento. Se quiseres entender melhor minha visão de urbanismo para embasares a sua afirmação apontando possíveis erros didáticos fique à vontade em acessar o meu blog (renderingfreedom.blogspot.com).

        Enfim, não sei se tu sabes, mas para desapropriar imóveis o estado deve pagar uma taxa indenizatória aos proprietários, depois deve custear as despesas da reforma e, é claro, as despesas da máquina pública necessária para fazer isso acontecer. Esse custo é alto e é pago por todos moradores do município, quando o IPHAN não está envolvido e é custeado pelo resto do país – por isto quis dizer às custas da sociedade.

        Já conversei o suficiente com cidadãos mais pobres e tenho certeza de que a grande maioria deles tem outras prioridades em mente do que destinar os impostos que pagam à esse tipo de reforma, como saúde, educação e a sua própria moradia. Além do mais, como argumenta a Jane Jacobs no “Morte e Vida…”, imóveis antigos (mas não abadonados, é claro), normalmente são uma alternativa de moradia bastante viável em regiões centrais para as camadas mais pobres da população, sendo essenciais para a vitalidade de uma cidade. Ela argumenta de forma bastante interessante no livro que o que muitos planejadores vêem como regiões “mortas” são apenas mais pobres, onde acontece muita coisa o tempo todo, que é o caso de grande parte do Centro de Porto Alegre, completamente lotado durante o dia e com quase o dobro da densidade de residentes ao comprar com o Moinhos de Vento.

        Estes prédios, sendo habitados por moradores mais pobres provavelmente tem menos recursos mesmo para uma reforma, cabendo à decisão deles na minha opinião.

        Ainda, como comentei em outra resposta neste mesmo post, o proprietário pode estar sem saída de ação: para reformar um imóvel tombado é exigido uma enorme quantia de cuidados e restrições, que encarecem muito o processo. Sem dinheiro para enfrentar a burocracia e também sem compradores que querem abraçar este risco, o imóvel fica abandonado.

        Além disso, a própria limitação do Plano Diretor de usos e adensamentos, e os conflitos entre a legislação de acessibilidade do Código de Edificações com o Patrimônio Histórico restringe e muitas vezes impossibilita as possibilidades de retrofit e de investimentos privados para a recuperação destas áreas. O que a prefeitura têm feito, principalmente no 4º Distrito, é criar aprovações especiais com as incorporadoras, modificando um pouco estas regras para que exista viabilidade de projeto. Outra informação relevante é que o processo de tombamento no Brasil pode chegar até 20 anos (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/tombamento-de-imoveis-demoram-ate-20-anos), deixando estas propriedades em um limbo legal, sem ter como realizar estas reformas (talvez essa seja uma delas?).

        Ou seja, apesar da boa vontade dos planejadores e reguladores, muitas vezes eles inibem a ação dos agentes privados. Como as regras e particularidades de cada imóvel são muito específicas e complexas, a comunidade acredita que é “malandragem” do proprietário. Pelo contrário: o proprietário tem todo incentivo para cuidar da sua propriedade da maneira que melhor acredita, já que caso contrário é prejuízo direto no bolso.

        Quanto à revitalização de NYC, dou muito mais crédito ao processo natural de gentrificação que ocorreu desde a década de 60 do que as políticas de “limpeza urbana” do Giuliani. Uma das maiores “contribuições” dele foi acabar com o graffiti da cidade, para mim uma expressão artística urbana importante (hoje o graffiti nova-iorquino é extremamente valorizado) e colocar “criminosos” como usuários de maconha na cadeia. Além disso, lembre-se que os EUA enfrentavam uma severa recessão nos anos 70, com altas taxas de criminalidade e desemprego, saindo dela justamente nos anos 80 quando o Giuliani começou com essa história.

        Comentei sobre desapropriação generalizada já que sugeriste a desapropriação deste e de todos imóveis em estado semelhante na região (até onde eu saiba são muitos) caracterizando a ação de “generalizada” dentro do contexto do bairro.

        De qualquer forma, agradeço o comentário e ficaria feliz se desse prosseguimento!

        • Eu nunca afirmei que as desapropriações deveriam ser sem indenização (embora acredite que desleixados convictos devam ser penalizados). Eu entendo perfeitamente que a desapropriação de qualquer coisa que seja naturalmente incorre custos ao poder público.

          O problema que eu tenho é com o argumento “meu deus, estão jogando dinheiro numa futilidade!”. É necessário entender que, mesmo que financeiramente uma ação dessas possa ficar no zero-a-zero ou até mesmo dar prejuízo, as EXTERNALIDADES da reforma podem fazer o negócio valer a pena para a sociedade. O exemplo mais óbvio é o metrô: ele custa milhões para construir e necessita do lucro de décadas de operação para retornar o investimento. No entanto, se ele foi bem planejado, ele trará externalidades inúmeras: salvará tempo do dia-a-dia dos seus usuários, de forma que estes poderão fazer mais atividades produtivas ou ter mais lazer; conectará mais trabalhadores a mais locais de trabalho, diminuindo os atritos do mercado de trabalho; contribuirá com a redução da poluição do ar, ajudando a diminuir a incidência de doenças respiratórias; etc. Se formos somar todos esses ganhos, que se difundem naturalmente inclusive para os que não estão usando o serviço diretamente, não é de se duvidar que o investimento na verdade de pagou já nos primeiros anos da operação.

          Ao meu ver, este raciocínio que expus acima pode muito facilmente ser estendido para as intervenções do poder público com vistas a revitalizar setores degradados da cidade. O ganho não viria somente da segurança; se se aplicar um modelo como o “bairro de 20 minutos” abordado aqui no blog ontem, a diversidade de atividades da região por si só já pode dar fruto a uma economia local muito mais forte e conectada. É assim que são construídas comunidades vibrantes e prósperas.

          Com relação à utilidade dos imóveis antigos como moradia para as camadas mais pobres: concordo que este fenômeno acontece. No entanto, isso não deveria isentar tais imóveis de processos de revitalização e, também, não implica que a revitalização se traduza necessariamente num movimento de expulsão dos pobres do local. Não proponho colocar todos imóveis no mesmo saco e simplesmente sair desapropriando todo mundo, demolindo tudo, acabando com a comunidade existente. Pelo contrário, diferentes imóveis, em diferentes condições, em diferentes qualidades de usos merecem soluções diferentes.

          Aqueles em pior condição e abandonados poderiam ser desapropriados e posteriormente demolidos, dando espaço a construções de ocupação mais densa, isto é, prédios. Estes prédios serviriam não só como fonte de renda por aluguéis ou venda de unidades; eles poderiam ser oferecidos àqueles moradores que foram desalojados no processo como compensação. Já os imóveis que não estão tão mal poderiam receber incentivos para reforma e adequação de usos. Outros mais poderiam ser desapropriados e reformados, com seus eventuais moradores transferidos como compensação para os prédios novos anteriormente citados.

          Uma outra observação que deve ser feita: é fato que o Centro é mais denso que o Moinhos, sem dúvidas. No entanto, se você considerar os diferentes quadrantes do bairro, verá que esta ocupação não é homogênea: o setor à Oeste da Borges e ao Sul da Salgado são densamente habitados, e formam um ambiente qualificado para se morar; o setor entre o mercado e a rodoviária, embora pareça lotado durante o dia, não tem ocupação residencial forte: essa gente toda circulando, na verdade, é vítima do pavoroso sistema de baldeação à céu-aberto que nosso mal-planejado transporte público instalou naquele quadrilátero. Esta circulação acabou trazendo aquele comércio-povão que conhecemos, mas matou a vida da região como comunidade coesa. Uma revitalização deste setor é indissociável da reforma do sistema de transporte, e tem potencial para mudar o funcionamento diurno do setor; o meu sonho é ver ali instalados escritórios de firmas maiores, misturado com comércio vivo e residencias diversificadas. Nestes termos, me revolta muito aquela maluquice inflacionada que virou a Carlos Gomes: um distrito de “negócios” completamente artificial, com pouco suporte de comércio de rua garantindo o avivamento da superfície como vemos em NY ou até mesmo na Avenida Paulista.

          graffiti da cidade, para mim uma expressão artística urbana

          Eu tenho muitas restrições com essa visão. Não discordo que graffiti possa ser arte, mas a delimitação entre o que é graffiti-arte e graffiti-demarcação-de-território é bastante borrada. Eu não posso abrir um guarda-chuva e defender as duas coisas juntamente; permitir o graffiti-demarcação-de-território enfraquece a sensação de comunidade de um lugar, pois sugere que quem detém a área são gangues ou bondes. Talvez tenha existido um dia que, por desconhecer essa diferença, as cidades caçaram também o graffiti-arte, mas hoje em dia já se tem a noção clara da importância dessa separação – tanto que ainda existe graffiti-arte em Nova Iorque.


          Enfim, eu entendo teu ponto de vista, e gostei da abordagem do teu blog, vou adicioná-lo às minhas leituras. No entanto, te pergunto: qual seria o caminho para salvar o “quadrilátero do mal” que temos no Centro Histórico? Ou propões que ele não precisa ser salvo?

          • fmobus,

            Concordo com todo seu primeiro parágrafo até chegar na parte que tu limitas essas intervenções ao setor público e exigindo desapropriações e intervenções de cima para baixo, colocando o setor privado como incapaz, quando ocorre justamente o contrário. Não sei se leste com cuidado que eu escrevi, mas o setor público é justamente a principal barreira para a revitalização desses bairros.

            Quanto ao metrô se aplica a mesma lógica: dada a liberdade construtiva no final do século 19/início do século 20 em NY, o metrô foi construído por empreendedores privados, depois estatizado pela prefeitura. Em Tóquio as linhas de melhor eficiência são justamente as privadas. Já metrôs como o de Paris tem muitas estações depredadas e perigosas, não é pontual e sofre constantemente de paradas por motivo de greves. O Brasil é um caso clássico de administração pública, superfaturando obras públicas, envolvendo corrupção com construtoras privadas, linhas sendo subdimensionadas ou superdimensionadas e estações posicionadas por motivos meramente políticos, como interesses de alguns indivíduos ou de eventos como a Copa do Mundo. O estado, infelizmente, não tem grandes incentivos para fazer um projeto de qualidade e de longo prazo como tem os agentes privados à espera de um retorno lucrativo: se o retorno só virá em muitos anos, o planejamento obrigatoriamente tem que ser melhor ainda.

            Quanto aos imóveis abandonados, também reitero que estão abandonados por algum motivo, e este motivo normalmente parte do setor público. Investidores privados gostariam muito de poder investir nessas áreas, mas os terrenos ora tem severas restrições (como já comentei) ora estão presos na burocracia estatal (como também já comentei), à espera de um tombamento, à espera do judiciário resolver uma questão legal do proprietário.

            Concordo contigo em praticamente (senão todas) as qualidades que formam um espaço urbano. Só não entendo tua grande crença no estado para implementá-las, já que os incentivos que ele possui para tal são praticamente inexistentes – tu mesmo sabes que foram justamente os planejadores estatais do passado que deram forma à cidade que temos hoje. Aliás, recomendo os artigos do meu blog como leitura sobre este assunto, já que abordam justamente esta tangente entre a economia e a política com a arquitetura e a cultura.

            • Bom, acho que concordamos em discordar no aspecto da intervenção do Estado. Tu tens a visão mais na linha de Mises de que o Estado atrapalha sempre; eu me considero mais moderado, e acredito que existem sim situações onde convém que ele intervenha.

              Eu creio que faltam-nos instituições fortes, baseadas na busca do bem comum em lugares onde o mercado unchecked não consegue chegar; infelizmente, o que este país tem hoje como serviço público é um altar à burocracia cega, um cabide de emprego que desperdiça o potencial de milhões de cidadão ao lhes sentar em cargos estufados que não servem para nada. Existem estados eficientes, mas parece que eles só funcionam nas proximidades do círculo polar ártico; aqui no lado de baixo do Equador tá foda.

              • fmobus,

                infelizmente não podemos escolher pontualmente onde ele vai intervir, o estado é um pacote fechado e funciona do jeito que ele funciona hoje, gastando com pouco cuidado já que são recursos de terceiros, seguindo incentivos que não visam longo prazo e agradando a grupos de interesse organizados.

                Quanto ao alcance do mercado, sugiro que pesquises mais os motivos de porque ele não chega onde poderia, muitos que eu já comentei aqui mas que tu pareces não relevar com muita vontade. Verás em diversos rankings que os países que tu consideras com “estado eficiente” são os que mais respeitam a propriedade privada e com maior liberdade econômica, principalmente liberdade de empreender.

                mas gostei bastante da conversa. pra mim qualquer pessoa que fala abertamente que gosta de liberalismo econômico, fala mal do funcionamento estatal e ao mesmo tempo sabe quem é Mises já tá no patamar liberal (top 10?) da sociedade brasileira 🙂

                abraço!

                • Só para esclarecer: me expressei mal com o termo “alcance do mercado”. Eu me referia na verdade às situações onde o mercado não-checado é incapaz de atingir a alocação eficiente dos recursos e tende catastroficamente a posições infestadas por rent-seeking.

                  Eu sempre me considerei liberal, mas desde que comecei a cursar economia comecei a ter minhas dúvidas sobre a posição ultra-liberal de algumas correntes. Meu problema é que a argumentação dos ultra-liberais depende excessivamente da hipótese do mercado eficiente, que por sua vez só tem aplicação partindo do pressuposto de que há simetria de informação no mercado. São duas fragilidades: uma ao assumir uma coisa que nunca acontece – informação vai ser assimétrica, sempre; a outra está em assumir que a hipótese é verdadeira. Como sou formado da Computação, já sou naturalmente cético a hipóteses excessivamente mirabolantes, ainda mais considerando que uma dessas ronda a área desde sempre, sem resposta: a hipótese P=NP. Eu finquei minha posição cética depois do genial insight to Phil Maymin, que conseguiu demonstrar uma equivalência entre as duas hipóteses. A ideia é muito longa pra explicar, mas tem um vídeo super-didático dele explicando isso[1].

                  [1] http://www.youtube.com/watch?v=7iOJZZFDKpc

      • Essa discussão foi muito legal, mas acho que algumas coisas não foram mencionadas. Não sabemos o caso deste prédio, mas eu fico me lembrando de alguns daqueles prédios no entorno do esqueletão, com o mesmo estilo arquitetônico. Já entrei em alguns deles e sempre foram amplamente ocupados (portanto gerando renda para o dono) emuito mal cuidados. Por que será isso? Recentemente alguns foram reformados. Até que ponto as melhorias no entorno, principalmente a remoção dos camelôs é responsável?

        Não sei, depois de toda essa discussão acho que o melhor que o poder público pode fazer na região do prédio mencionado neste artigo é o que falaste, Mobus, arrumar o caos do transporte público do entorno. Fizeram um crime fazendo aquele camelódromo horrendo, perderam uma chance de fazer algo impactante.

  8. Se não me engano, foi nesse prédio que um bus bateu a alguns anos e pegou fogo.
    Ta até hoje as marcas do fogo e os tijolos aparentes da parte que o bus bateu.

  9. Possivelmente, este prédio esteja amparado pela lei municipal do tombamento. Ou seja, não poderá ser demolido, por pertencer ao patrimônio de Porto Alegre. Revitalizar é o caminho. Prá isso, o poder executivo terá que tomar medidas, através de legislação ou negociação com o proprietário. Parabéns, Gilberto Simon. Ótima matéria!

  10. Eu ia falar que, se fosse pra deixar assim, era melhor demolir, mas imaginei ele restaurado e com uma bela pintura ocre e mudei de ideia. Um centro que se denomina histórico não pode ter um único bem histórico demolido.

    • Falou e disse VOP. Nesta terra tudo que se pensa é demolir e construir um cubo bem moderno. Para que conservar se a Europa esta logo ali atravessando o Atlântico com seus prédios históricos e conservados há séculos. É tão marvilhosos postar as fotos tiradas nestes lugares onde tudo é arrumado e cuidado e onde o povo gosta de cultuar o seu passado.

  11. Estacionament, oficina e um local de entreterimento adulto…
    Quer o que?

    Esse prédio é lindo, da pena ver assim, alguem deveria comprar ele, dava pra fazer uma baita loja ali…

    • Não sei se ocupar só com loja seria o melhor uso, ainda mais considerando o tipo de loja que sói sair naquela região. Acho que o ideal seria desapropriar este prédio (e os semelhantes da região) e criar uma iniciativa de revitalização baseada em empreendimentos mistos residencial/comercial.

      Este prédio mesmo, por exemplo, poderia ter uns comércios “amenos” no térreo (padaria, restaurantes, etc) e em cima apartamentos. Poderia ser estudado inclusive remover a laje do terceiro piso, permitindo a criação de lofts bastante autênticos – que são basicamente o sonho de qualquer solteiro. Poderia ter espaços pra escritórios também; designers adorariam coisas retro assim.

      • Concordo, mas… Hahahaha Eu sempre dou risada quando alguem escreve “designers adorariam isso”, “designers adorariam aquilo”. Em tempo: Eu sou designer.

        • Eu também, mas, pelo menos por enquanto, nema pau eu moraria por ai.

          Mas conheço muitos dos meus “colegas” de profissão que adorariam mesmo.

      • Não se pode desapropriar um lugar por ser “feio”.
        Se a sua casa fosse feia, ficaria satisfeito com a prefeitura desapropriando ela?

        Dificilmente sai algo daí… A menos que a região se valorize e alguém compre o terreno para um empreendimento, senão, esquece.

        • E a satisfação do indivíduo desleixado é mais importante que o bem-estar e a segurança de toda uma vizinhança? Se eu tenho uma propriedade e a deixo abandonada, toda fudida, é sinal de que eu não fiz minha parte. Além do mais, a grande parte dessas propriedades degradadas do centro sequer é ocupada pelos proprietários. Eles simplesmente alugam aquele caco pra algum uso porco e estão tirando renda nisso; não é como se eu estivesse propondo expulsar pessoas de sua residência.

          Propriedade tem que cumprir função social; não sou quem está dizendo isso, é a constituição federal.

        • Então acho possível desapropriar:
          – toda a vila dique sem nenhum empecilho,
          – a fabrica de armas na avenida grecia
          – as vilas no morro santa tereza

          eu sou completamente a favor de desapropriar, mas a lei é contra, no BR sempre há uma brecha na constituição.

        • Acho que nao entendeste,jeclecler. As pessoas moram nestas vilas, há uma função social.

        • quatro pessoas acham que residência de uma família não cumpre uma função social.

        • tão lá ilegalmente, não?
          ou eles pagam o iptu e tudo mais? então vou deixar de pagar o iptu sabor moinhos de vento também, já que direitos são iguais para todos.

          e antes que me achem “do mal”, eu sou a favor do que a prefeitura está a fazer, transferindo para um lugar melhor e mais digno.
          agora, ficar lá de cara fechada e não aceitar, pra mim é errado (e não é porque são pobres, vide passagem de nível da anita x moradores).

          infelizmente no brasil a lei foi feita pra se achar brechas e folgar todo mundo que possa pagar um bom advogado.

          a vila tem função social, mas eles também estão descumprindo o bem estar do cidadão, ou achas que deixar lixos acumulados não é empecilho.

          desculpa se nao te entendi direito, mas acho que essa é a ideia que quero passar.

        • A meu ver, o mais correto a ser feito seria um tombamento, e não desapropriação. Mas é claro, o tombamento por si só não serve, assim, a Prefeitura deve garantir recursos para revitalizar a toda a área (e não só o prédio)!

      • Eu não sou designer mas gosto de coisas antigas. Se não fosse pela falta de segurança no entorno um apartamento nesse prédio seria interessante…

    • Respeito a opinião do Guilherme, mas beleza é questão de gosto individual. Não vejo nada de especial nesse prédio, é simples e pobre de linhas. Prédio por prédio, acho realmente bonito aquele da Riachuelo que foi interditado.

Trackbacks

  1. Por que esquecemos do nosso patrimônio histórico | Caos Planejado

Faça seu comentário aqui: