Os donos das ruas, dos bairros e das cidades. Até quando?

No último século, a mudança da ocupação das vias nos grandes centros urbanos teve com principal personagem o carro

Trânsito congestionado em São Paulo e Recife créditos: Divulgação

Trânsito congestionado em São Paulo e Recife
créditos: Divulgação

Mesmo protagonizando o vilão no trânsito, a curva está sempre ascendente. Nos últimos 13 anos, o Brasil passou de 30 milhões de veículos para 70 milhões.

O fenômeno não acontece apenas nos grandes centros. As estatísticas já revelam que em pouco tempo as cidades médias também vão atingir o limite do volume de circulação. Da Zona da Mata ao Sertão de Pernambuco, o percentual de carros aumentou entre 80% e 320% nos últimos dez anos. É o caso de Araripina, no Sertão do Araripe, que passou de 6,9 mil veículos, em 2001, para 29,3 mil, em 2010.

Em Caruaru, o volume de carros quase triplicou saindo de 50,4 mil para 133,2 mil. Em Escada, na Zona da Mata, o percentual foi de 310%. O município passou de 3,1 mil veículos para 12,9 mil. No Recife, na última década a frota cresceu 80%. Os carros ganharam as ruas, literalmente. Quanto mais espaço eles têm, mais se apropriam.

Para dar uma ideia do espaço que o carro ocupa em uma via pública, um estudo apresentado pela Associação Nacional de Transporte Público (NTU) revela que em uma avenida de 3,5 metros de largura com uma média de 900 carros por hora é possível transportar cerca de 1,3 mil pessoas a cada 60 minutos. Se essa mesma avenida fosse ocupada por bicicletas, seria capaz de comportar aproximadamente 4,5 mil pessoas por hora, o que a tornaria três vezes mais produtiva.

Em uma outra hipótese, circulando apenas pedestres, ela teria condições de receber até 13,5 mil pessoas por hora. Se a via fosse ocupada somente por ônibus, a capacidade de transportar também seria de 13,5 mil pessoas por hora. Em quaisquer das comparações, o carro é o menos eficiente.

Especialista em mobilidade urbana, o engenheiro Germano Travassos fez uma análise da ocupação da Avenida Herculano Bandeira, Zona Sul do Recife. Em uma única faixa, o ônibus é capaz de transportar oito vezes mais pessoas do que as quatro faixas destinadas ao automóvel. A faixa exclusiva do ônibus que havia na Herculano Bandeira, no entanto, foi desativada em 2002. “Na época, havia agente de trânsito orientando os motoristas a ocupar a faixa do ônibus”, lembra o especialista.

Com o trânsito congestionado, todo mundo perde. Seja quem está no carro, no ônibus e até a pé. Estudo divulgado em publicação da NTU mostra que, em situações de engarrafamento, o pedestre passa mais tempo para conseguir cruzar as vias. Um percurso de um quilômetro que poderia ser feito em 15 minutos passa a ser cumprido em 25. Somente no Recife, cerca de 3 mil novos carros entram em circulação por mês.

Estima-se que até 2040 a cidade terá sua frota triplicada.. “Não tem como a cidade ter três vezes mais o número de carros. Ninguém vai conseguir sair da garagem”, afirmou o prefeito do Recife, Geraldo Julio.

Autor: Tânia Passos / Blog Mobilidade Urbana

Portal Mobilize Brasil



Categorias:Meios de Transporte / Trânsito

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12 respostas

  1. Em Cidade para Pessoas Jan Gehl fala destes e temas correlatas.
    Sobre preço de metro eh de 4,5 bi de reais o trajeto projetado, dados do pessoal do metro de Madrid. Estes dados de Oderbrecht e cia eh furado.

  2. Planeje uma cidade pensando em carros e você terá… carros!

  3. Repetitivo, mas enquanto não houver transporte público de qualidade, as pessoas não vão largar o carro.

  4. Enquanto as pessoas precisarem se deslocar de um ponto A ao ponto B e usar o automóvel lhes for mais favorável.

  5. E qual dessas cidades tem um bom transporte publico?
    Ágil e confortável?
    Segurança para andar na rua e esperar as vezes mais de 30 minutos em uma parada de ônibus, muitas vezes pegando chuva…
    Ônibus lotados, fedidos, demorados, fazer um percurso que de carro demoraria 15 minutos muitas vezes em mais de uma hora.
    Eu mesmo, pra ir pra casa da minha mãe, ou pego dois ônibus, e demoro quase duas horas, ou caminho alguns quilômetros subindo lombas para pegar um T9 muitas vezes lotado para no final ter que dar mais uma boa caminhada.
    Ainda assim, nas duas opções, acabo numa região onde o crack ta pesado, e ser assaltado é barbada.
    Muitos amigos meus ja tiveram uma arma apontada na cara em plena luz do dia voltando pra casa ou indo para o trabalho.
    E não falo de uma ou duas quadras, falo de alguns quilômetros.
    Alias, seria resolvido se nossa rua fosse terminada, já que alguma administração do passado deixou que construíssem uma favela no fim da rua, da parada do T9 até em casa era apenas duas quadras em linha reta, agora preciso dar uma volta inteira na quadra, que é grande.

    Na vez que fui tentar ir por dentro da favela, me perdi.

    Tem quem goste desse sofrimento todo, mas acredito que a maioria da população brasileira não tem esse mesmo gosto.

    • Até o dia que tivermos transporte publico de qualidade.

      Transporte publico de qualidade, só com metrô.

      Metrô custa 5 bilhões 10km.

      Preciariamos de uns 40km de metrô ao menos: 20 bi.

      Mas também precisariamos de VLT (BRT nem se compara), mais uns 200km.

      VLT custa uns 100 mi o km: mais 20 bi.

      Fora isso precisariamos qualificar os onibus pro resto da capilaridade, instituindo bilhete
      unico (onibus, VLT, metro) e entrada livre (pois a fila da roleta não funciona nesse sistema). Pelo projeto do BRT nota-se que só se tem coragem de fazer entrada livre com paradas fechadas e pagamento antecipado, ao contrario da Europa onde se entra livremente (a parada é aberta) e há verificação de surpresa.

      Logo, tua resposta seria: no dia em que porto alegre tiver:
      – 40 bi pra gastar
      – Um monte de vontade politica e popular pra investir os 40 bi nisto e não em outras coisas urgentes como hospitais, saneamento, segurança, etc…
      – População com educação suficiente para usar um sistema de entrada livre com paradas abertas

      Os 40bi parecem um absurdo, e o primeiro pensamento é achar que não faz sentido visto que há cidades por aí (fora do brasil) que tem trasporte publico de qualidade. Mas é facil explicar: é um seculo de falta de investimento em transporte publico. Outras cidades fizeram isso durante muitas decadas e foram aperfeiçoando depois.

      • Ou seja.
        Largar o carro, só em sonhos.

        Acho que não precisa de tudo isso, uma boa organização no transporte publico já melhoraria muita coisa.

        Mas claro, ainda assim não vai sair barato.

      • Desculpe, sou um defensor ferrenho do transporte ferroviário, mas reconheço que é possível transporte de qualidade por ônibus. Com linhas otimizadas, ônibus maiores, mais confortáveis, com piso baixo e ar condicionado já dão uma boa melhora. Podem não ter a mesma capacidade, mas ao menos oferecem conforto. É a opção para cidades que não tem dinheiro e nem demanda pra metrô ou mesmo um VLT ou BRT.

        E o custo de linhas de metrô não pode ser medido dessa maneira, com uma regra de 3 simples. Existem vários critérios para aumentar ou diminuir o custo, como o método construtivo, o tipo de solo, se é subterrâneo, em superfície, elevado, a profundidade no caso de ser subterrâneo, a altura no caso de ser elevado, a quantidade de desapropriações, as características das estações, o modal utilizado, os sistemas de controle etc.

      • Só diz que o único transporte de qualidade é metrô quem está mal informado ou quer uma justificativa para continuar andando de carro.

        Cidades afora tem excelentes sistemas públicos com ônibus ou VLT. Sobre o último, usei muito em Melbourne (Austrália) e é fantástico.

        Mas para fazer isso tem que parar de despejar dinheiro em transporte individual e investir no público.

    • que favela é essa que tu citas no teu texto?

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