UMA PROPOSTA VIÁVEL PARA O “ESQUELETO”

Estou republicando este post dada a atualidade do tema. O prédio  continua da mesma maneira que estava. E que está há cerca de 60 anos.  O post original foi ao ar no dia 5 de outubro de 2010.

Nesta quinta-feira, dia 13/04, ao meio dia, fui almoçar no Chalé da Praça XV, tradicional restaurante do Centro Histórico de Porto Alegre. Na ocasião, sentado na área externa, vi aquela paisagem. Até fiz uma postagem no meu Facebook pessoal: “Almoçando no Chalé. Esta vista poderia ser melhor né?” Ali está ele, intocado, há 60 anos. É deprimente. Sabemos que uma série de problemas impedem (ou dificultam) a sua recuperação. O prédio é depósito de produtos falsificados e drogas de todos os tipos. Alguém não quer que ele seja reformado ou mesmo demolido. É muito cômodo como está. E também muito rentável para alguns. Não visualizo perspectivas, infelizmente.

Aqui está a imagem que postei:

Foto: Gilberto Simon

Pois agora, vamos ao post que tem este grande projeto do Arquiteto Marcelo Gotuzzo, que cedeu o direito de publicação ao Blog.

_____________________________

UMA PROPOSTA VIÁVEL PARA O “ESQUELETO”

Uma cidade que tem um prédio inacabado como este da foto abaixo, enfeiando o local há mais de 50 anos, e nada faz para mudar a situação, é uma cidade que não tem auto-estima, que não tem cuidado algum com seu centro, a parte mais historicamente importante da cidade.

Diversos projetos estão em andamento atualmente (isso era 2010, não esqueçam), demonstrando uma tendência de mudança nesta situação. Aplaudimos muito iniciativas como a da nova Praça XV, o novo Chalé da Praça XV, a ampla reforma da Praça da Alfândega, as mudanças no Largo Glênio Peres, Mercado Público, Cais do Porto, e continuamente estamos presenciando reformas e adequações nos prédios do centro.

Marcelo Gotuzzo

Hoje temos aqui uma novidade muito interessante:

Apresentamos o trabalho realizado pelo arquiteto Marcelo Gotuzzo que desenvolveu, no seu trabalho final de graduação, um projeto de “retrofit” para o prédio do “esqueleto”.

Um projeto totalmente viável, coerente com a atual discussão de construções mais sustentáveis para as cidades.

“No século XXI, os centros históricos da América Latina estão caracterizados pela crescente concentração do comércio, serviços e finanças, pelo congestionamento do trânsito, sua deterioração e descaracterização e, às vezes, pela destruição do patrimônio arquitetônico. Muitos dos centros históricos das cidades de porte médio e das metrópoles, em especial, apresentam um crescente número de edificações desocupadas e deterioradas. Diante disso, formularam-se programas e projetos na escala nacional, estadual e local com o propósito de requalificar o centro urbano, restaurar, reabilitar e reciclar as edificações existentes nos centros históricos, bem como sua ambiência…” (*)

(*) Trecho extraído de “DOCUMENTAÇÃO E ANÁLISE DA RECICLAGEM E REQUALIFICAÇÃO DOS EDIFÍCIOS MARIA PAULA, RISKALLAH JORGE E BRIGADEIRO TOBIAS NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO PAULO. Arq. Rosío Fernández Baca Salcedo. Anais do Sétimo Seminário DOCOMOMO Brazil. Porto Alegre. 2007.

_________________________________

O QUÊ

Reciclagem de edificação. De construção inacabada, o prédio conhecido como “Esqueleto da Praça XV”, teve sua construção iniciada na década de 1950. Possui 19 pavimentos de concreto armado, com mais de 6.000 m² de área construídos.

O projeto Centro Comunitário Autônomo Autogéré propõe um programa arquitetônico diversificado e complementar: com a instituição comunitária e habitação.

Esta última colabora no sentido de pertencimento das comunidades com este lindo bairro, que abriga parte do legado arquitetônico e histórico dos gaúchos.
Como referência a este projeto vê-se diversos Centros Comunitários Autônomos europeus e norte-americanos, que através da auto-determinação popular recuperam – parcial ou completamente – edificações decadentes e desocupadas. Nestes locais ocorrem projetos inclusivos diversos.

ONDE

Localiza-se no coração do Centro Histórico de Porto Alegre. Em suas proximidades encontram-se a Praça XV, o Mercado Público, o Paço Municipal, os Armazéns do Cais do Porto, entre outros importantes equipamentos culturais, institucionais e comerciais da cidade.

COMO

No projeto de reciclagem mantém-se grande parte do concreto armado original (laudo técnico recente atesta a viabilidade do uso desta estrutura, o que significa uma redução do custo da obra). Somam-se, a esta estrutura original, novos elementos em estrutura metálica, com fechamentos leves e pré-fabricados. Estas adições são conectadas externamente de forma sutil ao corpo da edificação original. Este tipo de construção possibilita uma obra limpa, segura e rápida, além de fazer uma clara distinção entre o novo e a estrutura pré-existente.

Programa arquitetônico, que totaliza mais de 10.513 m² de área construída, sendo 6.800 m² na habitação e 3.713 m² no Centro Comunitário Autônomo.

A habitação, de acesso independente, possui unidades de 1 dormitório. O Centro Comunitário Autônomo, com acesso no eixo da rua José Montaury, oferece diversificadas atividades. Foram previstos no térreo um hall amplo com lancheria e área aberta de descanso / contemplação, tudo de uso público. Também no térreo, sob a área da habitação, há 04 lojas e 02 restaurantes junto ao passeio público da Av. Otávio Rocha. Estes espaços, com grande potencial comercial, serão geridos pelo Centro Comunitário.  No Mezanino está a administração do Centro Comunitário. Logo acima do mezanino são 8 pavimentos com 3.600 m² de salas multiuso com possibilidade de diferentes arranjos, além de biblioteca, auditório, enfermaria e terraço público que convivem com  projetos de autonomia alimentar, providos de hortas hidropônicas. No projeto arquitetônico está previsto um sistema de proteção à exposição do sol nas fachadas norte e oeste.

Veja abaixo, uma série de imagens:

 




 

Autor do projeto: Marcelo Gotuzzo – Arquiteto e Urbanista / UFRGS



Categorias:Arquitetura | Urbanismo, Prédios, Restaurações | Reformas, Retrofit

Tags:, , , ,

16 respostas

  1. Se for pra piorar melhor “deixar quieto”.
    Já vejo a cena: centro comunitário com oficinas de pandeiro, capoeira, oficina disso e daquilo; auxílio isso ou aquilo… que tipo de público querem trazer para movimentar a economia do Centro ? Essas propostas citadas no projeto não geram investimentos privados.

    Temos que ser realistas ou nada melhorará. De habitação popular com hortas hidropônicas já temos experiência falida o suficiente na ocupação anarquista na Borges de Medeiros( e mais outras no centro), atrai universitários sem grana em busca de cerveja barata e usuários de cannabis. Baixou o preço dos imóveis ao redor, nunca vi tanta placa de “vende-se” na zona, moradores antigos apavorados.

    Quanto ao esqueletão(Ed.Phoenix) em si… há moradores sazonais por lá, a droga circula solta, temos o QG do crime montado na área. Se tocarem nisso haverá reação por parte dos “antibala” que dominam o centro e o aluguel de espaços para ambulantes e outros “trabalhadores”.

    Não vejo a proposta como credível para atrair investidores ou realista para melhorar a região. A tal remodelação para o centro atrair 45 mil moradores de classe média e trazer de volta consumidores vai mal, não dá o menor sinal de vida e provavelmente não acontecerá.

  2. Podiam pelo menos demolir os 10 andares superiores que estão desocupados e só tem o esqueleto mesmo e fazer uma força tarefa pra rebocar, pintar e colocar janelas nos andares inferiores.

    Já que nunca vão tirar aquela escória dali, pelo menos diminuiria a feiúra.

  3. Só uma força-tarefa resolve. Um projeto.

  4. Belo trabalho, fui o orientador.

  5. Centro Comunitário? Essa ideia só poderia ter surgido na UFRGS mesmo (e o IAB-RS deve ter ido à loucura com a ideia comunitária). Mas o projeto do retrofit é bom, sem dúvida, só que a proposta viável na verdade é uma tal em que o dono reforme o prédio em parceria com alguma construtora e então venda as unidades – sejam comerciais ou residenciais – a quem quiser comprar. Simples, não sei como deixam o patrimônio deles se deteriorar desse jeito.

  6. Porto Alegre precisaria … de investimento pesado, pela iniciativa privada ..
    Uma capital , com a nossa , estar assim abandonada .
    Como pode o prefeito João Doria em SP esta conseguindo aos poucos em mudar essa situação , e o nosso não anda encontrando solução para resolver essas questões ?

    • Os políticos gaúchos tem ainda aquela mentalidade antiga de que, se receberam votos, então são os donos da cidade e podem fazer o que quiser dela. Já o Dória tem consciência que ele é apenas um administrador da vida cotidiana e que são as pessoas é que são donas da cidade.

  7. Na av érico verissimo, quando comecei a trabalhar em poa em 2010 havia um esqueletao bem antigo, em 2014 ele passou a ser re-construido, hoje ha um espaço comercial bastante interessante la.
    É claro que nao era uma área invadida igual o prédio da postagem.
    Foto do esqueletao
    https://www.google.com.br/maps/@-30.0551418,-51.218426,3a,75y,113.31h,99.1t/data=!3m7!1e1!3m5!1sHQDin7eiPlVGfPkcarm5xQ!2e0!5s20110701T000000!7i13312!8i6656?hl=pt-BR

    Foto do prédio novo quase pronto
    https://www.google.com.br/maps/@-30.0552471,-51.2184145,3a,75y,103h,110.42t/data=!3m7!1e1!3m5!1sBQm10BVf-1S_aVQLeRhBjQ!2e0!5s20160401T000000!7i13312!8i6656?hl=pt-BR

  8. Pergunta idiota, o iptu e qualquer outro imposto/taxa desse prédio estão em dia?

    Se não estão, desapropriação e venda do prédio para quem se comprometa a resolver esse problema.

    • é bastante logico o pensamento, pena que nao é facil assim.

      Ouvi falar e creio que ja li sobre esse predio inacabado inicialmente ter sido ocupado pelos proprietarios que compraram apartamentos antes da construtora falir.

      Hoje nao sei quem ocupa mas provavelmente ainda existam proprietarios de unidades la.

      Sinceramente, é bem dificil conciliar tudo mas nada de impocivel, basta alguem com muita boa vontade tocar a ideia para alguem que tem muito dinheiro bancar.

  9. Quem é o dono do prédio? não entendo porque as pessoas tem fixação com esse prédio, deixa ele lá e pronto

    • Porque é uma das coisas mais horríveis que tem no centro de Porto Alegre. Resultado de décadas de descaso com a cidade. Vc é cego? Ou não gosta da cidade?

      • Existem problemas maiores na cidade do que a beleza ou não de propriedade privada

      • Pantaleao
        Não é porque existe outros problemas que devemos focar unicamente neles e ignorar todo o resto.
        Queremos absolutamente tudo perfeito
        O blog discute assuntos diversos relacionados com Porto Alegre e esse prédio inacabado no centro da cidade é feio e sem utilidade. Poderia se transformar em algo melhor.

      • Sem contar que poluição visual faz mal pra saúde.

Faça seu comentário aqui: